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Sibylle Muller: trabalho com foco no reaproveitamento da água utilizada no chuveiro e nas torneiras. | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
Sibylle Muller: trabalho com foco no reaproveitamento da água utilizada no chuveiro e nas torneiras.| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Além dos benefícios ecológicos, a adoção de sistemas de aproveitamento da água das chuvas e do reúso das águas cinzas – provenientes de chuveiros e lavatórios – é uma boa alternativa para reduzir a fatura nesse momento de reajustes nas tarifas. No Paraná, a correção de 8% nas tarifas de água e esgoto anunciada na última semana pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) fez com que a alta acumulada somasse aproximadamente 22% em 2015.

Atraindo cada vez mais a atenção do mercado imobiliário, a adoção da tecnologia ainda esbarra na desconfiança dos moradores em reutilizar o recurso natural e na falta de uma normatização específica para o reúso da água, como lembra a engenheira civil Sibylle Muller, diretora da AcquaBrasilis, empresa especializada no segmento. Durante visita a Curitiba, Sibylle falou à Gazeta do Povo sobre o custo-benefício e as vantagens do sistema.

A conscientização sobre a economia de água está cada vez mais presente na sociedade. Ela também é uma preocupação do mercado imobiliário?

Esta é uma tendência irreversível, mas que ainda deve crescer. Muitos empreendedores já têm essa consciência, que está muito ligada à consciência dos clientes e à economia que eles podem obter com o aproveitamento da água da chuva e com o reúso de águas cinzas. Isso significa redução na fatura e nas despesas do mês. Na medida em que a escassez de água e seu custo aumentam, soluções como estas se tornam mais simpáticas às pessoas, não só pelo aspecto ambiental, mas pela questão econômico-financeira.

200 litros

é a média diária de consumo de água por pessoa no Brasil. O reúso pode corresponder a até 50% desse total, em uma combinação que una o reaproveitamento de águas cinzas e o aproveitamento da água da chuva.

Qual a diferença entre água pluvial e cinza?

A água das chuvas carrega alguns sedimentos e impurezas que estão no ar e precisa passar por um sistema de filtração e desinfecção. A cinza é uma água que já foi utilizada uma vez – no chuveiro e nas torneiras de lavagem de mãos – e que segue pela tubulação de descarte para coleta e tratamento para, então, ser reaproveitada. Ela geralmente carrega carga orgânica, como restos de pele e cabelo, precisando de um tratamento biológico, que quebra estas cadeias, antes que seja filtrada.

Que uso pode ser feito com essas águas?

Elas podem ser tratadas para uso em vasos sanitários, rega de plantas e gramados, limpeza de pisos e calçadas e lavagem de carros. Também podem ser utilizadas na reposição de espelhos d’água, de sistemas de ar-condicionado que funcionem com resfriamento a água e em algumas atividades da construção civil.

É muito difícil adaptar um empreendimento para o reúso de água?

O ideal é que a adoção do sistema seja feita ainda na fase de projeto. Assim, é possível locar bem a central de tratamento e dimensionar os pontos de consumo – às vezes, não é necessário aproveitar todo o volume gerado no reúso. Nos prédios prontos [a adaptação] não é impossível, mas é mais difícil. Muitos empreendimentos não têm mais o projeto inicial, então não sabemos por onde passam as instalações. Se formos pensar na separação da tubulação – uma para água potável e outra para a de reúso – temos que ter duas tomadas independentes, o que também significa quebrar paredes.

Como se dá a relação de custo-benefício desses sistemas?

É difícil estipular o custo, que depende do porte do empreendimento. O retorno do investimento para o reúso de águas cinzas, para prédios acima de dez a 15 andares, se dá entre um e dois anos.

Há, ainda, uma barreira cultural em relação ao reaproveitamento de materiais e recursos, como a água. Como você avalia esta questão?

No caso da água, essa resistência não é gratuita. A água é um solvente universal e um veículo de transmissão de doenças, então há motivos para essa preocupação. Nossa missão é procurar trazer para o mercado uma água sempre de melhor qualidade e com o menor risco possível – porque risco toda água tem, inclusive a que vem da concessionária, que pode ser contaminada no caminho que percorre até a torneira. As tecnologias mais avançadas – como as membranas e filtros mais sofisticados – estão permitindo que alcancemos qualidades melhores de águas tratadas, o que nos ajuda a vencer esta resistência. Temos o problema de que, no Brasil, não há uma normatização para a água de reúso, o que traz prejuízos, pois faz com que não exista um padrão de qualidade mínima [a ser seguido pelas empresas]. Esse padrão deverá chegar com o aumento do consumo da água de reúso. Esse é o caminho.

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