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Havana sediou a primeira aproximação entre as igrejas do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1054 | YAMIL LAGE/AFP
Havana sediou a primeira aproximação entre as igrejas do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1054| Foto: YAMIL LAGE/AFP

Cuba ganhou um papel internacional inesperado para um país que teoricamente estava isolado: já em paz com os Estados Unidos, se consolidou como mediador confiável para a solução do conflito armado na Colômbia e da aproximação do cristianismo após um cisma de mil anos.

Como a pequena e única ilha comunista do Caribe fez para atuar nas grandes ligas da diplomacia internacional? Para os especialistas, a resposta não está apenas em seu discreto mas eficaz aparato diplomático, mas também em seu passado de amizades e inimizades.

“De um estado isolado no hemisfério ocidental, concentrado em revolucionar o sistema internacional, Cuba passou a desfrutar a imagem de ser um país em transformação com uma relação de cooperação e diálogo com os poderes” estabelecidos, explicou à AFP Arturo López-Levy, cientista político da Universidade do Texas Valle de Río Grande.

O especialista acredita que o governo de Raúl Castro é um interlocutor privilegiado entre velhos antagonistas. “Vários destes atores do status quo como o governo colombiano e o Vaticano querem aproveitar as credenciais que Cuba tem com seus oponentes, com as FARC e com o Kremlin”, agregou.

O governo de Raul Castro, que substitui o irmão Fidel no poder em 2006, é há três anos fiador e anfitrião de negociações de paz entre guerrilheiros comunistas e o governo da Colômbia.

Inspirador e aliado dos movimentos rebeldes latino-americanos dos anos sessenta, o governo castrista é hoje um dos arquitetos do acordo que provavelmente vai colocar um fim, ainda este ano, depois de meio século, no único conflito armado que ainda existe no continente.

Capital da unidade

Para incrementar sua importância, Havana sediou na sexta-feira a primeira aproximação entre as igrejas do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1054. Castro, um ateu de 84 anos, foi testemunha privilegiada de beijos e abraços trocados pelo papa Francisco e o patriarca russo Kirill durante a reunião de algumas horas realizada no aeroporto de Havana.

“Se continuar assim, Cuba será a capital da unidade”, disse o papa Francisco antes de embarcar para o México. Na declaração conjunta do papa e de Kirill, a ilha é chamada de “cruzamento entre Norte e Sul, Leste e Oeste”.

Para Brian Fonseca, analista internacional e diretor do Instituto Jack Gordon, com sede na Flórida, Cuba é o “cenário de dois feitos globais de enorme importância”, o que “provavelmente legitimará ainda mais o papel de Castro como intermediário nos assuntos globais”, segundo declarações à AFP.

Em 2015, Cuba se reconciliou com os Estados Unidos, seu inflamado inimigo da Guerra Fria, que ainda mantém o embargo que imposto em 1962, enquanto fazia pontes entre adversários externos.

Na Colômbia, por exemplo, poucos questionam que sua influência sobre a guerrilha foi decisivo para que as Farc, atingidas militarmente, aceitassem negociar a paz depois de três tentativas fracassadas de diálogo.

Mas menos visível, embora igualmente ou mais importante, é o seu papel no diálogo inter-religioso, afirmam os especialistas. Antes de ser proclamado laico, Cuba foi um Estado oficialmente ateu entre 1976 e 1992.

Este é “um dos segredos mais bem guardados sobre as mudanças em Cuba. O país não é mais o mesmo, não só na economia (...). Esta abertura permitiu que o país fosse visitado por três papas, o patriarca ortodoxo russo, líderes protestantes e muçulmanos de primeira classe, e até mesmo o rabino-chefe de Israel”, comentou Lopez- Levy.

O governo de Castro iniciou uma lenta abertura econômica que desperta mais entusiasmo do lado de fora do que entre os cubanos, castigados durante anos pelas sanções econômicas dos Estados Unidos, e que ainda esperam uma reforma mais agressiva que deixe para trás os tempos de dificuldades.

Para os críticos do governo cubano, os sucessos na frente externa poderiam muito bem ter um efeito indesejado sobre os moradores da ilha.

“O que vimos durante o último ano é que na medida em que o governo de Havana obtém sucessos diplomáticos, as reformas internas ficam estagnadas, e até retrocedem”, aponta Sebastián Arcos, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas, da Universidade Internacional da Flórida.

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