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Vírus  HIV: nova proteína, batizada como eCD4Ig, bloqueia os pontos em que o vírus se conecta com receptores celulares. | Wikimedia Commons
Vírus HIV: nova proteína, batizada como eCD4Ig, bloqueia os pontos em que o vírus se conecta com receptores celulares.| Foto: Wikimedia Commons

Cientistas criaram uma nova molécula que pode bloquear a entrada de todas as variedades conhecidas do vírus HIV, que causa a aids, nas células humanas. A descoberta pode levar à criação de uma vacina terapêutica para pacientes que já são portadores do HIV, assim como a uma abordagem de terapia genética para prevenir a infecção.

Nas últimas três décadas, pesquisadores vêm tentando desenvolver uma vacina eficaz contra o HIV, assim como uma maneira de remover o vírus de pacientes já infectados. Mas o fato de o vírus evoluir muito rapidamente, criando mutações, tem impedido o sucesso dessa abordagem.

Agora, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Scripps, sediado em Jupiter (Flórida), disse ter identificado uma nova maneira de impedir que o HIV entre nas células, usando uma abordagem semelhante à da terapia genética ou de transferência. O trabalho foi publicado em 18 de fevereiro pela revista Nature.

Nova proteína

Estudo sobre nova proteína foi publicado na revista Nature, mas ainda não foi testado em humanos.Marcelo Camargo

O HIV normalmente invade as células por meio de dois receptores celulares. A nova proteína, batizada eCD4Ig, bloqueia os pontos em que o vírus se conecta a ambos receptores. Quando o HIV encontra a proteína, ele se vincula a ela, como se estivesse infectando uma célula; o vírus então passa por mudanças que impedem que ele venha a infectar células.

Segundo Michael Farzan, o pesquisador do Instituto Scripps que liderou outros 33 cientistas que participaram da pesquisa, a proteína neutralizou 100% das cepas resistentes do HIV-1, do HIV-2 e do SHIV-AD8, um cruzamento artificial entre HIV e o vírus da imunodeficiência símia, um parente do HIV encontrado em macacos. A proteína foi testada em culturas celulares, em ratos com sistemas imunológicos “humanizados” e em macacos.

“É absolutamente 100% eficaz”, disse Farzan. “Não há dúvida de que este é, de longe, o inibidor de entrada com o maior alcance.”

A eCD4Ig foi testada em apenas quatro macacos Rhesus e ainda não foi experimentada em humanos. Mas os pesquisadores, e outros cientistas não envolvidos com esse trabalho disseram que ela é promissora e deveria ser testada logo em seres humanos. Cerca de 35 milhões de pessoas no mundo são portadoras do HIV, mas apenas 13,6 milhões recebem tratamento.

“É uma abordagem muito inteligente e muito poderosa”, disse Nancy Haigwood, pesquisadora da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, que não participou do estudo. “Isso vai ser muito melhor do que qualquer vacina que existe no horizonte”, afirmou Haigwood, que também escreveu um comentário na Nature sobre o potencial da nova molécula como alternativa a uma vacina.

Pesquisadores estão otimistas para fazer testes em humanos

  • Nova York

Os cientistas criaram a proteína eCD4Ig, que bloqueia a entrada do HIV, fundindo elementos dos dois receptores celulares aos quais o HIV se vincula. A partir daí, eles injetaram material genético dessa proteína em músculos de macacos Rhesus, estimulando a produção da nova molécula. Eles então infectaram os macacos com versões múltiplas e híbridas do HIV, com até quatro vezes a quantidade de vírus necessária para infectar um grupo de controle. A proteína protegeu os macacos por 40 semanas. Farzan disse que os macacos não foram infectados mesmo com uma concentração de vírus 16 vezes maior do que a do grupo de controle, em testes realizados depois de o estudo estar concluído. Segundo ele, o primeiro passo seria medir a capacidade da molécula para impedir a reprodução do vírus em pacientes soropositivos.

Meta

“Acreditamos que nossa meta, agora, é mostrar que isso pode funcionar como terapia”, disse Farzan. O passo seguinte é testar a eficácia da molécula como vacina, em pessoas que não são portadoras do HIV, mas estão em risco grande de infecção. Philip Johnson, professor da Universidade da Pensilvânia que liderou aquele estudo, disse que a nova pesquisa tornou aquele conceito promissor. “Parece ser uma molécula extraordinariamente poderosa. Ela valida novamente a ideia de que nós deveríamos pensar de maneiras alternativas nas abordagens sobre como criar uma vacina contra o HIV”. Johnson afirmou que a nova molécula deveria ser testada imediatamente em humanos. “Para mim, os dados do estudo feito em primatas são notáveis.”

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