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Prédio com imagem de Hugo Chávez: figura do ex-presidente ainda está presente no país | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Prédio com imagem de Hugo Chávez: figura do ex-presidente ainda está presente no país| Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Algumas farmácias de Maracaibo, uma das mais importantes cidades da Venezuela, passaram a pedir certidão de nascimento e última ultrassonografia, no caso de clientes grávidas, na venda de fraldas. A medida reflete a dramática deterioração da situação econômica do país, que desde a chegada de Nicolás Maduro ao poder, em abril de 2013, vive uma escassez de alimentos e produtos básicos. Há exatos dois anos da morte de Hugo Chávez, o atual presidente enfrenta, ainda, protestos sociais cada vez mais intensos, aos quais responde com uma política autoritária e repressiva que vai, na opinião de analistas locais, muito além dos limites de quando seu antecessor estava no governo.

Quando Chávez comandava a revolução bolivariana, disse ao Globo o economista Adrúbal Oliveros, da Ecoanalítica, havia “momentos de desabastecimento”. Com Maduro, o problema é permanente e convive com a taxa de inflação mais alta do mundo - este ano a projeção privada é de 150% - e indicadores de pobreza similares aos de 1998. “Com Chávez, a Venezuela tinha um governo cívico-militar. Com Maduro, passou a ter um governo militar-cívico”, afirmou Carlos Correa, da ONG Espaço Público.

Para ele, Maduro “tem menos carisma e compensa essa fraqueza com repressão”. “A partir de fevereiro de 2014 (quando houve uma onda de manifestações), as ações repressivas foram muito duras e articuladas com um discurso que coloca os manifestantes como inimigos, uma visão muito militar”, apontou Correa, que destacou, também, a maior concentração de meios de comunicação em mãos de empresários alinhados com o governo.

“O invencível”, diz pintura em muro de CaracasCarlos Garcia Rawlins/Reuters

Com Chávez, disse, em torno de 60% da mídia eram oficialistas. Hoje, seriam 80%, após a compra, por empresários governistas, de empresas como a TV Globovisión e o jornal El Universal. Já o jornal Tal Cual, dirigido por Teodoro Petkoff, virou semanário pela “permanente perseguição oficial”, segundo seus donos.

Dados mencionados pela Anistia Internacional indicam que, em 2014, 43 manifestantes morreram nas passeatas opositoras, mais de 870 foram feridos e três mil, detidos. As denúncias sobre torturas se multiplicaram, e a perseguição a dirigentes oposicionistas preocupa cada vez mais organismos como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, mês passado, surpreendeu governos estrangeiros, que alertaram para o aprofundamento da crise - nesta sexta-feira, chega a Caracas uma missão da União de Nações Sul-americanas (Unasul).

“Com Chávez, havia um mínimo de legalidade, mas com Maduro, o país entrou abertamente num processo de repressão explícita”, assegurou Tulio Hernández, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV). Segundo o professor, atualmente cerca de cem líderes estudantis estão presos, e pelo menos 350 não podem sair do país e devem se apresentar periodicamente nos tribunais. “A era Chávez foi autoritária, mas não tão repressiva, policial e até mesmo assassina. Dois dos principais dirigentes da oposição estão presos e o próximo deve ser o deputado Julio Borges (do Primeiro Justiça, principal partido opositor)”, enfatizou Hernández.

Pintura de Chávez em muro de CaracasCarlos Garcia Rawlins/Reuters

Nesta quarta-feira (6), Henrique Capriles, governador do estado de Miranda e principal líder opositor ainda livre, afirmou que o governo poderia suspender as eleições legislativas deste ano. Pesquisas indicam que a oposição tem grandes chances de vencer e ampliar presença no Parlamento. “Nunca um governo tinha enfrentado um cenário com essa diferença (nas pesquisas). São capazes de qualquer coisa”, declarou Capriles.

O presidente acusa a oposição de fazer “guerra econômica”, enquanto os indicadores só pioram. Segundo dados de universidades privadas, a pobreza alcança 48,4%, superando os 45% de 1998, quando Chávez venceu sua primeira eleição. O relatório “Condições de Vida da População Venezuelana 2014”, elaborado pela Universidade Católica Andres Bello, a UCV e a Universidade Simón Bolívar, indicou que a recessão de 2013 e 2014 fez o país recuar nas melhoras dos anos de alta do petróleo (com Chávez) e levou a um aumento da pobreza a níveis de épocas de ajuste econômico e comoção social. “O país precisa de um plano de ajuste e estabilização, mas isso teria custos políticos que Maduro não quer pagar e representaria um giro de 180 graus”, explicou Oliveros.

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