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Harpalani, de 77 anos, pregava o celibato e supostamente tinha cerca de 20 milhões de seguidores na Índia e ativos no valor de US$ 750 milhões | Divulgação
Harpalani, de 77 anos, pregava o celibato e supostamente tinha cerca de 20 milhões de seguidores na Índia e ativos no valor de US$ 750 milhões| Foto: Divulgação

Um tribunal na Índia condenou um popular guru espiritual à prisão perpétua nesta quarta-feira (25) por estuprar uma adolescente. 

O tribunal disse que Asumal Harpalani, conhecido por seus seguidores como Asaram Bapu, estuprou uma menina de 16 anos em um ashram (comunidade espiritual) na cidade de Jodhpur, em 2013, sob o pretexto de exorcizar seus maus espíritos. Seus advogados disseram que estão decidindo se vão apelar do veredicto. 

Com sua barba e vestes brancas combinando, Harpalani, de 77 anos, pregava o celibato e supostamente tinha cerca de 20 milhões de seguidores na Índia e ativos no valor de US$ 750 milhões (equivalente a R$ 2,6 bilhões). 

Seu julgamento ocorreu dentro da prisão de Jodhpur, onde ele está detido desde 2013, porque as autoridades temiam o modo como seus seguidores poderiam reagir ao veredicto. 

Dois dos auxiliares do guru também foram condenados, enquanto outros dois foram absolvidos. 

Esta saga, apenas o mais recente caso contra a legião de líderes espirituais hindus, provocou um debate sobre o poder descontrolado dos homens e mulheres santos do país, muitos dos quais foram acusados de atividades criminosas. 

Figuras como Harpalani são imensamente populares na Índia, onde o culto religioso nas últimas duas décadas é cada vez mais dominado por gurus da televisão cujos sermões são transmitidos para milhões de salas de estar. Muitos deles também acumulam apoio por causa de suas atividades de assistência social — principalmente a criação de escolas e hospitais que superam as instituições governamentais mal financiadas. 

Escândalos recentes levaram os devotos a refletirem melhor, incluindo tentativas de distinguir "gurus falsos" de "reais". 

Muitos ainda expressam fé em Harpalani. Seus seguidores insistiram em entrevistas na televisão que as acusações contra ele foram feitas por seus oponentes. 

O pai da vítima, mantido em anonimato para proteger a identidade de sua filha, disse à agência de notícias ANI que estava satisfeito com o veredicto. "Conseguimos justiça. Quero agradecer a todos que nos apoiaram nessa luta." 

Os advogados de Harpalani disseram que estavam revisando o julgamento e tentando decidir se apelariam. Eles disseram que a vítima havia mentido sobre sua idade para que o guru recebesse a sentença mais dura possível. 

"A menina diz e os pais estão dizendo que ela tem menos de 18 anos, mas há evidências mais do que suficientes que dizem que ela tinha mais de 18 anos, então a idade foi erroneamente informada", disse Vikas Pahwa, advogado de Harpalani. 

Utsav Bains, o advogado da menina, disse que os seguidores do guru tinham tentado repetidamente adulterar provas e intimidar testemunhas — uma das vezes até dentro do tribunal. 

"Hoje alguns estão saudando isso como uma vitória do nosso sistema de justiça criminal, mas a cada passo neste caso o sistema de justiça criminal deste país falhou com a vítima e sua família", disse ele. 

Nascido em uma família pobre no que é hoje o Paquistão, Harpalani construiu seu império espiritual a partir do zero. Relatórios locais sugerem que ele passou sua infância fazendo todo tipo de trabalho - vendendo chá, transportando peregrinos em sua charrete e fazendo contrabando - antes de afirmar como um asceta e montar seus ashrams na década de 1970. 

Com a ajuda de políticos e fiéis locais, Harpalani logo criou um vasto império de cerca de 400 ashrams e empresas que vendiam vários produtos fitoterápicos e publicaram dezenas de livros de seus ensinamentos. 

Desde a sua prisão, Harpalani teve sua fiança negada cerca de uma dúzia de vezes. Nas imagens de suas aparições nos tribunais nos últimos cinco anos, ele parece cada vez mais fraco e fatigado. 

O fundo do poço pode não ter chegado ainda para o guru, no entanto. Em um caso separado, Harpalani e seu filho são acusados de estuprar duas irmãs na cidade de Surat, no oeste do país. Ele também foi acusado de matar quatro meninos durante rituais de magia negra e de adquirir terras ilegalmente. 

Várias pessoas que testemunharam contra ele foram atacadas — e algumas foram mortas - embora não esteja claro se o guru estava envolvido nesses ataques. 

A condenação por estupro de Harpalani é a segunda do tipo nos últimos meses. Em agosto, Gurmeet Ram Rahim Singh — um guru conhecido por suas roupas cintilantes e suas aparições em filmes de baixo orçamento — foi condenado por agredir sexualmente duas seguidoras. A condenação provocou tumultos em que 39 pessoas morreram. 

Yashwant Jain, membro da Comissão Nacional para a Proteção dos Direitos da Criança, aplaudiu a família da vítima por travar a batalha legal contra Harpalani. "Parabenizo a família, que lutou tão fortemente e sem a qual nada disso teria acontecido", disse ele.

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