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Africano aguarda em alojamento temporário na Espanha. No dia 18 de março, 500 pessoas cruzaram a fronteira em Melilla | Juan Medina/Reuters
Africano aguarda em alojamento temporário na Espanha. No dia 18 de março, 500 pessoas cruzaram a fronteira em Melilla| Foto: Juan Medina/Reuters

300% É a porcentagem do aumento em relação ao ano passado na quantidade de imigrantes africanos que tentam chegar pelo mar, via ilha de Lampedusa, na Itália, segundo levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU).

Rotas

Com maior fiscalização no mar, aumenta o fluxo de imigração por terra

Melilla e Ceuta são os únicos pontos pelos quais se pode chegar à Europa por terra vindo da África. Quase todas as semanas centenas de imigrantes descem de acampamentos na montanha, driblam a polícia marroquina e tentam escalar os muros, usando varetas para fazer pressão sobre o arame farpado.

"Enquanto houver uma diferença econômica tão grande e os problemas que existem na África, sempre haverá imigrantes", afirmou Adil Akkid, da Associação Marroquina de Direitos Humanos, que trabalha com os imigrantes acampados no entorno da cidade marroquina de Nador, próxima a Melilla. "A Europa é o continente mais rico e mais próximo."

O aumento da quantidade de pessoas que tentam chegar aos enclaves espanhóis ocorre, em parte, porque as autoridades conseguiram conter um pouco do fluxo de imigrantes pelo mar. Em fevereiro, o Marrocos anunciou que havia reduzido em 93% esse fluxo.

A Espanha já emitiu sinais de alerta sobre a imigração ilegal. Na semana passada, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, pediu um "maior compromisso" para lidar com a situação de Ceuta e Melilla. As autoridades espanholas e marroquinas calculam que há, ao menos, 30 mil imigrantes ilegais no Marrocos, a maioria dos quais esperam poder chegar à Europa.

Foram mais de sete horas agarrando-se ao topo de uma cerca de com arame farpado, com as mãos e os pés ensanguentados, suportando um vento frio que castigava os penhascos da costa africana do Mediterrâneo.

Os 27 imigrantes subsaarianos estavam no limite entre a miséria econômica da África e os sonhos de prosperidade da Europa: de um lado, estava Marrocos; do outro, o enclave espanhol de Melilla.

A sede, a fome e a fadiga finalmente venceram os imigrantes. Um por um, desceram a duras penas as escadas que as autoridades tinham colocado do outro lado da cerca. A polícia os entregou aos marroquinos.

O grupo formava parte de uma onda de africanos que, com a chegada da primavera no Hemisfério Norte, se esforça para chegar a Europa em quantidade cada vez maior, arriscando a vida em busca de um futuro melhor. Usam rotas perigosas e tentam cruzar o Mar Mediterrâneo em embarcações precárias, com destino à ilha italiana de Lampedusa, ou atravessar deserto, selvas e montanhas para escalar a cerca que os separa de Melilla e de outro enclave espanhol no Norte da África: Ceuta.

Não há dados consolidados de imigração para a Espanha no ano de 2013, porém, nos primeiros três meses de 2014, a quantidade de imigrantes que chegaram a Melilla já é superior ao 1 mil do mesmo período do ano passado. Somente em 18 de março, 500 pessoas – cifra sem precedentes – completaram o trajeto. Semanas antes, as autoridades marroquinas haviam impedido a chegada de 700 imigrantes.

Toda a Europa está sentindo a pressão migratória africana. A Organização das Nações Unidas (ONU) informou que houve um aumento de 300% na quantidade de imigrantes que tentam chegar por mar, via ilha de Lampedusa, neste ano.

A Itália resgatou cerca de 4 mil imigrantes em alto mar nos últimos dias, de acordo com o governo. Neste ano, os italianos salvaram 15 mil africanos e outros 300 mil esperam na Líbia para tentar fazer a perigosa travessia.

Para os imigrantes de Melilla, a maioria dos quais passou os dois últimos anos atravessando o centro e o oeste da África, sua detenção no enclave é tão somente um revés temporário. É possível que em poucas semanas tentem de novo chegar à Europa. Dezenas deles ficam feridos em cada tentativa e frequentemente há mortes, incluindo as de 15 pessoas que se afogaram perto de Ceuta em 6 de fevereiro, quando guardas espanhóis dispararam balas de borracha na sua direção.

A Suprema Corte espanhola proibiu o uso de balas de borracha em tumultos após esse incidente. Isso pode encorajar os imigrantes. "Eles não se sentem tão ameaçados", disse Anke Strauss, da Organização Internacional da Imigração.

Perigos no caminho não intimidam imigrantes

Nas ruas de Nador, há muitos imigrantes com muletas, que ficaram feridos tentando cruzar a fronteira, e outros esperando para tentar fazer a travessia.

O monte Gurugú faz a divisa entre Nador e Melilla. Em suas encostas arborizadas se instalam milhares de imigrantes. Eles vivem em tendas e se preparam para escalar a cerca durante a noite.

Para todos eles, o cruzamento do cerco é o fim de um empenho que toma anos e que inclui longas travessias em terrenos inóspitos.

"Nem me lembro há quanto tempo saí de casa", comenta um jovem de aspecto senegalês que sobe a montanha levantando consigo garrafas de plástico vazias que recolheu enquanto buscava comida em lixões de aldeias vizinhas. "Não posso voltar com as mãos vazias depois de tudo pelo que passei. Impossível", afirma.

À distância, começaram a escutar ruídos de sirenes e gritos. Eles disseram que era a polícia marroquina que fazia a patrulha diária pela montanha detendo imigrantes. Apesar da presença policial, centenas de imigrantes tentaram escalar o muro essa noite. Vinte e sete deles foram presos no alto do cerco, enquanto os outros foram rejeitados.

Assim que põem os pés em terras espanholas, os africanos são alojados em acampamentos de refugiados e alguns meses depois são levados para a parte continental da Espanha, onde será decidido se serão repatriados – o que é complexo, uma vez que muitos não têm documentos e mentem sobre sua nacionalidade – ou não. O mais provável é que sejam libertados e possam ficar no país.

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