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Quero aqui fazer duas coisas: defender uma tese radical sobre a América e replicar o artigo “Os EUA já não são uma força global pelo bem”, em tradução do The New York Times divulgada pela Gazeta do Povo. 

Primeiro, a tese radical: a América é o império mais pacífico que a História humana já viu e a famigerada “pax americana” é uma dádiva geopolítica provavelmente incomparável também em proporção histórica. 

Defendo-me: um império se faz à base de dominação política, militar, cultural-científica e econômica. A América domina todos esses campos com folga. No aspecto militar, poderia subjugar qualquer país do planeta sem maiores dificuldades, continentes inteiros poderiam ser colônias americanas nesse momento. Mesmo assim, esse não é o caso até mesmo nos países cuja presença militar americana é constante; o Iraque pós-2003 não virou uma colônia americana e por mais frustrada que tenha sido, o que se tentou ali foi estabelecer uma democracia. 

Não afirmo que a América faça isso por bondade, mas porque seus interesses imperialistas convergem, pari passu, com a manutenção (ainda que, às vezes, relativa) das soberanias nacionais dos demais países do globo. Isso, por si só, já alça o imperialismo americano a uma condição única (e desejável) na História. 

As vontades imperialistas vorazes de China e Rússia são exemplos vivos do que digo, uma eventual substituição da pax americana por uma pax russa ou chinesa (ou, pudera, islâmica!) nos faria rememorar o terror dos antigos impérios (julgo que parte dos que criticam a posição de supremacia americana façam isso com ciência do que digo aqui, outros, o fazem por puro desconhecimento de História humana, crendo que eventual derrocada do império americano implicaria em algum tipo de “paz perpétua” kantiana), onde simplesmente não haveria a paz que temos hoje e tampouco o conceito de soberania nacional. 

Dessa forma, a América é o império mais pacífico já visto até hoje. Desnecessário ressaltar que ser o mais pacífico não significa absolutamente pacífico, portanto, réplicas como “e o Iraque?”, “e a Síria” (intervenção perpetrada por um dos presidentes mais antiamericanos de todos os tempos) não refutam minha tese. 

Algum belicismo sempre haverá, a questão é quanto e como. E minha tese não se compromete com uma aceitação tanto a priori como a posteriori das ações externas dos EUA – a priori estou ao lado da América em suas medidas de política externa, a posteriori uma análise caso a caso sempre se faz necessária: retroativamente falando, a operação no Iraque foi um erro, o mesmo para a Líbia e a Síria e não diria isso sobre o Afeganistão, por exemplo. 

Segundo, o artigo. Não sem antes chamar a atenção para o fato de que os que agora lamentam a suave “saída de cena” americana de certos cenários internacionais (“clima”, “direitos humanos” – eufemismos para controle global) com o início da era Trump são os mesmos que há pouco entoavam os mais fervorosos hinos antiamericanos. 

Logicamente, só poderíamos deduzir que louvariam o fato da tendência mais isolacionista do governo Trump (que ainda não atingiu os níveis desejados por Ann Coulter, por exemplo), mas parecem que na cabeça dessa gente a América joga apenas um jogo de perde-perde: caso intervenha, erra, caso se isole, também erra. 

Fato é que o governo Trump está descontruindo a política de Obama de enfraquecimento de aliados (Israel) e potencialização de inimigos (Irã) e isso nem é contradição com a política do “America First” e tampouco com o propalado isolacionismo, visto que tornar a fortalecer aliados da América é claramente um movimento de interesse nacional americano e tampouco é prova de que os EUA não são mais uma “força para o bem”. 

As elites se acostumaram demais aos ares rarefeitos de seu pedestal moral distante da realidade, sendo que nesse reino hiperbóreo a América só pode ser uma força para o bem no mundo se seguir as diretrizes globalistas da ONU, abaixar a cabeça para a União Europeia, render suas armas e financiar o “fim” (na verdade uma diminuição estimada de 0,2ºC em 100 anos se os 200 países do mundo colaborarem) do aquecimento global em poluidores contumazes como China e Rússia, conforme rezava o Acordo de Paris. 

O que o artigo de Susan Rice faz, em resumo, é sintetizar toda a balbuciante argumentação anti-Trump, que pouco mudou após um ano de presidência, a despeito do índice de desemprego mais baixo nos últimos vinte anos (inclusive entre latinos e negros), recordes da Dow Jones, altas previsões de crescimento e retorno de capital estrangeiro para o país. Após 365 dias governo, os maus perdedores ainda querem emplacar a cantilena (já provada falsa) de “colusão” com a Rússia, colar a pecha de nazista no homem que tem netos judeus e se mostrou o mais firme aliado de Israel dos últimos anos e usar o fato de suas promessas de campanha estarem a ser cumpridas contra ele próprio! 

Fato é que quando a América é forte, os inimigos dos valores ocidentais pensam duas vezes antes de agir, pois sabem que sentado na cadeira mais importante do mundo está alguém disposto a defender os valores que, em maior ou menor grau, todos defendemos e que qualquer ato impensado não será respondido com um muxoxo ou com uma coletiva de imprensa, mas com ação de mesma (ou maior) força, criando uma espécie de nova “paz armada”. 

Não apenas Kim Jong-un, rei do blefe, mas os demais líderes mundiais sabem que, se agirem temerariamente contra os interesses da América terão de arcar com a retaliação da maior potência que o homem já viu. Não consigo ver garantia de paz mais sólida.

André Assi Barreto é professor de Filosofia das redes pública e privada do Estado de São Paulo, tradutor e assessor editorial das editoras Linotipo Digital e Armada

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