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Uso do CFC foi proibido a partir do Protocolo de Montreal, assinado em 1987 | Pixabay
Uso do CFC foi proibido a partir do Protocolo de Montreal, assinado em 1987| Foto: Pixabay

As emissões de uma substância química proibida e destruidora de ozônio estão aumentando, aponta um grupo de cientistas, sugerindo que alguém pode estar fabricando secretamente o poluente em violação a um acordo internacional. 

As emissões de CFC-11 aumentaram 25% desde 2012, apesar de a substância química fazer parte de um grupo de agentes destruidores da camada de ozônio, que foram gradualmente proibidos a partir do Protocolo de Montreal, assinado em 1987. 

“Tenho feito estas medições há mais de 30 anos e esta é coisa mais surpreendente que eu vi”, diz Stephen Montzkam, um cientista da National Oceanic and Atmospheric Administration, que liderou a pesquisa. “Fiquei assombrado com isto.” 

É um resultado angustiante para aquilo que é considerado como uma história de sucesso na área na área ambiental, na qual países alarmados pelo crescente aumento do buraco na camada de ozônio tomaram medidas para reduzir gradualmente a emissão do CFC. 

Investigação internacional

É provável que o resultado do levantamento acabe gerando uma investigação internacional sobre a fonte misteriosa. Oficialmente, a produção de CFC-11 deveria ser nula. É o que os países tem reportado à área das Nações Unidas que monitora e fiscaliza o cumprimento do Protocolo de Montreal. Mas, com as emissões em alta, os cientistas suspeitam que alguém está fabricando a substância química em desafio à proibição. 

“Alguém está trapaceando”, diz Durwood Zaelke, fundador do Institute for Governance and Sustentaible Development e um especialista sobre o Protocolo de Montreal, comentando os resultados da nova pesquisa. 

Há uma pequena possibilidade de que seja uma emissão não intencional, mas há fortes evidências de que esteja realmente sendo produzido.” 

Um observatório americano, localizado no Havai, encontrou o CFC-11 misturado com outros gases característicos de uma fonte de algum lugar no Leste da Ásia. Os cientistas não puderam obter mais detalhes sobre a fonte. 

Zaelke ficou surpreso com o que foi encontrado, não apenas porque a substância química foi banida há tempo, mas também porque existem alternativas a ela. Segundo ele, isto torna difícil de imaginar qual seria o mercado atual para o CFC-11. 

Pesquisa conjunta

A pesquisa foi liderada por pesquisadores National Oceanic and Atmospheric Administration, dos Estados Unidos, com o apoio de cientistas holandeses e ingleses. Os resultados foram publicados na revista científica Nature. 

Eles consideraram uma série de hipóteses para explicar o aumento, como mudança em padrões atmosféricos que gradualmente removem os gases CFC na estratosfera, um aumento na taxa de demolição de prédios contendo resíduos antigos de CFC-11, ou então, produção acidental. 

Mas eles concluíram que estas fontes não podem explicar o incremento, que foi calculado em 13 bilhões de gramas por ano nos últimos anos. As evidências sugerem fortemente uma nova fonte de emissões, apontam os cientistas. 

“Estas considerações sugerem que o aumento nas emissões de CFC-11 decorre de produção não notificada às Nações Unidas e é inconsistente com a gradual redução na produção de gases CFC prevista pelo Protocolo de Montreal”, escreveram os pesquisadores. 

Impacto

O CFC, usado em espumas, pode permanecer por até 50 anos na atmosfera até ser liberado. Ele é destruído apenas na estratosfera (entre 15 e 30 km de altura), onde as moléculas de cloro resultantes entram em reações químicas que destroem o ozônio. Essa perda enfraquece a proteção contra a radiação ultravioleta na superfície da Terra. 

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A substância química é um poderoso gás que favorece o efeito estufa e contribui para o aquecimento global. 

“O que a pesquisa encontrou é ambientalmente e politicamente sério”, disse Robert Watson, o ex-cientista da NASA que organizou voos na estratosfera existente sobre o continente antártico para estudar o esgotamento do ozônio nos anos 80. 

“Não está claro que país teria retomado a produção de CFC-11, quando há, faz muito tempo, substitutos de baixo custo”, diz Watson. 

“É imperativo que este assunto seja discutido no encontro ministerial sobre questões ambientais, dado que a recuperação da camada de ozônio depende que todos os países cumpram com o Protocolo de Montreal (incluindo seus ajustes e emendas), com emissões que caiam a zero.” 

Watson sugere que voos sejam necessários para melhor identificar as fontes das emissões. 

Keith Weller, um porta-voz do Programa Ambiental das Nações Unidas, que administra o Protocolo de Montreal, disse que o achado deve ser verificado pelo painel científico do protocolo e, depois serem apresentados a todos os países membros do tratado. 

“Se estas emissões continuarem, elas tem o potencial para desacelerar a recuperação da camada de ozônio”, disse Weller. “Portanto, é fundamental que se faça um balanço do que foi encontrado, identifiquem-se as causas destas emissões e se tomem as medidas necessárias.” 

Tratados internacionais

“A produção não divulgada de CFC-11, fora de certas condições estabelecidas no tratado, pode ser uma violação das leis internacionais”, disse Weller, afirmando que o protocolo não estabelece punições e a alternativa provavelmente envolverá uma negociação com a parte ou o país que desrespeitou o acordo. 

Mas Zaelke pensa que o que foi encontrado poderia gerar uma ação mais dura. “Este tratado não pode dar-se ao luxo de não seguir a sua tradição e manter o registro de cumprimento. Eles vão encontrar os culpados. Isto é um insulto a quem vem trabalhando nisto durante os últimos 30 anos.” 

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Entretanto, é importante destacar que a camada de ozônio está lentamente se recuperando e o uso de substâncias que a agridem está em declínio. Mas o aparente aumento nas emissões de CFC diminuiu a taxa de recuperação em 22%, apontam os cientistas. Isto vai atrasar a recuperação da camada de ozônio.

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