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Trump: agora adorado por quem o detestava | Jim Watson/AFP
Trump: agora adorado por quem o detestava| Foto: Jim Watson/AFP

Ouvir ao senador Marco Rubio, da Flórida, e outros principais políticos republicanos do Senado opinarem sobre as duas reações muito diferentes do presidente Donald Trump ao ataque químico mortífero que aconteceu na Síria nesta semana é o mesmo que ouvi-los comentando sobre dois presidentes completamente diferentes.

Dos dois, o anti-intervencionista é o presidente que eles desprezam. Agora, o primeiro presidente a lançar ataques militares diretos contra a Síria desde que começou a sua guerra civil – este sim é um presidente que eles conseguem apoiar.

As ações de hoje mostram que os dias em que Assad poderia atacar com impunidade já são passado

Marco Rubio Senador da Flórida

“As ações de hoje mostram que os dias em que Assad poderia atacar com impunidade já são passado”, disse Rubio a Anderson Cooper, da CNN.

Alguns dias atrás, a administração Trump parecia contente em permitir que o presidente sírio Bashar al-Assad continuasse no poder. Dias antes do ataque com armas químicas, o Secretário de Estado Rex Tillerson disse que o destino de Assad repousava nas mãos do seu povo. E, na quarta-feira, Rubio acusou Tillerson de ter fornecido “incentivos” para Assad supostamente lançar um ataque com armas químicas contra sua própria população.

Na quinta-feira, o presidente lançou 50 mísseis contra o governo de Assad. “É parte do interesse nacional vital dos Estados Unidos evitar e deter a disseminação e uso de armas químicas letais”, disse Trump, soturnamente, numa declaração feita em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida.

Diferentemente do que aconteceu na administração anterior, o presidente Trump confrontou um momento crucial na Síria e tomou uma atitude

John McCain e Lindsey Grahamsenadores pelo Arizona e Carolina do Sul, respectivamente, numa declaração conjunta

Essa não foi uma mudança notável só porque se trata de um presidente atraído pela ideia de afastar os EUA dos assuntos globais. Seria um momento dramático para qualquer presidente dos EUA, quem quer que ele fosse. Os mísseis lançados na quinta-feira contra uma base aérea síria foram o primeiro ataque militar norte-americano no país desde que começou a sua guerra civil seis anos atrás.

E os republicanos veteranos do partido, que vieram antagonizando Trump nas questões de política externa, adoraram.

“Diferentemente do que aconteceu na administração anterior, o presidente Trump confrontou um momento crucial na Síria e tomou uma atitude”, afirmaram os senadores John McCain, do Arizona, e Lindsey Graham, da Carolina do Sul, numa declaração conjunta. Nem mesmo os democratas de alto escalão do partido o criticaram de imediato.

Segue uma declaração do senador Richard Durbin, de Illinois, o democrata número dois do Senado: “Minha avaliação preliminar pela Casa Branca indicou que essa foi uma resposta controlada à atrocidade do uso de gás neurotóxico na Síria”.

Eu aplaudo o presidente Trump por ter tomado uma atitude decisiva após o último ataque com armas químicas. É crucial que Assad saiba que não poderá mais desfrutar de impunidade pelos crimes horrendos cometidos contra seus próprios cidadãos

Bob Corkerpresidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado

Na madrugada de quinta-feira, a validação definitiva partiu de uma declaração do senador Bob Corker, do Tennessee, que preside o Comitê de Relações Exteriores do Senado: “Eu aplaudo o presidente Trump por ter tomado uma atitude decisiva após o último ataque com armas químicas. É crucial que Assad saiba que não poderá mais desfrutar de impunidade pelos crimes horrendos cometidos contra seus próprios cidadãos, e esse gesto foi proporcional e adequado”.

É difícil enfatizar o quanto essas reações por parte dos republicanos diferem total, completa e plenamente das suas reações às políticas de Trump na Síria assumidas no começo da semana.

Na quarta-feira de manhã, McCain, presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado e um dos principais antagonistas de Trump, veio à CNN caracterizar o comentário de Tillerson de que o destino de Assad estava nas mãos dos sírios como “uma das declarações mais incríveis que eu já ouvi”.

O senador Rob Portman, de Ohio, também membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado, fez uma declaração em resposta ao ataque com armas químicas que parece que ele queria que Trump tivesse lançado. Nela, havia uma sugestão nada sutil para que Trump mudasse seu comportamento: “Não podemos nos dar ao luxo de cometer o mesmo erro duas vezes”.

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É possível que o estardalhaço das críticas dos republicanos a Trump o tenha colocado numa posição difícil – ou, no mínimo, elas destacaram o abismo que o separa do seu partido quando o assunto é política externa. Como escreveu Greg Jaffe, do Washington Post, sobre como era a visão de mundo de Trump até a última quinta-feira: “o ataque com armas químicas na Síria apresenta um problema em particular para a filosofia da política externa de Trump. O ataque cometido pelas forças de Assad ofende os valores norte-americanos e viola normas internacionais bem estabelecidas, mas não representa uma ameaça direta à segurança dos EUA ou aos seus interesses econômicos. Num mundo de ‘a América primeiro’, isso é uma atrocidade, mas não um momento de convocação para ação militar para os EUA e seus aliados”.

Por volta da tarde de quarta-feira, McCain e Rubio haviam soltado as suas farpas, e Trump disse, vagamente, numa conferência de imprensa, que a sua atitude em relação à Síria havia “mudado”. Até ele lançar os ataques militares, nós não sabíamos ao certo o que o presidente queria dizer com isso.

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Agora os principais senadores republicanos preocupados com a morte, a destruição e a instabilidade causadas por um presidente sírio que não responde aos EUA parecem muito aliviados por Trump ter passado para o lado deles.

É claro que a mudança de ideia súbita de Trump quanto às políticas em relação à Síria não irá aproximá-lo de todos em seu partido. O senador Rand Paul, Kentucky, cuja política externa costuma estar alinhada ao secto mais libertário e anti-intervencionista do partido, lembrou Trump do fato de que é o Congresso e não a Casa Branca que tem o poder de autorizar o uso de força militar.

Segundo exige a Constituição, o presidente precisa de autorização do Congresso para realizar ações militares.

Esse é um problema que Trump deverá enfrentar nos próximos dias – e que o seu antecessor nunca bem conseguiu resolver. Mas, pelo menos, ele enfrentará isso agora contando com o apoio dos principais membros republicanos do Congresso.

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