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Michael Wolff, autor de “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (Fogo e Fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump, em tradução livre) | Andrew Harrer/
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Michael Wolff, autor de “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (Fogo e Fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump, em tradução livre)| Foto: Andrew Harrer/ Bloomberg

Em fevereiro passado, quando a presidência de Trump estava acabando de decolar, Brian Stelter, da CNN, convidou o crítico de mídia Michael Wolff para seu show Reliable Sources (Fontes Confiáveis, em tradução livre) para um estranho bate-papo. 

Wolff havia disparado em uma coluna recente de Newsweek sobre a “apoplexia” da mídia a respeito do 45º presidente, especificamente apontando Stelter por levar a seu show, a cada semana, nas palavras do autor, um “sermão piedoso sobre a perfídia de Trump”. 

“Espero ter pronunciado isso corretamente”, brincou Stelter em uma passagem desajeitada. “Você acha que meu estilo é errado ou meu conteúdo é errado, por tentar checar os fatos com o presidente?” 

Wolff, elegante em um terno bem cortado, com lenço no bolso e com óculos de armação grossa, não se esquivou. “Eu quero dizer isso, sinceramente, sem nenhum desrespeito, mas eu penso que você pode estar no limite de ser uma figura ridícula”, disse ao anfitrião. “Não é bonito defender seu próprio interesse repetidamente e de maneira autojustificada. A mídia não deveria ser a notícia.” 

O momento televisivo – aterrizando um golpe certeiro em um peso-pesado da mídia em seu próprio show – foi um Wolff clássico. Mas também foi um pequeno prenúncio. Quase um ano depois, o próprio Michael Wolff está em muitas notícias dessa semana. 

Na quarta-feira, o Guardian vazou partes do novo livro de Wolff, “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (Fogo e Fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump, em tradução livre), que deveria chegar às livrarias no dia 9 de janeiro, mas foi lançado quase uma semana antes. A New York Magazine seguiu o fato e publicou um longo trecho.

Baseado em entrevistas e informações de bastidores, o livro apresenta um retrato das entranhas bagunçadas da administração Trump. Os trechos atingiram o noticiário como um raio, dominando a conversas da televisão e da internet com as revelações de Wolff sobre a vida dentro do círculo de amizades de Trump – um grupo de pessoas que, em primeiro lugar, nunca esperou ganhar a presidência, segundo a narrativa de Wolff. 

Credibilidade em xeque

Mas o buzz das notícias também se voltou contra o autor. Wolff construiu sua carreira jogando bombas críticas a partir de páginas de revistas prestigiadas, como New York e Vanity Fair. Conforme Paul Farhi, do The Washington Post, escreveu na quarta-feira, ele também está sendo acusado por críticos de “forçar os fatos tão longe quanto eles podem ir, e às vezes mais longe do que eles podem tolerar”.

A credibilidade do livro já começou a ser atacada, tanto por repórteres com longa experiência dentro da administração quanto por apoiadores de Trump, como Alex Jones

O questionamento constante sobre as revelações do livro certamente chamarão mais atenção – e levarão a vender mais livros – para Wolff, que, no espaço de um dia, não apenas inflamou o círculo de notícias, mas também pode ter preparado o palco para uma guerra civil entre Trump e o ex-conselheiro Steve Bannon, embora o próprio Bannon tenha declarado na noite de quarta-feira que irá apoiar Trump e que o considera um “grande homem”

Wolff é uma mistura da mídia old-school de Nova York e o mundo ponto.com. Seu principal assunto ao longo dos anos tem sido pessoas com muito dinheiro e poder e suas tentativas sem fim de reinventar os negócios das notícias e do entretenimento. 

“Wolff é a criação quintessencial de Nova Iorque, fixado em cultura, estilo, buzz, e dinheiro, dinheiro, dinheiro”, escreveu Michelle Cottle em 2004, em um perfil na New Republic. “Parte colunista de fofoca, parte psicoterapeuta, parte antropólogo social, Wolff convida os leitores a serem uma mosca na parede do refúgio secreto dos poderosos.” 

Escrevendo para o Atlantic Monthly, Eric Alterman tem menos caridade, definindo Wolff como “um retratista que dominou a arte da crítica bajuladora”. 

Suas colunas sobre fofocas na mídia ganharam renome. Wolff ganhou duas vezes o National Magazine Award como comentarista, em 2002 e 2004. Mas sua reputação nos círculos de jornalismo não são à prova de balas. Críticas abalaram o escritor no passado por preencher os espaços de sua coluna com recriação imaginária em vez de relatos reais. “Historicamente, um dos problemas com a onisciência de Wolff é que, ao passo que ele pode saber de tudo, ele entende errado algumas coisas”, escreveu David Carr em 2008, em uma resenha no New York Times sobre o livro de Wolff sobre Rupert Murdoch, também de 2008. 

“Seu grande dom é parecer ter acesso íntimo”, um editor disse a Cottle em 2004. “Ele é hábil em fazer com que o leitor pense que ele passou horas e dias com seu entrevistado, quando, na verdade, ele pode não ter passado tempo algum.” Outro ex-colega disse: “Ele certamente fez muitas coisas erradas, mas ele nunca ficou sem inspiração… Você tem que admirar sua coragem.” 

Mas Wolff também foi duramente criticado por destruir reputações em suas matérias ao mesmo tempo em que fazia comentários provocativos. “Wolff explora a tendência humana de confundir sinceridade e crueldade com falar a verdade”, escreveu o crítico de mídia Jack Shafer na revista eletrônica Slate em 1998. “E relembrando o leitor repetidamente de que ele é desonesto e sacana, ele procura inflar sua própria credibilidade.” 

Como Paul Farhi, do The Post, escreveu esta semana, credibilidade foi um assunto repetido. O primeiro best-seller de Wolff, “Burn Rate: How I Survived the Gold Rush Years on the Internet” (Velocidade de combustão: como sobrevivi aos anos de corrida de ouro na internet, em tradução livre), caiu nas críticas depois que a Brill’s Content encontrou uma dúzia de indivíduos que constestavam declarações no livro. Mais tarde, quando assinava regularmente uma coluna para a revista New York, a editora de livros Judith Regan chamou de tola uma coluna que Wolff escreveu sobre ela, assim como o fez Andrew Sullivan. Ambos constestaram descrições de Wolff sobre eles. 

No entanto, essas acusações não descarrilaram a carreira de Wolf, e em Trump – o magnata sem censura de Nova York – o autor encontrou um assunto que encapsula muitos dos temas e assuntos que mantiveram sua caneta ocupada por toda sua carreira. Em suas colunas e aparições na televisão ao longo do último ano, Wolff repetidamente criticou a mídia por perder a história de Trump – o conto que seu livro procura explicar. 

“Essa é a mais extraordinária história do nosso tempo”, afirmou Wolff à CNBC depois de novembro de 2016. “Chegou a hora de ouvir essas pessoas. Elas ganharam.” 

Tradução de Paola Bello

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