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O presidente de Cuba, Raul Casto, em aniversário da revolução. | Claudia Daut
O presidente de Cuba, Raul Casto, em aniversário da revolução.| Foto: Claudia Daut

Medo ainda persiste

A maioria dos moradores de Havana fala livremente com estrangeiros. Em Santiago, porém, muitos seguem olhando de viés no seu entorno, desconfiados de que alguém possa estar escutando “Existem problemas”, diz a professora Julieta Barrera. “Mas até agora estou muito contente com tudo”, avalia em seguida, olhando para outras pessoas na fila de um banco.

Dois anos e meio após o furacão Sandy devastar Santiago de Cuba, a segunda maior cidade da ilha, Melba Martínez, de 35 anos, segue desempregada e luta para alimentar seus dois filhos com a comida fornecida pelo governo. “Não tem trabalho, não tem dinheiro”, reclama. “Se você ganha 225 pesos, como vai comprar um par de sapatos que custa 500?”, questiona.

Medo ainda persiste

A maioria dos moradores de Havana fala livremente com estrangeiros. Em Santiago de Cuba, porém, muitos seguem olhando de viés no seu entorno, desconfiados de que alguém possa estar escutando. “Existem problemas”, avalia a professora Julieta Barrera. “Mas até agora estou muito contente com tudo”, diz em seguida, olhando nervosamente ao redor na fila do banco..

A uma pequena distância de carro do centro colonial de Santiago, Josefina Arocha Saco coloca um denso leite açucarado na máquina de sorvete. Se crianças suficientes compram sorvetes a US$ 0,04, ela pode cobrir o custo de sua licença, pagar os impostos e ganhar mais do que conseguia como professora. “Tem de tudo, todos podem tirar o registro” para desenvolver alguma atividade, diz.

Longe do boom turístico e dos investimentos que chegam do exterior a Havana, os moradores do leste cubano lutam para se virar em meio a uma economia cambaleante. Ainda que muitos moradores da província, mais pobre que a capital Havana, tenham aberto negócios após as reformas econômicas dos últimos quatro anos, o dinheiro de grandes investidores estrangeiros ou de cubanos emigrados não chegaram. Os celulares são um luxo e a internet é acessível em poucos lugares na cidade de 500 mil habitantes. Além disso, é mais fácil chegar de Havana a Miami que à segunda maior cidade da ilha — há apenas dois voos diários.

Os cubanos de todo o país se queixam dos baixos salários e dos altos preços, mas a queixa tem dimensão particular em Santiago. As ruas estão tensas, apesar de um programa de reformas e de construção de edifícios impulsionado por um dirigente local do Partido Comunista. Na cidade, funciona a maior agrupação dissidente da ilha, a União Patriótica de Cuba (Unpacu), que convoca manifestações frequentes e distribui panfletos e DVDs nos quais defende mudanças democráticas.

Muitos militantes dessa organização recordam o papel do leste do país como berço histórico dos levantes ocorridos em Cuba, desde as guerras de independência da Espanha, no século 19, até a revolução castrista, iniciada com um ataque ao quartel de Moncada.

“Em Havana está a elite do país. Entre o oeste e o leste, o oeste sempre tem sido mais favorecido”, afirma Carlos Arnel Oliva Torres, da Unpacu. Não há indícios, porém, de que os sonhos da Unpacu de alcançar projeção nacional se tornem realidade. Seu apoio é limitado à cidade de Santiago.

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