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Na transição entre a zona da mata e o agreste pernambucano, as serras verdes e as cachoeiras do município de Bonito (MS) têm direitos próprios reconhecidos, assim como os cidadãos.

Convicção da Gazeta: A dignidade da pessoa humana

No fim do ano passado, a lei orgânica da cidade que aposta no ecoturismo foi mudada para o reconhecimento do chamado direito da natureza. O município é o primeiro do país a encampar essa tese, que tem crescido no mundo com o apoio da ONU. 

Para se ter uma ideia, em todo o território do Equador (desde 2008) e da Bolívia (desde 2010), os elementos da natureza têm direitos próprios. Baseado no mesmo pensamento, há um ano, o parlamento da Nova Zelândia conferiu ao rio Whanganui o status jurídico de uma pessoa. 

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Na mesma época, na Índia, uma decisão da Justiça transformou o rio Ganges em uma entidade jurídica própria. Dias depois, outra decisão avançou no reconhecimento dos direitos das geleiras, lagos, cachoeiras e até do ar do Himalaia.

Pelo menos 13 pequenas cidades americanas, além de Pittsburgh, na Pensilvânia, também têm leis do tipo. Em São Paulo, a Câmara Municipal também tem projetos de lei com o mesmo objetivo. A cidade deve receber ainda esse ano o 2º Fórum Internacional Pelos Direitos da Mãe Terra, com apoio do governo do estado.

O assunto também é um dos temas debatidos no 8º Fórum Mundial da Água, que ocorre em Brasília entre os dias 18 e 23 de março. Os direitos da natureza partem do princípio que os elementos do meio ambiente têm um direito inato à existência e ao desenvolvimento.

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Para esta tese, o direito ambiental tradicional até hoje falhou ao enxergar a natureza apenas como uma posse da humanidade. Assim, a sua conservação do meio ambiente seria necessária para que a humanidade continue usufruindo dele no futuro.

Pela nova visão, dar direitos à própria natureza é uma forma de equalizar esse embate entre o homem e a Terra.

Hippie

Não por acaso, a tese do direito da natureza surgiu nos anos 1970, década marcada pelo rápido crescimento do ambientalismo e ainda sob efeito da onda hippie. Em 1972, um professor de direito americano, Christopher Stone, lançou o questionamento de se as árvores mereciam ter direitos.

Em 1989, outro professor de direito americano, Roderick Nash, defendia que assim como escravos e as mulheres lutaram e tiveram seus direitos reconhecidos, o mesmo aconteceria com a natureza.

Defensora do tema no Brasil e diretora da ONG Mapas - Caminhos para a Paz, a advogada Vanessa Hasson concorda que a ideia talvez ainda pareça um tanto hippie. "É também filosófico, já que é de filosofia que precisamos para mudar paradigmas. Ainda assim, não é utópico, essa é uma mudança que já está acontecendo", disse.

Segundo ela, diante de novo marco jurídico, é possível criar e cobrar políticas públicas que estão relacionadas com a vida em harmonia com a natureza. No eixo da economia, por exemplo, um dos objetivos é desenvolver práticas de economia criativa que sejam menos agressivas à Terra. 

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