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Afetados pela medida dizem que o local (foto), serve a jogos de futebol que “têm mais ocorrências que que shows de Paul McCartney” | Thiago Fatichi/Allianz Parque
Afetados pela medida dizem que o local (foto), serve a jogos de futebol que “têm mais ocorrências que que shows de Paul McCartney”| Foto: Thiago Fatichi/Allianz Parque

Um alvará impediu a entrada de crianças menores de 10 anos no show One on One, do ex-Beatle Paul McCartney, no último domingo, 15, em São Paulo, mesmo acompanhadas de responsáveis legais. Pais e filhos deixaram o Allianz Parque frustrados. Em Porto Alegre, a classificação etária foi a mesma.

Expedido em 11 de outubro e assinado pela juíza Letícia Antunes Tavares, o alvará determinou a autorização de entrada e permanência apenas de crianças e adolescentes de 10 a 15 anos, acompanhados dos responsáveis, e de jovens a partir de 16 anos desacompanhados.

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“Foi desesperador, porque inclusive não moramos em São Paulo”, diz o médico André Nunes, que comprou ingressos para ir com a mulher e com a filha de nove anos, e foi impedido de entrar no local. André, que possui uma captura de tela como comprovante, foi informado no momento da compra que a classificação etária não permitiria apenas menores de seis anos. Só viu depois, no ingresso impresso, que seria de 10.

A família, vinda de Jundiaí, tentou ainda, sem sucesso, ajuda na bilheteria. Quando foram para um portão diferente, conseguiram entrar. Outro pai, o também médico Carlos Frederico Pascale, porém, não teve o mesmo destino ao tentar entrar com o filho de oito anos. “Fomos barrados de forma rude”, afirma. De acordo com ele, a funcionária no local não ajudou com orientações.

Pascale relata que procurou, assim como muitas famílias, o Conselho Tutelar no local, que teria tentado conseguir autorização na Justiça, também sem sucesso. “Tentaram entrar em contato com juízes de plantão, e, após o show já ter começado, fomos informados que não poderíamos entrar.” A família voltou para Piracicaba sem ver McCartney.

Já com a certeza de que não conseguiria entrar com o filho mais novo, de oito anos, o jornalista Ricardo Alexandre preferiu vender, poucos dias antes do show, seus ingressos. Por meses, ele tentou encontrar um jeito de levar o garoto, inclusive com um processo, que correu em segredo de Justiça.

Para Alexandre, que procurou esclarecimentos em diversos órgãos, a lei sobre a entrada de crianças e adolescentes em eventos como esse é “confusa”. “Tira de mim, o pai, a prerrogativa de expor o meu filho ao conteúdo cultural que eu julgo importante para a formação dele.”

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O jornalista entende que a medida seja para a segurança das crianças, mas vê contradições. “O problema é a incoerência, é a mesma estrutura que serve a jogos de futebol, que têm mais ocorrências que shows de Paul McCartney.”

Procurado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, o Ministério Público de São Paulo se manifestou, através da promotora Juliana Amélia Gasparetto de Toledo Silva Donato, apenas com a cópia da resposta de um pedido de autorização feito pelos pais de uma criança. “Não há ilegalidade em limitar a faixa etária que terá acesso ao evento, ao contrário, cuida-se de medida voltada a proteger a saúde e segurança, a qual se faz necessária.”

“Além disso, uma vez que a produtora/organizadora se preocupou em garantir a segurança de crianças a partir de 10 anos, a nosso ver, impossível obrigá-la a expandir sua estrutura de segurança para abranger crianças ainda menores”, segue a nota. “Muito menos responsabilizá-la por eventual acidente ocorrido nas dependências do estádio ao longo do evento.”

Responsável pelo evento, a Time For Fun afirmou, em nota, que não vai se pronunciar.

Para os próximos shows internacionais em São Paulo, a classificação varia, mas menores de 14 poderão ver o U2 e o Coldplay com os pais.

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