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Repórter do Wall Street Journal, Jay Solomon. | C-SPANAssociated Press
Repórter do Wall Street Journal, Jay Solomon.| Foto: C-SPANAssociated Press

O Wall Street Journal demitiu o correspondente de negócios internacionais Jay Solomon por uma boa razão. Ele negociou com um empresário internacional que também era uma de suas fontes. 

O acordo que causaria um curto-circuito em qualquer grupo de jornalistas com parâmetros éticos: segundo a investigação, Solomon negociava com Farhad Azima, um magnata que já foi investigado pela Associated Press recentemente. Como parte dessa história, a AP viu os emails entre os dois , um cidadão americano nascido no Irã com raízes nos negócios de carga aérea. Foi descoberto que seu avião levou armas para vários pontos críticos do mundo, incluindo o Teerã durante a época do Irã-Contra e a Croácia. Ainda que Azima tenha falado para um jornal que nunca trabalhou para a CIA, é conhecido que ele pode ter sido contratado para trabalhar para a agência.  

De acordo com a AP, os ex-agentes da CIA Gary Berntsen e Scott Modell disseram que Solomon discutiu acordos de negócios com Azima no mesmo tempo que lidava com ele como fonte para reportagens. Ainda que digam que Solomon recuou, eles não forneceram evidências do fim, relata a AP.  

“Estamos consternados com as ações e falta de julgamento de Jay Solomon”, disse Steve Severinghaus em nome do Wall Street Journal. “Enquanto nossa própria investigação continua, nós concluímos que Solomon violou suas obrigações éticas como repórter, assim como nosso padrão”. 

 Sobre seu ponto de vista, Solomon disse: “eu claramente cometi erros no meu jornalismo e entrei em um mundo que eu não entendia. Nunca entrei em nenhum negócio com Farhad Azima, nem quis entrar. Mas eu entendo por que os emails e conversas que tive com o Sr. Azima parecem que estava envolvido em atividades problemáticas. Eu peço desculpas para meus chefes e colegas do jornal, que sempre foram incríveis comigo”.  

Ele está certo sobre a aparência de atividades problemáticas. “Nossas oportunidades de negócio são promissoras”, escreveu Solomon para Azima por SMS em outubro de 2014. Sobre isso, a AP disse: “o relacionamento entre eles foi descoberto em entrevistas e documentos que, segundo o advogado de Azima, foram roubados por hackers”.  

Um email de abril de 2015 indica que Solomon foi escalado para atuar como negociador entre Azima e um representante dos Emirados Árabes Unidos em algo que a AP define como “uma operação aérea de U$S 725 milhões, que inclui um contrato vigilância e suporte de reconhecimento com os Emirados Árabes que permitiria que os aviões espionassem nas redondezas do Irã”.  

E o blog de Eric Wemple se questiona se podemos participar de almoços promovidos por empresas.  

Mas de verdade: é assustador. Um erro comum de jornalistas em seus furos é ficar muito envolvido com as fontes. As conversas por telefone, os almoços, emails, mensagens – isso deixa o repórter muito próximo do mundo que ele cobre. A linha está ali, pronta para ser cruzada. Não é difícil achar transgressores. Veja Roger Ailes, âncora do Fox News por duas décadas, sempre aconselhando os políticos republicanos em suas carreiras – parte da sua vida profissional anterior. O fundador da TechCrunch, Michael Arrington, anunciou em 2011 que investiu em companhias sobre as quais falava no site. Sean Hannity, também da Fox News, ajudou em um anúncio do presidente Donald Trump.  

Mas esses lapsos documentados de Solomon alcançam uma nova fronteira de depravação ética. Somente por uma investigação profunda que esses negócios vieram a tona, ao contrário dos deslizes mais óbvios cometidos pelos outros colegas. Não só isso: Solomon arremessou o Wall Street Journal nos mundos da vigilância e da política do Oriente Médio – não como repórter desses assuntos, mas como agente.  

Leia a investigação da AP sobre Azima, intitulada "Worth killing over: How a plane mogul dodged US scrutiny" (Vale a pena matar: como um magnata da aviação se esquivou do escrutínio dos EUA). É uma história que o Wall Street Journal não contaria, por razões que agora conhecemos.

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