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A crise política do Paraguai e o impeachment do presidente Fernando Lugo podem resultar na expulsão do país do Mercosul. Isso porque a decisão de afastar Lugo do cargo pode ser interpretada como contrária ao artigo 5º do Protocolo de Ushuaia, que criou o bloco econômico e obriga os países integrantes a manterem regimes democráticos de governo.

Para o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e especialista em América Latina Moisés Marques, a saída de Lugo pode ser encarada pelos países do Mercosul como um "golpe branco" e significaria "a morte econômica" do País vizinho. "Pelo que os governos dos outros países já sinalizaram, o Paraguai seria expulso do Mercosul e ficaria ilhado economicamente", avaliou Marques. "Além de ser um satélite brasileiro, principalmente na produção agrícola, o Paraguai é um país sem saída para o mar e depende dos vizinhos".

Na avaliação do professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Mario Gaspar Sacchi, os países vizinhos podem ainda criar controles alfandegários e barreiras que impediriam o Paraguai de exportar carne, soja e alguns produtos manufaturados. "O Brasil pode fechar o corredor que dá para o porto de Paranaguá (PR)", exemplificou.

O professor de relações internacionais da Universidade Anhembi Morumbi José Aparecido Rolon tem a mesma visão de Marques e diz que o impeachment coloca em questão as relações do Paraguai com o bloco para se sustentar economicamente. "Não há interesse em perder essas relações, especialmente com o Brasil, que é um parceiro importantíssimo", disse Rolon, acrescentando que a cláusula democrática do bloco atua como uma âncora para a manutenção da democracia interna do país.

Rolon avalia, no entanto, que o impacto imediato após eventual queda de Lugo seria essencialmente político, com um aumento das incertezas. "Isso representa um retrocesso para a democracia e para o avanço do desenvolvimento econômico-social do Paraguai". Segundo ele, se não houver sucesso na pressão da Unasul para a sustentação da democracia no País vizinho, pode haver também o retorno dos questionamentos em torno da existência do Mercosul como bloco econômico.

Marques, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, avalia ainda que a questão mais complicada para os dois principais países do Mercosul - Brasil e Argentina - seria a questão da energia produzida pelo Paraguai na usina de Itaipu e comercializada com os vizinhos. Mas até nessa questão, segundo o professor, o Paraguai poderia sair perdendo, pois foi justamente sob o governo de Lugo que houve uma melhor precificação para o país da energia de Itaipu vendida para ambos os países vizinhos.

Ainda sob o ponto de vista político, Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp, avalia que o Paraguai estaria sendo vítima de oportunismo pois Lugo tem pouco mais de um ano de mandato pela frente e a abertura dessa crise daria mais visibilidade e cacife para a oposição.

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