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Sob o retrato de Fidel Castro, idosas de Havana assistem ao comunicado do governo cubano sobre a retomada das relações com os EUA. | Alexandre Meneghini / Reuters
Sob o retrato de Fidel Castro, idosas de Havana assistem ao comunicado do governo cubano sobre a retomada das relações com os EUA.| Foto: Alexandre Meneghini / Reuters

Cuba e Estados Unidos anunciaram ontem que deverão reabrir em 20 de julho embaixadas em Washington e Havana, no mais importante passo até agora na retomada de relações entre os dois países. A reabertura era esperada desde dezembro, quando o descongelamento das relações foi oficializado pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro. As relações entre os dois países foram cortadas em 1961, no auge da Guerra Fria entre EUA e a extinta União Soviética.

Carta foi entregue pelo chefe da seção de negócios americano s em Cuba, Jeffrey DeLaurentis (à esquerda), ao ministro cubano Marcelino Medina.Alejandro Ernesto / EFE

A carta em que Obama trata sobre a restauração das relações diplomáticas entre os dois países foi entregue ontem pelo chefe da seção de negócios americanos em Cuba, Jeffrey DeLaurentis, ao ministro interino de Relaciones Exteriores de Cuba, Marcelino Medina, em Havana.

Datada de 30 junho e endereçada a Castro, a carta confirmou a intenção de restabelecer as relações. “Ao tomar essa decisão, os Estados Unidos estão animados pela intenção recíproca de desenvolver relações de respeito e cooperação entre nossos dois povos e governos”, escreveu Obama.

Um pouco antes, em Havana, a televisão cubana informou que Castro enviou uma carta a Obama na qual confirmava a intenção de restabelecer as relações. “A República de Cuba decidiu restabelecer relações diplomáticas com os Estados Unidos e abrir missões diplomáticas permanentes em nossos respectivos países”, disse o comunicado.

Idas e vindas

No século passado, americanos ocuparam Cuba e apoiaram uma ditadura. Relações foram cortadas após revolução

1898 - Estados Unidos e Espanha entram em guerra por disputas territoriais no Caribe. Os EUA vencem e Cuba obtém a independência do Império Espanhol, mas passa a ser um protetorado americano.

1906 - O presidente americano Theodore Roosevelt determina a invasão de Cuba. A Ilha fica ocupada até 1909.

1917 - Os EUA intervêm após revolta contra o presidente Mario García Menocal.

1933 - Um movimento conduz Fulgênio Batista ao poder em Cuba. Na Segunda Guerra Mundial, ele colabora com os Aliados. Batista deixa o poder em 1944.

1952 - Fulgêncio Batista volta ao poder após um golpe militar e institui um governo autoritário com apoio dos EUA.

1959 - Comandada por Fidel Castro, a Revolução Cubana depõe Fulgêncio Batista.

1961 - O presidente norte-americano Dwight Eisenhower rompe as relações diplomáticas com Cuba. A base naval de Guantánamo permanece sob posse dos EUA, com base em um acordo anterior.

1961 - Já com John F. Kennedy na Presidência, a CIA organiza dissidentes de Cuba para invadir a ilha. A invasão da Baía dos Porcos fracassa. Começam as sanções à ilha.

1962 - Os EUA descobrem que Cuba abriga mísseis soviéticos. A tensão chega a seu ponto máximo.

1982 - Os EUA incluem Cuba na lista de países que apoiam o terrorismo.

2014 - Os presidentes Barack Obama e Raúl Castro anunciam negociações para retomar as relações diplomáticas.

2015 - Os EUA retiram Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo. Os dois países anunciam a reabertura de suas embaixadas.

Mais tarde, em pronunciamento na Casa Branca, Obama disse que os EUA vão hastear a bandeira norte-americana sobre sua embaixada em Havana. “Um ano atrás poderia parecer impossível que os Estados Unidos um dia voltariam a hastear nossa bandeira sobre uma embaixada em Havana”, afirmou Obama. “É um avanço histórico em nossos esforços para normalizar as relações com o governo e o povo cubanos e iniciar um novo capítulo com nossos vizinhos nas Américas”.

Trâmite

Para colocar em ação a reabertura, o Departamento de Estado dos EUA precisa comunicar o Congresso americano com 15 dias de antecedência. As chances de bloqueio à retomada são mínimas, admitem governo e oposição, apesar das críticas dos republicanos à medida (leia ao lado).

A expectativa é que o prédio que hoje abriga a seção de negócios americana em Havana seja aberto como embaixada. Ao mesmo tempo, Cuba faz reformas na casa onde fica sua seção de negócios em Washington. O local teve sua cerca pintada e ganhou um mastro.

A retirada dos embargos a Cuba deverá ser o próximo passo. O fim dos embargos é uma das condições exigidas pelo governo cubano. Havana também pede que a base militar de Guantanamo volte para a soberania cubana.

Republicanos criticam

Membros do Partido Republicano criticaram a reabertura da embaixada do país em Cuba. O presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, disse que o anúncio do presidente Barack Obama dá “legitimidade” à “brutal ditadura” dos irmãos Raúl e Fidel Castro.

“A administração Obama está oferecendo aos Castro o sonho da legitimidade sem obter uma só coisa para o povo cubano, que está sendo oprimido por esta brutal ditadura comunista”, disse Boehner em nota. “As relações com o regime dos Castro não deveriam ser revisadas, e muito menos normalizadas, até que os cubanos desfrutem da liberdade”.

O pré-candidato à Casa Branca Jeb Bush também criticou a reaproximação com Cuba. “Me oponho à decisão de abraçar ainda mais o regime dos Castro com a abertura de uma embaixada em Havana”, afirmou. “Enquanto os americanos se preparam para celebrar o aniversário de nossa liberdade (4 de julho) da tirania e o compromisso com os princípios democráticos, não é pouca ironia que o presidente Obama se prepare para abrir uma embaixada em Havana”.

O governo brasileiro saudou a reaproximação entre os dois países. “Trata-se de passo importante no processo de normalização das relações entre dois países com os quais o Brasil mantém tradicionais e profundos vínculos de amizade e cooperação”, afirmou o Itamaraty em nota.

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