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Gislaine (1ª agachada a partir da direita), com refugiados: atentados de Paris dificultaram o trabalho. | /Acervo Pessoal
Gislaine (1ª agachada a partir da direita), com refugiados: atentados de Paris dificultaram o trabalho.| Foto: /Acervo Pessoal

Na província de Quebéc, uma curitibana assistia apreensiva pela tevê ao massacre na França no último dia 13 de novembro. Terroristas de um grupo religioso extremista, o Estado Islâmico, faziam 130 vítimas em Paris, alegadamente “em nome do Iraque e da Síria”. Além de consternada pela brutalidade, Gislaine de Moraes, de 34 anos, sabia que, mesmo a milhares de quilômetros, aquilo impactaria sua rotina. Se o Canadá é a terra prometida para muitos refugiados em busca de uma vida melhor – às vezes, em busca apenas da manutenção da vida –, ela é o passaporte.

Entenda por que o Canadá é a “terra prometida”

Há três anos Gislaine é conselheira de emprego em um serviço governamental chamado SITO (Service Intégration Travail Outaouais), um órgão que ajuda refugiados a conseguir uma colocação no mercado de trabalho do Canadá. “Quando eles chegam, recebem ajuda social. Porém, o meu papel é mostrar a realidade do mercado de trabalho canadense e ajudá-los a se adaptar à nova cultura para que não somente consigam um emprego, mas que também se mantenham empregados”, conta. Nos programas do SITO, os refugiados são aconselhados e colocados em estágios. Dependendo do desempenho, ganham a vaga efetiva na empresa. Mas sem favorecimento, ao estilo canadense.

Entre os acolhidos, estão imigrantes que fogem dos regimes autoritários da África, da pobreza no Haiti, do narcotráfico na Colômbia, mas, principalmente, da terrível guerra civil e das atrocidades do Estado Islâmico na Síria. Só do país do Oriente Médio devem chegar 25 mil pessoas até o último dia de dezembro. Pessoas que veem no sempre receptivo Canadá uma esperança de recomeço.

Costumava ser mais fácil. Mas essa política de acolhimento, endossada pelo recém-eleito primeiro-ministro Justin Trudeau, foi estremecida com os tiros em Paris. “Notei que a população está mais dividida em relação à recepção destes refugiados [após os ataques]. Elas ficaram assustadas e preocupadas. Várias províncias do Canadá têm questionado a rapidez com a qual o Governo Federal quer receber os milhares de refugiados. Tem-se falado em retardar esta data para adotar medidas de segurança e um controle de verificação mais reforçado”, diz.

Espelho

Mesmo no Brasil, a curitibana sempre esteve envolvida em programas de voluntariado e ações sociais. Mas agora é especial. De certa forma, ela vê nos anseios dos refugiados que ajuda um pouco de sua história. Há 8 anos, abandonou a segurança sentimental de estar perto dos amigos e familiares e o curso de Psicologia na UFPR para tentar uma vida melhor no Canadá com o marido e a filha. “Eu amo muito o meu Brasil, mas eu queria proporcionar aos meus filhos mais qualidade de vida, incluindo segurança, oportunidade de estudar em inglês e francês e conhecer novos lugares”. A família cresceu com a chegada do caçula, nascido no Canadá e hoje com 5 anos.

Foi também no país que teve a chance de consolidar uma carreira. Mas em outra área, Administração com ênfase em Recursos Humanos. “Eu havia escolhido a Psicologia [no Brasil] pois acreditava ser o caminho real de ajuda para as pessoas”. Não errou a mira, já que seu trabalho exige virtudes além das técnicas. “Em alguns casos recebo pessoas vindas de campos de refugiados onde as condições eram muito precárias. Pessoas que viveram por muito tempo em situação muito difícil. Por várias vezes eu atendi profissionais qualificados, mas que devido aos traumas e sofrimentos têm uma baixa autoestima e medo do recomeço. Neste caso minha primeira atitude é ouvi-las e assegurá-las de que com a atitude certa e vontade de vencer eles podem começar uma nova carreira profissional.”, diz.

“Uma das coisas mais gratificantes é encontrar uma destas pessoas e ela atribuir à minha ajuda o seu sucesso profissional. Reafirma o significado do meu trabalho”, conta a curitibana.

A terra prometida

O governo canadense tem um modelo de acolhimento elogiado no mundo todo. Ao chegar a Quebec, por exemplo, os refugiados têm as necessidades básicas, como alimentação, moradia e higiene, supridas. Depois, o governo do Quebec direciona estas pessoas para a aprendizagem do francês, processo aqui chamado de “francização”. Uma vez que tenham o domínio básico do idioma elas estão então aptas para iniciar a busca por um emprego. É neste momento que são direcionadas ao SITO, organização em que Gislaine Moraes trabalha .

Os recém-chegados ao país nesta condição recebem o visto de refugiado, que lhes dá direito aos mesmos benefícios de um imigrante permante, sendo vetada apenas a possibilidade de votar nas eleição. “Eles recebem todo o tipo de assistência necessária para recomeçar a sua vida. Podem permanecer quanto tempo quiserem, e depois de alguns anos podem até mesmo solicitar a cidadania canadense”, diz Gislaine.

Apesar do apoio, na hora de conseguir emprego, não há favorecimento. “Um empregador não vai contratar um candidato porque esta pessoa é um refugiado ou não, ele irá contratar um candidato em função das competências e qualidades que este apresentar, logo o meu papel é de ajudar estas pessoas a compreenderem o funcionamento do mercado de trabalho canadense e ajudá-los a identificar as suas qualidades e competências que possam responder à estas exigências”, diz.

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