Não se pode dizer que os estadunidenses são ruins de dar nomes às coisas. Veja, por exemplo, os “reply guys”: caras que publicam respostas desagradáveis em posts públicos de mulheres.
Em um curto intervalo, duas mulheres que se destacam em áreas dominadas por homens, Veronica (Linux/software livre) e Sophie (desenvolvimento web), reclamaram da ação de “reply guys” no Mastodon.
Veronica resolveu fechar sua conta no Mastodon por tempo indeterminado. No caso da Sophie, um post descompromissado em que ela comparava a cor do cabelo com a do seu editor de código foi parar até em chans porque o código no print não era acessível — o que não importava muito nesse contexto.
Não é um problema novo. Em 2020, o Twitter implementou filtros para limitar quem podia responder posts numa tentativa de desestimular os “reply guys”. Em novembro de 2023, foi a vez do Mastodon tentar conter o problema, mostrando alertas no Android para quem tenta responder posts de perfis que não se seguem mutuamente ou muito antigos.
São medidas válidas. Em seu relato, Sophie exalta os recursos de bloquear e silenciar do Mastodon, embora a implementação no seu aplicativo preferido, Ice Cubes, deixe a desejar.
Talvez o grande dano das plataformas sociais dos anos 2010 ao debate público foi incutir na gente a ideia errada de que devemos dar opinião para tudo, de que não podemos passar batido por um botão “Responder” na internet — ainda mais se a outra pessoa não for um homem, mesmo que nada ali nos diga respeito ou que o erro não importe.
Acredite se quiser, mas é possível ler uma opinião ou comentário inconsequente de alguém e ignorá-lo, deixar pra lá.
Um efeito colateral desses tristes episódio é destacar que não existe paraíso na internet. Até por ser o contraponto do Twitter pós-Elon Musk, o Mastodon ganhou uma aura de virtuosismo que não se sustenta. Não me entenda mal: no frigir dos ovos, acredito que o Mastodon funcione melhor que o Twitter/X e outras alternativas, mas apenas porque esses eram/são muito ruins.