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Casa própria que cabe no bolso

Mais do que o crédito, a forma de pagamento é o que tem ajudado os curitibanos na aquisição do imóvel. "A venda na planta é decisiva nisso. A família paga pequenas parcelas e balões anuais por dois ou três anos, até a entrega do imóvel, para só então financiar o restante. Na compra do imóvel pronto a família precisaria de poupança de 20% a 30% do valor total para dar de entrada. Quem consegue guardar este valor? Isso era um fator que limitava o mercado também", avalia o consultor Fábio Araújo.

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No ano passado, 42,2% das liberações da Prefeitura de Curitiba para novas construções foram para imóveis de até três pavimentos – em 2007 foram 64,9%. Ao mesmo tempo, as concessões para imóveis de mais de oito andares, os prédios, passaram de 13,3% do todo para 24,7%, de um ano para o outro. Esses dados e o crescimento de 284,7% no número de apartamentos lançados – passaram de 3.927 unidades verticais para 7.279 – refletem a mudança na paisagem da cidade. Curitiba está mais vertical, embora a maioria dos habitantes ainda resida em casas, sobrados e afins.

Para o economista e diretor da consultoria Brain, Fábio Tadeu Araújo, a vinda das grandes incorporadoras e construtoras foi um dos principais fatores que impulsionaram esse crescimento vertical da cidade. "Essas empresas, dotadas de capital, chegaram com um conceito agressivo de venda de imóveis, 'agitando' o mercado com novas estratégias, de forma que as construtoras e incorporadoras locais também tiveram de se mexer". A venda na planta – impulsionada também por mais segurança jurídica para bancos e mutuários – mudou o jeito de comprar do curitibano e transformou a cidade. A maior parte dos arranha-céus em construção está quase totalmente vendida, o que faz a roda do mercado imobiliário continuar em movimento.

O crédito e a facilidade de pagamento são os grandes motores dessas perspectivas, compensando a diferença entre a renda do trabalhador e a escalada de preços que ocorre em Curitiba desde 2006. O salário médio do trabalhador da capital e região naquele ano, segundo o Ipardes, era de R$ 1.210,93. Em 2009 (até agosto) esse rendimento chegou a R$ 1.350,26 – um crescimento real de 11,5%, bem menor do que a valorização de imóveis residenciais novos, de 44%, e a dos usados, de 63%, medidas pelo Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar) para o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR) e o Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), respectivamente.

Araújo explica que boa parte da evolução dos preços no Brasil se deu pela formação dos bancos de terras das grandes incorporadoras há três anos. "Mais de 20 grandes empresas captaram dinheiro na bolsa e precisavam comprar terrenos para garantir um certo número de lançamentos e ter uma boa avaliação perante os investidores. Essa competição pelas melhores áreas gerou especulação e aumento de preços."

E em Curitiba havia espaço para esse aumento de preços. "A valorização foi mais rápida do que se esperava", diz Araújo. Nos últimos três meses, com as evidências de que o país saía dos piores efeitos da crise financeira mundial, os preços dos imóveis novos cresceram mais um pouco e se equipararam a Porto Alegre. "Foi um movimento do setor apoiado no otimismo e na demanda que o mercado aceitou."

Mesmo com a diferença entre renda e preço, o crédito tem feito milagres. Pela Caixa Econômica Federal, os imóveis financiados quase dobraram de 2007 para 2008 (passaram de 8.497 para 15.332), assim como o volume de crédito passou de R$ 309,2 milhões para R$ 504,1 milhões, considerando os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e poupança. Em 2009, até a primeira quinzena de outubro foram usados R$ 894 milhões para o financiamento de 18.046 residências.

Na opinião do arquiteto e urbanista e diretor do curso de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fábio Duarte de Araújo Silva, a verticalização de Curitiba, um fenômeno urbano esperado, vai bem porque a cidade tem um plano diretor que indica onde isso pode ocorrer. No entanto, a criação de grandes condomínios cercados corre o risco de formar "guetos murados" no entorno. "Cria-se uma área de impermeabilidade (social), seus residentes ficam isolados da cidade, o que é péssimo para a segurança, entre outros aspectos."

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