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Expansão da capital peruana, Lima, uma das dez maiores cidades latino-americanas | Creative Commons
Expansão da capital peruana, Lima, uma das dez maiores cidades latino-americanas| Foto: Creative Commons

Fluxos migratórios

Migração do campo para a cidade perde força

Diante da perda de peso do êxodo do campo para a cidade na maioria dos países da América Latina, surgiram novos "fluxos migratórios" na região, mais "complexos" e que envolvem também a mudança de cidadãos da região para outros países, segundo o relatório divulgado pelo programa ONU-Habitat.

As migrações na região "se produzem fundamentalmente entre cidades, às vezes traspassando as fronteiras internacionais", diz o estudo. Outro fenômeno relevante são os movimentos de população dentro das cidades, entre o centro e sua periferia e as cidades-satélite.

Estima-se que em 2010 mais de 30 milhões de latino-americanos e caribenhos (5,2% da população total) residiam fora de seu país de origem. Os principais destinos dessa emigração são os EUA – onde fixaram residência a maioria dos latino-americanos que deixaram seus países –, seguido por Espanha e Canadá.

  • Congestionamento na Cidade do México, que concentra mais de 19 milhões de habitantes

Com quase 80% de sua po­­pulação nas cidades, a Amé­­rica Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo, mas convive com redução do crescimento demográfico e praticamente com o fim da migração campo-cidade, responsável pelo "boom" da urbanização até os anos 90.

As conclusões estão no relatório "Estado das Cidades da América Latina e Caribe 2012", divulgado ontem pelo programa ONU-Habitat.

Na região, 79,4% da população residia em cidades em 2010, nível só inferior aos do norte da Europa (84,4%) e da América do Norte (82,1%).

O relatório destaca, no entanto, que a urbanização, que "explodiu" entre 1950 e 1990 e gerou oito megacidades (mais de 5 milhões de habitantes), perdeu força nas duas últimas décadas.

Tal fenômeno é fruto do menor crescimento populacional, proporcionado pela redução da natalidade. Ainda assim, a ONU estima que 90% da população da região viverá em cidades em 2050.

A troca da migração campo-cidade pelo modelo cidade-cidade (de concentrações urbanas maiores para menores) fez as megalópoles crescerem de modo mais lento do que as cidades médias (até 500 mil habitantes).

Infraestrutura

Diante desse quadro e da oportunidade gerada pelo fato de a América Latina ter hoje mais pessoas em idade para trabalhar do que inativos (crianças e idosos), a ONU recomenda que se invista em novas soluções de transporte e infraestrutura, revendo o planejamento urbano e as regras do mercado imobiliário.

Erik Vitrupp, técnico do ONU-Habitat, criticou o processo crescente de "espalhamento" e de expansão de grandes "manchas urbanas".

Quanto mais concentradas, diz, menos investimentos são necessários em transporte e serviços públicos.

"Essa é a vantagem da urbanização. O modelo atual de crescimento das cidades é insustentável."

Como exemplos de expansão horizontal, o relatório cita Brasília, Manaus e Belém.

Para o professor Marcelo Neri ,da Fundação Getulio Vargas, a verticalização das cidades "não é algo necessariamente ruim, mas depende da forma como se faz".

Um bom exemplo, afirma,­­ é o das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), no Rio, que tendem a atrair mais pessoas para favelas – o pro­­jeto também foi destaca­­do no relatório da ONU.

Segundo a ONU, a falta de moradias é o principal problema da região, com déficit de 51 milhões de casas (2011). Já o percentual de habitantes em favelas caiu de 33% para 24% da população entre 1990 e 2010.

Moradia persiste como um dos maiores desafios para a região

Apesar dos avanços dos serviços públicos, o problema da moradia persiste na América Latina, segundo dados da ONU. O déficit habitacional na região subiu de 38 milhões de residências em 1990 para uma cifra entre 42 milhões e 51 milhões em 2011.

Trata-se, segundo a ONU, de "um dos maiores desafios" da região. O percentual de pessoas que viviam em moradias precárias (favelas e assemelhados), porém, caiu: passou 33% em 1990 para 24% da população em 2010.

Esse porcentual, porém, varia muito entre os países: era 5% no Suriname e de até 70% no Haiti – no Brasil, chegava a quase 30%; na Argentina, oscilava em torno de 20%.

Por outro lado, o relatório destaca que tem "melhorado consideravelmente" as condições de acesso aos serviços básicos: a eletricidade estava presente entre 97% e 100% das áreas urbanas em 2010, a cobertura na água encanada atingia 97% das moradias e o saneamento atendia 86% das residências.

Não existem, porém, dados precisos sobre a qualidade dos serviços e estima-se que há uma perda de 40% da água durante o processo de distribuição – o dobro do aceitável para países emergentes.

Em seu conjunto, América Latina e Caribe formavam a região com a maior taxa de homicídios do mundo (mais de 20 por cada 100 mil habitantes), muito acima da média global (7 por cada 100 mil habitantes). Tal situação, diz a ONU, é fruto de "baixo desenvolvimento humano e econômico e grandes disparidades de renda".

O relatório da ONU mostra ainda que em 15 cidades de nove países da região (113 milhões de habitantes) 71% das viagens realizadas ocorriam em 2007 por meio de transporte público coletivo, a pé ou de bicicleta.

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