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Um lago de lava se formou na região de Leilani Estates, situada à leste de Kilauea, em 23 de maio de 2018, no Havaí, em meio a erupções do vulcão Kilauea | AFP
Um lago de lava se formou na região de Leilani Estates, situada à leste de Kilauea, em 23 de maio de 2018, no Havaí, em meio a erupções do vulcão Kilauea| Foto: AFP

Poucos eventos geológicos capturam a imaginação como um vulcão em erupção. Nós nos emocionamos com a imagem: a lava quente e derretida vem marcando seu caminho pelo chão, destruindo quase tudo por onde passa. Os vulcões podem causar enormes desastres que matam dezenas de milhares, e podem produzir vistas incríveis, como fontes de lava hipnóticas.

Com uma erupção como a que está ocorrendo no Kilauea, no Havaí, as manchetes sobre vulcões se multiplicam em todo o mundo. Mas geralmente elas apresentam erros sobre como os vulcões operam.

Mito 1: Os vulcões são mais ativos hoje do que no passado

Sempre que vulcões em todo o mundo começarem a ser notícia, você verá manchetes como essa do Daily Star da Grã-Bretanha: "O núcleo da Terra em crise? Os vulcões explodem em todo o mundo - e ninguém sabe por quê". Da mesma forma, um site de profecias bíblicas adverte: "Parece ter havido um aumento nos terremotos em torno de 1900, assim como em 1940, e ultimamente". A implicação é que as coisas estão piorando. 

Apesar desses medos, a Terra não está se tornando mais geologicamente ativa. A atividade geológica ao longo do tempo tem fluxo e refluxo, com algumas áreas que têm mais erupções ou terremotos e outras que têm menos. Em qualquer momento, há pelo menos entre oito a 12 vulcões em erupção ao redor do mundo, ou seja, está sempre acontecendo e não há razão para pensar que esses números tenham variado muito ao longo do tempo (o Programa Global de Vulcanismo do Smithsonian mantém uma lista). 

Com nossa capacidade moderna de monitorar vulcões em muitos locais remotos, graças aos satélites e à velocidade com que as notícias viajam pelo mundo hoje, uma erupção que poderia passar despercebida há 100 anos certamente chegaria às manchetes em 2018. Os vulcões não estão mais ativos hoje, nós apenas estamos mais conscientes quanto a isso. 

Mito 2: Vulcões expelem fumaça quando entram em erupção 

Os noticiários frequentemente transmitem boletins como "o vulcão entra em erupção enviando fumaça a 30.000 pés de altitude", como o Mirror recentemente fez. Um escritor de viagens que visitou o Monte Sakurajima, no Japão, em 2014, observou que "cinzas e fumaça atingem facilmente até 5.000 pés", e a Reuters afirmou em 2010 que o "Monte Merapi da Indonésia estava nublado com fumaça" durante um período ativo. 

Para vulcanologistas como eu, a palavra "fumaça" é profundamente frustrante, porque elimina alguns dos danos reais que os vulcões podem fazer. Embora seja verdade que os vulcões podem expelir material para 30.000 pés de altitude (e às vezes muito mais), nada disso é fumaça. A cinza vulcânica não é criada a partir de nada que esteja queimando, mas sim de lava e rocha que são quebradas em minúsculos pedaços com menos de dois milímetros de diâmetro. Essa cinza parece fumaça quando se eleva, carregada por gases vulcânicos como vapor de água, mas é realmente uma gigantesca nuvem de cacos de vidro. 

É por isso que as cinzas vulcânicas são tão perigosas para inalar. O vidro quebrado pode danificar seus pulmões, e, pior, pode te matar, pois o fluido enche seus pulmões, misturando-se com a cinza e formando um cimento. 

A cinza vulcânica também é muito ruim para os aviões de uma forma que a mera fumaça não é. As cinzas derreterão nos motores das aeronaves, entupindo as linhas de combustível e outras partes, e fazendo com que os motores parem. É por isso que o espaço aéreo em grande parte da Europa foi fechado durante sete dias durante a erupção de 2010 do Eyjafjallajokull, na Islândia.

Mito 3: Os vulcões contribuem significativamente para as mudanças climáticas 

Os vulcões produzem muitos tipos de gases, entre eles o dióxido de carbono. Isso fez com que eles se tornassem alvo para quem nega as mudanças climáticas provocadas pelo homem. Em 2010, um colunista da Australian Broadcasting Corporation afirmou que uma única "tosse vulcânica" pode adicionar mais CO2 à atmosfera "em um dia" do que os humanos nos últimos 250 anos. E em 2015, um membro da Comissão de Serviço Público de Wisconsin sugeriu que "a eliminação de praticamente todos os automóveis seria compensada por um vulcão explodindo". 

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Não. Dado que as taxas de atividade vulcânica não estão aumentando, não há razão para que mais dióxido de carbono seja adicionado à atmosfera a partir de erupções vulcânicas hoje do que em qualquer época do passado, o que significa que não há razão para que os níveis sejam maiores hoje. Além disso, a quantidade de dióxido de carbono produzido por humanos a cada ano é mais de 100 vezes maior que a produzida pelos vulcões, de acordo com pesquisa do vulcanologista Terry Gerlach. Assim, anualmente, todos os vulcões do mundo produzem aproximadamente a mesma quantidade de dióxido de carbono que o estado de Ohio. 

Os vulcões podem afetar o clima da Terra, mas não tipicamente aquecendo-o. Partículas de dióxido de enxofre de uma grande erupção podem subir para a estratosfera e impedir que a energia do sol chegue à superfície. Mais notavelmente, a erupção de 1815 do Monte Tambora na Indonésia levou ao "ano sem verão". 

Mito 4: Vulcões e terremotos no "Anel de Fogo" estão conectados 

Ouvimos isso o tempo todo: os vulcões estão em erupção no "Anel de Fogo", uma área de intensa atividade tectônica em torno do Oceano Pacífico. Artigos de notícias tendem a agrupar eventos geológicos na área, como o Channel News Asia fez em janeiro, quando informou, "erupções vulcânicas e terremotos na Ásia e no Alasca durante dois dias mostram que o Anel de Fogo do Pacífico está 'ativo'", sugerindo que estão ligados, mesmo que estejam do outro lado do mundo. Outras vezes, sites como o Waking Times especulam que os eventos estão levando a algo maior: "Todos os olhos estão no Anel de Fogo do Pacífico enquanto uma lista crescente de erupções vulcânicas e tremores tectônicos aponta para um evento potencialmente importante em o futuro próximo".

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A frase "Anel de Fogo" é evocativa, mas isso é o mais distante possível da realidade. Geologicamente falando, o "Anel de Fogo" não é mais que uma coincidência de vulcões e terremotos. O suposto anel nem sequer rodeia todo o Oceano Pacífico; às vezes inclui locais além do Pacífico, como a Indonésia. Embaixo de todas estas regiões, grandes placas tectônicas interagem enquanto se movem no manto da Terra. Mas os vulcões e terremotos no "Anel de Fogo" não estão diretamente ligados, por isso, quando erupções ou terremotos ocorrem simultaneamente no Japão e no Chile, não é porque eles estão provocando uns aos outros. De fato, há muito pouca evidência de que terremotos ou outros vulcões possam causar a erupção de um vulcão.

*Klemetti é professor associado de geociências na Denison University, escreve o blog Rocky Planet para a revista Discover e cobre erupções vulcânicas em todo o mundo pelo Twitter.

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