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| Foto: THOMAS SAMSON/AFP

Marine le Pen anunciou formalmente sua candidatura à presidência da França chamando os eleitores a unir-se a ela para combater os “dois totalitarismos”: da globalização e do fundamentalismo islâmico. Há meses as pesquisas de opinião preveem que seu partido, a Frente Nacional, se sairá muito bem no primeiro turno da eleição presidencial.

A França tem um sistema de eleição em dois turnos, no qual os eleitores irão às urnas em 23 de abril para votar por um leque amplo de candidatos, cientes de que haverá um segundo turno em maio. A pesquisa IFOP mais recente situa Le Pen na liderança, com cerca de 25% das intenções de voto no primeiro turno.

A expectativa é que ela seja derrotada no segundo turno por um político que ganhou destaque apenas recentemente, o banqueiro e ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, 39 anos. Apesar disso, a Frente Nacional lançou um desafio ao próprio cerne do establishment político francês moderno e está servindo de incentivo a partidos de extrema direita em todo o continente europeu.

Le Pen, cujo slogan de campanha é “Em nome do povo”, apresentou algumas das 144 promessas que se comprometeu a cumprir se for eleita, incluindo planos de controlar as fronteiras da França, voltar a adotar o franco como moeda nacional e tirar o país da União Europeia.

“Estamos numa encruzilhada. Esta eleição é uma escolha de civilização”, disse a candidata em seu discurso, pintando um retrato sombrio de um futuro em que a França terá perdido sua identidade francesa. “Será que eles vão sequer falar nossa língua francesa?”

Suas críticas à imigração muçulmana foram recebidas com aplausos e gritos de “On est chez nous”, ou seja, “Estamos em nossa casa”, dos cerca de 5 mil presentes. “Não queremos viver sob o governo ou a ameaça de fundamentalismo islâmico”, disse Le Pen. “Querem nos impor a discriminação de gênero em locais públicos, o uso de véus que cobrem o corpo completamente ou não, salas de orações nos locais de trabalho, orações nas ruas, mesquitas enormes... ou a submissão das mulheres.”

Durante décadas o partido Frente Nacional, fundado pelo pai de Le Pen, foi visto como um agrupamento periférico com uma base pequena de seguidores ferrenhos. Hoje o alto índice de desemprego na França e a insatisfação ampla da população com a política, somados aos esforços de Marine le Pen para tornar o partido mais palatável para os eleitores centristas, levaram ao aumento do apoio à Frente Nacional e a Le Pen.

Impacto

Se Marine le Pen se tornasse a presidente da França, o impacto de sua vitória certamente extrapolaria em muito seu próprio país. Sua plataforma de campanha é fortemente contrária ao euro e, se ela fosse eleita, levaria a França a abandonar a moeda única, algo que causaria prejuízo importante à economia comum da zona do euro e enfraqueceria fortemente a União Europeia como potência mundial. Mas na França, assim como no resto da Europa, os problemas econômicos e a insatisfação com a situação atual estão levando muitas pessoas a buscar alternativas fora dos partidos tradicionais e apostar na possibilidade de a vida ser melhor sob um tipo de liderança diferente e radical –o tipo que Le Pen e a Frente Nacional se dizem capazes de oferecer.

“O contexto mudou”, diz Robert Rohrschneider, professor de ciência política na Universidade do Kansas. “A imigração e a oposição à integração alcançaram níveis historicamente altos. Além disso, o ‘Brexit’ e a eleição do presidente americano Donald Trump vieram reforçar os movimentos nacionalistas na Europa.”

A posse de Trump nos Estados Unidos no mês passado representou um momento de virada para os europeus de extrema direita, muitos dos quais têm a esperança de que sua presidência “empurre a maré transatlântica de populismo para as duas margens do oceano”.

“É verdade para o Brexit, é verdade para Trump. O mundo inteiro vem ganhando consciência do que estamos dizendo há anos”, falou Le Pen em entrevista à televisão.

Influência

Mas a chegada do magnata republicano à Casa Branca pode acabar não tendo tanta influência sobre a eleição francesa quanto alguns esperam.

A líder da Frente Nacional, Marine le Pen, esteve de fato entre os primeiros políticos de outros países a parabenizar Trump por sua vitória, no dia da eleição. Há poucos dias ela foi fotografada no edifício Trump Tower, em Nova York. Ela seguiu o caminho de Nigel Farage, outro importante líder populista europeu, que liderou a campanha pelo Brexit e posou com Donald Trump diante dos elevadores dourados da Trump Tower.

O único problema é a ambivalência dos partidários da extrema direita na Europa em relação a Trump. A vertente nacionalista deles frequentemente é imbuída de antiamericanismo, podendo colidir com os objetivos táticos da liderança de extrema direita na Europa. Embora Le Pen e outros possam enxergar Trump como potencial aliado no esforço contra o globalismo e o europeísmo, a base ainda o enxerga como o protótipo do americano tosco e deselegante.

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