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| Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

Após dois dias de homenagens póstumas, as cinzas de Fidel Castro chegaram à cidade de Santa Clara, uma das escalas mais emblemáticas da viagem de quatro dias por Cuba, que percorre de maneira inversa a histórica rota da revolução cubana.É nesta cidade onde está enterrado Che Guevara, que lutou ao lado de Fidel. A viagem prosseguirá até Santiago de Cuba, o berço da revolução e onde as cinzas devem ser enterradas no domingo.

Coberta pela bandeira cubana, a urna de cedro com as cinzas de Fidel Castro partiu de Havana sobre uma estrutura adornada com flores brancas puxada por um veículo militar.

RONALDO SCHEMIDT/AFP

Até então exposta em um salão do ministério das Forças Armadas desde a cremação do “Comandante”, a urna partiu às 7h16 (10h16 de Brasília) a bordo de um comboio que deve seguir por um trajeto de 950 quilômetros, percorridos na direção oposta que o percurso feito por Fidel Castro no momento da vitória da sua guerrilha em 1959.

“Eu sou Fidel!”, “Somos todos Fidel!” e “Viva Fidel”, gritavam os milhares de cubanos que foram às ruas para se despedir do homem que os governou por quase meio século e que faleceu na sexta-feira aos 90 anos de idade.

Operários, estudantes e médicos se emocionaram, muitos aos prantos, durante a passagem das cinzas do pai da Revolução cubana, que instaurou um regime socialista que universalizou a educação e a saúde públicas, mas que foi implacável com a dissidência.

“Choramos muito desde que soubemos da notícia. Ao ver as cinzas, a gente sente um aperto no peito. Chorei por mim e por meus pais, que também foram revolucionários e seguidores de Fidel”, afirmou na cidade de Cienfuegos Orieta Cantero, que esperava a chegada da caravana.

Autoridades do governo, do Partido Comunista e Dalia Soto del Valle, viúva de Fidel, assistiram a cerimônia solene militar de despedida da comitiva.

Desandar o caminho revolucionário

ADALBERTO ROQUE/AFP

A última viagem de Fidel Castro é carregada de simbolismo. Em 1959, um enérgico líder guerrilheiro de 32 anos saiu de Santiago de Cuba rumo a Havana, onde proclamou a vitória da Revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista. Na quarta-feira, seus restos percorreram um longo caminho ao contrário por boa parte do país que Fidel transformou com fórmulas de inspiração soviética e em aberto desafio aos Estados Unidos.

A primeira escala em Santa Clara também é simbólica, pois na cidade está enterrado seu companheiro de armas e amigo Ernesto Che Guevara, a quem Fidel conheceu em 1955.

O argentino conquistou esta cidade em dezembro de 1958, depois de uma dura batalha. Poucas horas depois, Batista deixou o governo e fugia da ilha. Trinta anos depois de sua morte na Bolívia em 1967, o icônico Che foi enterrado com honras em uma cerimônia em Santa Clara, presidida por Fidel.

As cinzas de Fidel Castro serão sepultadas em 4 de dezembro no cemitério de Santa Ifigenia, em Santiago de Cuba, onde repousam os restos do também mítico José Martí, herói da independência Cuba.

Incerteza

PEDRO PARDO/AFP

A morte de Fidel reaviva as perguntas sobre o futuro do socialismo em Cuba, e das relações com os Estados Unidos agora que Donald Trump assumirá a Casa Branca.

O modelo da economia planejada fez água com o colapso do bloco comunista, e hoje Raúl Castro executa uma cuidadosa abertura ao trabalho privado e ao investimento estrangeiro, enquanto incentiva uma histórica aproximação com Washington.

O irmão caçula de Fidel assumiu o poder em 2006 a partir de uma doença intestinal que obrigou o máximo dirigente da Revolução a soltar as rédeas do país. A grande pergunta é o que vai acontecer a partir de 2018, quando o presidente Raúl Castro, de 85 anos, deixar o poder, assim como prometeu.

“Se a morte de Fidel resultar em um ritmo um pouco mais acelerado de reformas em Cuba, a aproximação com os Estados Unidos pode ser animado. É uma oportunidade para fortalecer a relação bilateral, mas muito dependerá do que acontece no governo cubano”, comentou Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, um centro de análises de Washington.

Trump ameaçou cancelar o processo de aproximação de Cuba, a menos que a ilha aceite negociar um “acordo melhor”, ou seja, atender às reivindicações de maior abertura econômica e na área dos direitos humanos.

Como nos velhos tempos, centenas de milhares de pessoas se reuniram na terça-feira na Praça da Revolução, em Havana, para um ato de despedida do “Comandante em Chefe”, diante dos principais líderes da esquerda latino-americana. Europa e Estados Unidos se limitaram a enviar delegações de baixo perfil, com a exceção do premiê grego, Alexis Tsipras.

“Agora cabe a nós continuar. Fidel permanece invicto entre nós”, clamou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

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