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Sede das Nações Unidas, em Nova York | Pixabay
Sede das Nações Unidas, em Nova York| Foto: Pixabay

Reportagem exclusiva do jornal inglês The Guardian mostra uma face pouco conhecida da Organização das Nações Unidas: a da instituição que deixa o assédio sexual e até casos mais graves, como estupro, correrem soltos em suas entranhas. O pior: impera a cultura da impunidade.

De acordo com a repórter Rebecca Ratcliffe, os casos não se restringem à sede das Nações Unidas, em Nova York, e são parte da cultura da organização, em todo o mundo. Quando as vítimas rompem o silêncio, que é a regra na instituição, suas queixas não são levadas adiante. E, quando são, significam colocar a carreira em risco na maior parte das vezes. 

As funcionárias ouvidas pelo The Guardian em vários países relataram assédio moral e até estupros. A maioria falou em condição de anonimato, seja por medo de retaliação ou por causa das regras da própria ONU. 

Uma das mulheres que contou sua história ao Guardian foi estuprada por um membro do alto escalão da ONU, em um local remoto. Ao jornal, disse que além de ser impossível conseguir justiça, foi demitida. 

E o caso não se resumia apenas ao seu relato. Havia evidências médicas e testemunhas, mas uma investigação interna da ONU afirmou não ter encontrado indícios suficientes para sustentar sua denúncia. 

O Guardian obteve acesso a documentos das investigações e notou vários problemas. As equipes de investigação não conseguem encontrar testemunhas-chave, vazam informações confidenciais e cometem erros básicos de transcrição dos depoimentos. 

Os acusados, apurou o jornal, continuaram em seus cargos durante a investigação. Como se isso não fosse problemático o suficiente para qualquer processo que pretenda de fato fazer justiça, estes mesmos acusados, em seus cargos de alto escalão, tinham poder para influenciar as investigações. Um oficial acusado de assédio sexual em 2015 na Ásia chegou ao absurdo de ganhar o direito de entrevistar a vítima. 

Uma vítima — uma mulher agredida enquanto prestava serviços à ONU — ouviu do investigador que não havia nada a fazer pois ele estava sendo ameaçado por altos oficiais da entidade. Sete outras vítimas ouvidas pelo jornal foram alertadas de que não deveriam sequer prestar queixa. 

Outra vítima — neste caso de estupro — foi negligenciada pelos médicos da ONU, que não estavam preparados para atendê-la e não recebeu nenhum tipo de aconselhamento médico. Apesar da quantidade de provas, a ONU ainda não havia tomada nenhuma atitude sobre o caso. 

Histórico 

Não é a primeira vez que escândalos de natureza sexual abalam a ONU. Houve relatos anteriores de abusos cometidos por funcionários na República Centro-Africana e no Haiti. 

Uma das principais dificuldades em punir os acusados é a imunidade diplomática da qual muitos desfrutam e por isso conseguem evitar a justiça comum dos países onde estão instalados. 

Além disso, em países como o Haiti, onde o sistema judicial tem sérios problemas, fica ainda mais difícil levar adiante as acusações. 

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Em muitos casos, as vítimas podem sofrer retaliações graves, além do crime que sofreram. A ONU, além de os empregar, dá, em muitos casos, vistos de trabalho, residência e outros benefícios que podem ser cortados. 

A ONU se pronunciou afirmando que criou um grupo de trabalho sobre assédio sexual, que vai revisar suas políticas e fortalecerá as investigações. 

Ativistas ainda acham que é pouco. “A cultura do silêncio é poderosa na ONU”, disse ao Guardian a ativista Paula Donovan, co-diretora do Aids Free World e da campanha Code Blue, que pretende acabar com a impunidade das forças de paz da ONU acusadas de abuso sexual.

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