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Militares americanos à frente do Enola Gay, avião responsável por soltar a bomba em Hiroshima | SE/mo/rix/STF
Militares americanos à frente do Enola Gay, avião responsável por soltar a bomba em Hiroshima| Foto: SE/mo/rix/STF

Desde a tragédia de Hiroshima e Nagasaki, a indústria bélica nuclear se desenvolveu rápida e intensamente. Só um bomba de hidrogênio existente no mundo, por exemplo, tem a potência de 700 modelos iguais à “Little Boy”, lançada em Hiroshima em 1945 e que causou a morte de mais de 135 mil pessoas.

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E o mais preocupante é que há milhares delas - e em muitas mãos diferentes.

Conheça dez fatos sobre o ataque nuclear ao Japão em Hiroshima e Nagasaki e como aquele foi o estopim para uma corrida armamentista que parece deixar a humanidade por um fio:

Por que Hiroshima e Nagasaki?

Os norte-americanos escolheram previamente três cidades para o ataque de 6 de agosto de 1945. E tudo dependeria das condições climáticas para a decisão final: era preciso visibilidade para lançar a primeira bomba.

Hiroshima era a principal delas. Isso porque era uma cidade portuária de importância militar (tinha centro de comunicações e área de reunião para soldados). Além disso, era uma das únicas cidades ainda intactas no Japão. As forças americanas sabiam, no entanto, que 85% da população local, de um total de 350 mil habitantes, era civil. O dia ensolarado permitiu que o plano fosse levado adiante.

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Quanto à segunda bomba, EUA pretendiam lançá-la em Kokura, mas como a visibilidade era ruim, optaram por Nagasaki, que estava com condições um pouco melhores. Nagasaki não era prioritária porque já havia sido bastante bombardeada durante a guerra (e seria difícil medir o tamanho do estrago causado pela bomba) e pela sua geografia, bastante montanhosa.

A bomba de Hiroshima era semelhante à de Nagasaki?

Não. Embora ambas tenham o mesmo princípio explosivo (por “fissão nuclear”, ou quebra do núcleo do átomo), são modelos bem diferentes.

A bomba apelidada de “Little Boy” (garotinho, em português), lançada em Hiroshima, funcionava como um revólver gigante. Dentro dela havia duas cargas de urânio-235 (urânio altamente enriquecido) nas pontas opostas de um cilindro. Um explosivo funcionava como gatilho e lançava uma carga contra a outra, fazendo com que os átomos se chocassem e tivessem seus núcleos quebrados. O resultado deste choque foi uma imensa carga de energia e radiação.

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Na “Fat Man” (gordo, em português), lançada sobre Nagasaki, a carga explosiva era o plutônio. E o sistema de acionamento era outro: o material ficava em uma cavidade no centro da bomba. Esse espaço era cercado por explosivos que ao explodirem comprimiam o plutônio. Isso fez com que os átomos se chocassem e quebrassem seus núcleos - o resultado também é energia e radiação avassaladoras.

Como é a destruição causada por uma bomba atômica?

Quando uma bomba nuclear explode, uma grande quantidade de energia é liberada em um volume pequeno de ar. Isso cria uma bola de fogo branca, brilhante e mais quente do que a superfície de sol, que começa a se expandir.

Quando ela cessa a expansão, gera uma parede de energia (chamada de onda de propulsão), que é um deslocamento do ar a uma velocidade absurda - no caso de Hiroshima, a 1.100 km/h. Esse ar quente veloz incendeia e derruba praticamente tudo no caminho nos quilômetros mais próximos. E em poucos segundos.

Além disso, a explosão provoca uma chuva radioativa de elementos como raios gama, raios-X e nêutrons - resultado da decomposição do urânio ou plutônio. Invisível, a radiação é letal, já que afeta as células. Via de regra, mudam o funcionamento do organismo, causando a falência de órgão, colapso do sistema imunológico e, a longo prazo, desenvolvimento de câncer.

E por que usaram urânio ou plutônio, já que há átomos em tudo?

É que estes elementos têm átomos grandes e muito instáveis. Em outras palavras, estão prestes a explodir e liberar grande quantidade de energia (são radioativos, por assim dizer).

Em Hiroshima o número de mortes foi maior. Significa que a bomba lançada lá era mais potente?

Estima-se que morreram até 135 mil pessoas em decorrência da “Little Boy” - 70 mil na hora da explosão e as demais por conta de ferimentos e radiação. Em Nagasaki, com a “Fat Boy”, o número de mortes passou dos 40 mil na hora, chegando a cerca de 70 no total, somando as vítimas posteriores.

Apesar destes números, a bomba de Nagasaki foi mais eficiente. Não pelo combustível usado - urânio e plutônio produzem energia nuclear semelhante -, mas, sim, pelo mecanismo de disparo.

