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| Foto: Timothy A. Clary/AFP

De muitas maneiras, a presidência de Trump começou no dia em que ele ganhou a eleição – e em apenas três semanas, Donald Trump já trouxe fortes mudanças à instituição.

Ele tuíta com prodigalidade, passando por cima da mídia tradicional e atingindo diretamente seu público; e ele diz que continuará a fazê-lo depois de tomar posse. Ele tem conduzido a busca por integrantes de seu gabinete abertamente, como uma seleção de elenco para “O Aprendiz”, conforme candidatos (e apoiadores) desfilam pelo saguão da Trump Tower. E ele continuará a fazer grandes comícios, como na última quinta-feira (1.º) em Cincinnati, quando lançou uma turnê de agradecimento em estados que foram essenciais para sua vitória.

Ao mesmo tempo, Trump também está se comportando como um republicano convencional. Ele nomeou membros do establishment do partido para postos elevados– a começar pelo presidente nacional do partido, Reince Priebus, para ser seu chefe de gabinete, e continuando com a governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, para ser embaixadora nas Nações Unidas, o deputado da Geórgia Tom Price para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e a ex-secretária do Trabalho Elaine Chao para secretária de Transportes.

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Ao fazer isso, Trump reassegurou os membros leais do Partido Republicano e consolidou seu apoio no partido. Suas primeiras escolhas convencionais para o gabinete adquiriram uma importância adicional após duas nomeações controversas: o executivo do site de notícias Breitbart Steve Bannon para estrategista chefe e Michael Flynn para conselheiro de segurança nacional.

Mas o lado franco-atirador e populista de Trump permanece sumamente importante: ajuda a manter os eleitores do lado dele, inclusive democratas da classe trabalhadora insatisfeitos e eleitores de primeira viagem que foram inspirados pela promessa de Trump de “fazer a América grande novamente”. A eleição de 2016 foi um clamor por mudança e, só pelo fato de ter ganhado, o bilionário homem de negócios/político novato já provocou uma ruptura. Agora ele está mostrando a cara que a mudança pode ter.

Talvez o mais surpreendente tenha sido a notícia dada terça-feira (29) de que o governo Trump havia firmado um acordo para manter quase mil empregos da empresa de ar condicionado Carrier em Indiana. A empresa tinha planejado transferir 1,4 mil empregos para o México, um tópico que Trump martelou implacavelmente durante a campanha.

Muitas questões permanecem a respeito do acordo, que envolveu concessões à Carrier arquitetadas, segundo relatos, por Trump e o vice-presidente eleito, o governador de Indiana, Mike Pence. Mas à primeira vista – e certamente para os trabalhadores envolvidos – a notícia envolvendo a Carrier foi uma notícia surpreendentemente boa.

“Belo acordo para os trabalhadores. @realDonaldTrump & @mike_pence já estão pondo os empregos americanos em primeiro lugar”, Priebus tuitou na quarta-feira (30).

Trump rendeu manchetes na mesma quarta com seu anúncio, via Twitter, de que ele e seus filhos adultos farão uma coletiva de imprensa em 15 de dezembro para tratar de preocupações a respeito de conflitos de interesse entre os negócios das organizações Trump e o papel de Trump enquanto presidente.

“Ainda que não seja obrigado pela lei a fazer isso, sinto que é vitalmente importante, enquanto presidente, que de maneira alguma haja um conflito de interesse com meus vários negócios”, Trump tuitou.

Ele prometeu deixar as organizações Trump “totalmente”, e disse que, na coletiva de imprensa, apresentará documentos jurídicos que o afastam das operações de suas empresas. Trump havia dito durante a campanha que seus filhos assumiriam seus negócios se ele conquistasse a presidência.

O perfil de Trump enquanto um ambicioso homem de negócios por si só faz dele um presidente eleito singular. E questões sobre conflitos de interesse, independentemente do que vier a ser anunciado em 15 de dezembro, certamente o perseguirão ao longo de seu mandato.

Mas é o talento populista de Trump para capturar e manter a atenção do público que promete fazer de sua presidência uma aventura diária. Sejam seus tuítes, suas viagens ou o reality show diário que é seu processo decisório, o público não consegue parar de olhar.

“Nos dias em que o presidente eleito John Kennedy se encontrava com prospectivos membros de seu gabinete em sua casa em Georgetown e o presidente eleito Richard Nixon selecionava seu gabinete no Hotel Pierre em Nova York, o processo era secreto”, diz John Gizzi, colunista político do site de notícias “Newsmax”. “Concorrentes e quase secretários de qualquer coisa só eram revelados mais tarde.”

Hoje, diz Gizzi, Trump trouxe “um brilhante e incomum raio de transparência” para o processo. “Agora nós temos a chance de ver Mitt Romney, Rudy Giuliani e o senador Bob Corker indo e vindo da Trump Tower, concorrendo pelo posto de secretário de Estado como se fossem finalistas em um dos concurso de beleza administrados por Trump.”

Gizzi compara o inovador uso do Twitter por Trump às conversas em frente à lareira do presidente Franklin Roosevelt que alcançava milhões de americanos diretamente por meio do rádio, evitando o filtro da mídia tradicional.

“De algumas maneiras, Trump é um Roosevelt do século 21 – um comunicador em massa que usa novas ferramentas para expor seus inimigos”, escreve Gizzi. “E, como Roosevelt em 1938, quando ele organizou comícios para tentar expulsar inimigos conservadores de dentro do Partido Democrata, um presidente Trump vai continuar a organizar comícios destacando sua versão das coisas. Fique atento para alguns grandes espetáculos conforme o Congresso tenta revogar o Obamacare.”

Mas talvez o fato mais extraordinário dos primeiros dias de Trump como presidente eleito é como ele conseguiu consolidar tão rapidamente seu apoio no Partido Republicano. É revelador que mesmo o ex-governador de Massachussetts Mitt Romney, que havia dito “Trump jamais”, considere hoje se tornar o secretário de Estado de Trump.

No Congresso, outro que dizia “Trump jamais” – o senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul – parece estar começando a simpatizar com o presidente eleito, e está disposto a lhe dar o benefício da dúvida, por ora.

“O fato de que ele vai organizar uma coletiva de imprensa com sua família e falar sobre como evitar qualquer surgimento de conflitos de interesse é um bom sinal”, o senador Graham diz ao site de notícias “Politico”. “Faz sentido para mim? Eu só vou esperar (...) mas quero aplaudi-lo por reconhecer o fato de que é um problema.”

Tradução de Pedro de Castro.
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