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O programa de rádio de Jones é transmitido por cerca de 160 estações. Ele obteve 1,3 bilhão de visualizações no YouTube. | Divulgação
O programa de rádio de Jones é transmitido por cerca de 160 estações. Ele obteve 1,3 bilhão de visualizações no YouTube.| Foto: Divulgação

Quando Donald Trump telefonou para o programa de rádio de Alex Jones, durante as primárias presidenciais republicanas, ele disse ao apresentador conhecido como um proeminente divulgador de teorias da conspiração sobre o 11 de setembro que sua reputação era “incrível”. Quando Trump acusou a mídia de acobertar ataques terroristas, em fevereiro, o presidente parecia ecoar uma teoria da conspiração promovida pelo site de Jones, Infowars

E quando Trump estava se preparando para dar seu primeiro discurso a uma sessão conjunta do Congresso, o Infowars de alguma forma teve acesso aos tópicos do discurso horas antes de o secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, compartilhá-los em uma entrevista coletiva com repórteres. 

Se Trump compra o que Jones diz no ar ou publica em seu site, o presidente está sendo enganado por um “artista performático”, 

É assim que o advogado do próprio Jones se referiu a ele em uma recente audiência de conciliação em um processo de guarda infantil, de acordo com o jornal Austin American-Statesman. 

“Ele está interpretando um personagem”, o advogado Randall Wilhite disse a respeito de Jones. “Ele é um artista performático.” 

O argumento — cujo objetivo era, acredite, ajudar Jones a ganhar a custódia de seus três filhos — constitui uma admissão de que ele não acredita realmente em todas as maluquices que diz. 

E eu realmente quero dizer maluquices. A minha afirmação favorita de Jones é a de que o governo está revestindo caixas de suco com estrogênio para tornar meninos gays. Jones também afirmou que o governo tem o poder de controlar o clima e o usa como uma arma, e que o tiroteio em massa de crianças na Escola Elementar Sandy Hook em 2012 foi uma farsa desenhada para aumentar o apoio a leis de controle de armas. 

Há um mercado para esse tipo de coisa. O programa de rádio de Jones é transmitido por cerca de 160 estações. Ele obteve 1,3 bilhão de visualizações no YouTube. 

Um jornalista da Der Spiegel, a revista alemã, fez um perfil de Jones em fevereiro e noticiou que seu “Centro de Comando Central Texano” conta com quatro estúdios e que “equipamentos de última geração dão a sensação de que eles são parte de uma rede nacional de TV a cabo.” 

“Centro de Comando Central Texano” de Jones conta com quatro estúdios e “equipamentos de última geração dão a sensação de que eles são parte de uma rede nacional de TV a cabo.” Divulgação

Arquivos do processo de custódia infantil indicam que Jones paga 43 mil dólares por mês em pensão alimentícia à sua ex-esposa – o que sugere que sua retórica delirante (e todo seu acompanhamento masculino) lhe deu algum nível de sucesso financeiro. 

A afirmação de Jones de que ele está meramente “interpretando um personagem” no ar, cria a aparência de que ele é um oportunista que explora a paranoia de pessoas na extrema-direita. Também o alinha com a observação de outros. 

“Jones não é maluco”, Veit Medick, o repórter da Der Spiegel que fez seu perfil, escreveu.

“Ele é culto, sabe como fazer sua pesquisa e sabe um tanto sobre política internacional. Quando o microfone está desligado, seu discurso às vezes soa tão seco quanto o de um membro da Comissão Europeia. Mas quando o microfone está ligado, ele entra no seu papel e se torna furioso.” 

A aliança de Trump com Jones pode ser motivada por oportunismo, também. Durante a campanha, Trump dominou a arte de emprestar credibilidade a teorias da conspiração sem efetivamente subscrever a elas — aparentemente como uma maneira de apelar a eleitores extremistas. 

Em maio do ano passado, por exemplo, Trump disse ao Washington Post que o suicídio de Vince Foster, um advogado da Casa Branca sob Clinton, em 1993, foi “muito suspeito”. 

“Não levanto isso porque não sei o suficiente para realmente discutir isso”, disse Trump. “Só vou dizer que há pessoas que continuam a levantar isso porque acham que foi certamente um assassinato.” 

As “pessoas que continuam a levantar isso” incluem Jones, cujo site traz o nome Foster ao lado de 80 outros em uma lista do “saldo de mortes dos Clinton”. 

Trump pode não acreditar que os Clinton assassinaram Foster, mas ele queria os votos das pessoas que acreditam. Jones pode não acreditar também, mas ele quer a atenção — e o dinheiro — das pessoas que acreditam. Essa é a clara conclusão a se tirar desse processo judicial.

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