No método “bala de canhão” da “Little Boy”, dos 64 kg de urânio usados, somente 640 g foi fissionada, ou seja, teve seu núcleo quebrado. A bomba de Nagasaki, por sua vez, levava apenas 6,4 kg de plutônio e teve 1,20 kg fissionado.

Estas bombas foram as mais poderosas já criadas?

Não. Elas foram, de fato, as únicas armas nucleares usadas em batalha até hoje. Mas são tímidas perto do poder de destruição que a humanidade desenvolveu a partir dali.

Para efeito de comparação, a bomba de Hiroshima era medida em quilotoneladas, ou seja, quantas milhares de toneladas de TNT seriam equivalentes à potência da bomba nuclear. No caso da bomba de Hiroshima, a equivalência era de 13,5 mil toneladas de TNT; na de Nagasaki, a potência era de 22 mil toneladas do explosivo.

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Hoje, EUA, Rússia e Coreia do Norte, por exemplo, têm bombas muito mais potentes. Não se fala mais em quilotoneladas, mas em megatoneladas, ou seja, milhões de toneladas. Alguns dos artefatos existentes têm a potência de 9 megatons – equivalentes a quase 700 bombas iguais às de Hiroshima.

Quantas armas nucleares existem hoje?

Estima-se que existam pelo menos 17 mil armas nucleares no mundo, basicamente nas mãos de Estados Unidos e Rússia (estes países têm de 7 a 8 mil armas cada). Mas outras potências também detêm armamentos deste tipo: Reino Unido tem cerca de 200; França, 350; Israel, 180 (embora não admitam oficialmente); Paquistão, de 80 a 90; Coreia do Norte; e Índia, cerca de 80.

Um cálculo grosseiro aponta que exista, em armas nucleares, cerca de 200 kg de TNT por habitante na terra.

Qual é a mais letal?

As mais potentes armas nucleares existentes são as de bombas de hidrogênio, ou bomba-H. Elas funcionam de maneira diferente das atômicas por fissão: em vez de quebrar o núcleo dos átomos, elas fazem um núcleo somar-se a outro, gerando energia destruidora.

De forma simplificada, junta-se os núcleos de átomos de hidrogênio ou isótopos. Este processo gera uma energia que é pouco mais de 10% da liberada no método por fissão. Então por que essa bomba é mais poderosa?

No caso da fissão, existe uma quantidade máxima de material a ser usado, chamado de “massa supercrítica”. Não dá para ir além senão a bomba explode. Quando se trata de fusão, não há esse problema. O construtor da bomba usa a quantidade que quiser. A energia de cada fusão é menor, mas, em termos de quantidade, pode-se atingir um potencial destrutivo mais intenso.

Em 1961, a União Soviética detonou uma bomba deste tipo, que chamaram “Tsar Bomb”. Hoje mais conhecido pelo seu codinome, “Big Ivan”, o artefato era monstruoso: tinha a potência de 50 milhões de toneladas de TNT, quase 3 mil vezes mais arrasadora que a bomba de Hiroshima. E isso porque os soviéticos resolveram diminuir sua carga, que inicialmente era equivalente a 100 milhões de toneladas de TNT.

Qual seria a destruição destas armas no Brasil?

Tomando-se como base o marco zero, ponto onde a bomba caiu, praticamente tudo em um raio de 1,6 km é destruído. Isso porque a bomba causa um calor de milhões de graus C, além de um deslocamento de ar veloz e uma luminosidade capaz de cegar. Além disso, a radiação tem efeitos terríveis no corpo humano. Confira uma simulação que mostra qual seria um estrago de uma bomba como a “Little Boy”caso fosse lançada no centro de Curitiba.

Qualquer um pode construir a sua arma nuclear?

Felizmente não. O processo de enriquecimento de urânio ou de produção de plutônio (que precisa de um reator específico) ou o processo de construção de uma bomba-H são muito caros, na ordem dos bilhões de dólares. Fora isso, seria preciso investir em lança-mísseis capazes impulsionar o armamento até o território que se deseja destruir -- um maquinário que precisa ser potente e também custa muito caro.

Além disso, não existe uma produção livre de fato. A ONU regula a política nuclear mundial por meio da Agência Internacional de Energia Atômica e pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear, assinado por 189 países -- vários deles detentores de armas deste tipo.

Os países podem até se negar a assinar o tratado ou a abrir suas usinas aos inspetores, mas, como resposta, teriam que arcar com sanções econômicas impostas por grandes potências (exatamente o que o ocorreu com o Irã até meados de julho, quando finalmente submeteu seu programa nuclear à mediação internacional). Não se descarta também uma medida mais dura pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Fontes: Dinis Gomes Traghetta, mestre e doutor em Física e autor do livro “A Bomba Atômica Revelada - a recriação da bomba atômica através da literatura aberta”; Luiz Moraes, mestre e professor de Física e universidades de Brasília e Instituto Atomic Archieve.

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