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| Foto: Dolf/amd/MARCEL ANTONISSE

Geert Wilders está mais popular que nunca. Com as eleições que ocorrerão em 15 de março, seu Partido para a Liberdade (PVV) tem chances de tornar-se o maior no Parlamento holandês. Suas ideias sobre a ameaça representada pelo Islã, que durante muito tempo ocuparam as margens da discussão política, ganham força na Europa e também nos Estados Unidos.

Em seu dia a dia, porém, Wilders vive isolado. Ameaçado de morte, o controverso líder vive sob proteção rígida desde 2004, vigiado 24 horas por dia por policiais armados. Ele mora em um esconderijo fornecido pelo governo e só encontra sua esposa uma ou duas vezes por semana. Quando aparece em público, a área para onde vai precisa primeiro ser vasculhada por seu aparato de segurança.

O PVV não respondeu a pedidos de comentários sobre o esquema de segurança que cerca Wilders. Um representante do Ministério da Segurança e Justiça disse que não poderia responder perguntas porque “isso poderia colocar em risco a pessoa que está sendo protegida”. Mas alguns relatos nos proporcionam um vislumbre do mundo enclausurado de Geert Wilders.

O mais revelador talvez seja o livro “Marked for Death: Islam’s War Against the West and Me” (Marcado para morrer: a guerra do Islã contra o Ocidente e contra mim), escrito por Wilders e lançado em 2012.

Pode ganhar, mas não leva

Nos últimos dias, o partido de Geert Wilders perdeu espaço nas pesquisas, ainda assim ele aparece empatado ou um pouco à frente da legenda do atual primeiro-ministro, Mark Rutte, de centro-direita, ambos na casa dos 25%. Mesmo que seja o mais votado, Wilders dificilmente conseguirá formar uma coalizão para formar um governo. pois os demais partidos rechaçam seu discurso radicalmente isolacionista.

“Quando vou ao cinema, as últimas fileiras de assentos são liberadas para mim e meus guardas”, escreveu Wilders. “Entramos depois de o filme ter começado e saímos antes do fim. Na última vez que assisti ao começo ou o fim de um filme num cinema da Holanda, George W. Bush ainda estava em seu primeiro mandato como presidente dos EUA.” O esconderijo de Wilders tem um “quarto do pânico” para onde ele pode fugir na eventualidade de “um dos seguidores da ‘religião da paz’ conseguir passar por minha equipe de segurança permanente e penetrar em minha casa”.

O esquema de proteção gera alguns momentos estranhos. Em 2005, uma escolta policial acompanhou o político ao funeral de seu pai. Wilders conta que no caminho de volta a seu esconderijo ele começou a chorar diante dos policiais, provocando reações de constrangimento entre eles, que praticamente não o conheciam. O esquema de segurança é necessário mesmo quando ele viaja ao exterior. Segundo a Reuters, vários esconderijos precisam ser preparados para Wilders quando ele vai à Hungria visitar a família de sua esposa.

O esquema atual de segurança está muito distante do que era praticado na fase inicial da proteção dada a Wilders, quando ele e sua mulher às vezes tinham que dormir em um local diferente a cada noite, incluindo algum tempo hospedados em uma prisão. Quando Wilders se aventurava no mundo externo, tinha que se disfarçar “com peruca castanha, chapéu e bigode falso”.

A necessidade dessa proteção não chega a ser questionada. Wilders, ativo na política desde o início da década de 1990, recebeu uma escolta pessoal de segurança pela primeira vez em 2004. Foi quando extremistas postaram um vídeo ameaçando decapitá-lo.

Mais tarde no mesmo ano, o cineasta holandês Theo van Gogh foi morto a tiros enquanto caminhava numa rua movimentada de Amsterdã. Seu assassino, holandês de origem marroquina, prendeu a seu corpo uma carta de cinco páginas dizendo que Van Gogh e outros políticos holandeses mereciam morrer por terem insultado o Islã. Esse assassinato mudou a vida de Geert Wilders para sempre.

Proteção policial

A proteção policial dada aos críticos holandeses do islã, incluindo Wilders e a então deputada de origem somali Ayaan Hirsi Ali, foi intensificada depois de seus nomes serem encontrados numa lista redigida por um grupo extremista de políticos a serem assassinados. A escala do problema pegou as autoridades holandesas de surpresa. “Não vemos isto na Holanda desde o século 17, quando um político foi assassinado”, disse Vincent van Steen, então porta-voz da agência de inteligência holandesa.

As ameaças não diminuíram, mesmo com a proteção policial. Em 2008 a revista alemã “Der Spiegel” informou que Wilders recebera quase 303 ameaças à sua integridade física, compondo três quartos de todas as ameaças recebidas por políticos holandeses naquele ano. E ele se tornou alvo de extremistas em todo o mundo. Em 2010 um imã australiano popular instruiu seus seguidores online a decapitarem Wilders, e numa revista publicada em 2013, a Al Qaeda na Península Arábica incluiu seu nome numa lista de figuras públicas a serem atacadas.

O aparato de segurança que cerca Wilders pode ser visto como controverso na Holanda. O custo da proteção dada ao líder do PVV nunca foi revelado, mas acredita-se que chegou a milhões de euros nos últimos 13 anos, e não há fim à vista.

Alguns questionam se as opiniões políticas de Wilders teriam sido influenciadas por seu isolamento. Inicialmente identificado com a direita libertária, ele sempre criticou o Islã, porém amarrava seu discurso com a defesa dos direitos das mulheres e dos gays. Isso não se perdeu no discurso de Wilders, mas o tom dominante é do isolacionismo e do repúdio à União Europeia. Críticos dizem que sua visão endureceu desde as ameaças contra ele.

“Acho impossível dizer que o fato de estar vivendo em esconderijos e sob proteção 24 horas por dia, sete dias por semana, há 13 anos não o afetou”, nos disse em e-mail Cas Mudde, cientista político holandês na Universidade da Georgia e estudioso do populismo europeu. “Wilders endureceu sua postura em relação ao Islã e aqueles que o ‘defendem’. Sua luta contra o ‘Islã global’ tem um aspecto claramente pessoal.”

O acadêmico Hans de Bruijn, que estudou o discurso de Wilders, disse que, se os argumentos do político não mudaram em função de seu isolamento, os meios de comunicação que ele emprega mudaram, em especial com a adoção precoce e bem-sucedida das mídias sociais. “É claro que o Twitter condiz com o estilo de Wilders, mas também há uma razão prática para usá-lo –devido ao esquema de proteção policial, as oportunidades de Wilders organizar encontros cara a cara com seus partidários são muito limitadas.”

E, se o isolamento é a cruz que Wilders tem que carregar, ele alega orgulhar-se dela. Em outubro ele disse em um tuíte que perdeu sua liberdade 12 anos atrás. Mas, falou, embora sinta falta dela, essa mesma liberdade é algo “que precisa ser defendido todos os dias”.

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