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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan | UMIT BEKTAS
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan| Foto: UMIT BEKTAS

A Turquia estendeu neste sábado (23) os poderes da polícia, dissolveu mais de 2 mil instituições e advertiu a Europa de que não cederia em sua resposta contra os partidário de Fethullah Gülen, acusado de organizar o golpe de Estado frustrado no dia 15 de julho.

O que os responsáveis europeus “dizem não me interessa e não os escuto”, afirmou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em uma entrevista à emissora francesa France 24.

Pouco depois, chegava mais uma crítica de um nome importante da União Europeia. O chefe de governo italiano, Matteo Renzi, reprovava Ancara por ter “colocado na prisão” o futuro do país, onde se instaurou o estado de emergência na quinta-feira (21) pela primeira vez em 15 anos.

Seus primeiros efeitos concretos começam a aparecer no Diário Oficial: a duração máxima da prisão provisória passou de quatro para 30 dias e ocorreu a demissão de funcionários ligados ao religioso exilado nos Estados Unidos, Fethullah Gülen, acusado de ser o instigador do golpe.

Além disso, as autoridades fecharam 1.043 instituições de ensino, 15 universidades, 1.229 associações e fundações e 19 sindicatos. O presidente Erdogan reiterou sua vontade de erradicar este “vírus” no seio das instituições.

Ainda neste sábado, o primeiro-ministro Binali Yildirim anunciou que a guarda presidencial será dissolvida. “Não haverá mais uma guarda presidencial, não há razão para isso, não é necessário”, disse Yildirim à rede A Haber.

A justiça anunciou a libertação de 1.200 soldados, uma decisão inédia desde o início do expurgo maciço após o fracasso da tentativa de golpe de Estado que deixou 270 mortos, entre eles 24 golpistas.

Entretanto, segundo números da agência Anadolu, foram decretadas mais de 12 mil prisões provisórias desde os acontecimentos de 15 de julho. Segundo a mesma fonte, outras 5.600 pessoas já estão detidas, entre elas militares, magistrados e policiais, mas também civis, como professores ou funcionários.

“Mais selvagem” que o Estado Islâmico

“Venham aqui! Venham ver até que ponto isso é grave!”, urgiu o ministro de Relações Europeias, Ömer Celik, a seus sócios europeus que pensam que “é somente um jogo de Pokémon”. Para o ministro, Gülen é “mais perigoso que Osama Bin Laden” e seu movimento “mais selvagem” que o grupo Estado Islâmico (EI).

O responsável defendeu também que o acordo do dia 20 março entre Ancara e Bruxelas, que permitiu frear a chegada dos migrantes até a UE, continue sendo aplicado, apesar do golpe frustrado, e chamou a “um novo impulso” nas negociações de adesão da Turquia ao bloco.

O presidente turco se mostrou, ao contrário, mais cético. “Há 53 anos que a Europa tem nos esperado na porta” e “não pudemos nem aproveitar as oportunidades econômicas” que a UE oferece.

Erdogan reiterou também a sua vontade de restabelecer a pena de morte, uma medida que prejudicaria seu processo de adesão à UE, caso seu povo exigisse e o Parlamento votasse a favor. “Na democracia, a soberania pertence ao povo”, acrescentou.

Desde o fracasso do golpe de Estado, Erdogan se apoia em seus partidários, seu “querido povo heroico” chamado às ruas a cada noite.

No sábado, o principal partido pró-curdo, o Partido Democrático dos Povos (HDP), reuniu milhares de pessoas em Istambul para protestar contra o golpe, mas também contra o estado de emergência decretado por Erdogan.

“Não queremos um golpe de Estado militar”, disse à AFP Latifa, simpatizante do HDP de 30 anos, para quem “a política de Erdogan não é a favor da democracia”. “Queremos a democracia, não a sua democracia”, acrescentou.

Extradição de Gülen

Antes de uma manifestação, que deve ser maciça, no domingo (24), em Istambul, milhares de pessoas tomaram às ruas para expressar seu ódio a Fethullah Gülen, cujo sobrinho foi detido no nordeste da Turquia.

“Também iremos trazer esse traidor (...) da Pensilvânia”, disse o chanceler turco, Mevlüt Cavusoglu, em uma manifestação em Antália (sul), em referência ao religioso de 75 anos exilado nos Estados Unidos desde 1999.

Uma fonte oficial anunciou neste sábado a detenção de Hails Hanci, um importante colaborador do clérigo, acusado de estar por trás da tentativa de golpe.

Hanci foi detido na província de Trebisonda, no Mar Negro, indicou essa fonte, que descreveu Hanci como a “mão direita” de Gülen e o responsável pelo envio de fundos.

Segundo a mesma fonte, Hanci “aparentemente” entrou no país dois dias antes da tentativa de golpe frustrado, em 15 de julho.

A fonte também confirmou a informação da agência estatal Anadolu sobre a detenção em Ancara do tenente-coronel Hakan Karakus, genro de Akin Ozturk. Ozturk é um ex-chefe da força aérea que também está preso como um dos principais suspeitos.

Em um contexto de tensão entre Ancara e Washington, o presidente americano, Barack Obama, advertiu que a entrega do religioso, como pede Ancara, seria tratada conforme a lei dos Estados Unidos.

Os EUA, no passado, “nos apresentaram várias petições de extradição” e “nunca os pedimos nenhum documento”, lamentou Erdogan, que anunciou o envio de provas a Washington “em dez dias”.

Concretamente, o presidente turco afirmou que o chefe do Estado Maior do exército, Hulusi Akar, pego como refém durante o golpe, se propôs a falar por telefone com Fethullah Gülen.

Ainda que as autoridades estejam determinadas a limpar os Serviços de Segurança, o responsável pelos poderosos Serviços de Inteligência, Hakan Fidan, ainda conseguiu manter seu posto.

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