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Uma primeira investigação foi aberta neste sábado (18) para apurar a responsabilidade da polícia no tiroteio que deixou 34 mortos na quinta-feira em Marikana, no momento em que a África do Sul questiona as causas que conduziram a este drama.

Na manhã deste sábado, especialistas e policiais chegaram à mina de platina explorada pelo grupo Lonmin, perto de Rustenburg (noroeste).

Eles devem determinar se a reação dos policiais, que abriram fogo contra mineiros em greve, matando 34 e ferindo 78, foi proporcional à ameaça dos trabalhadores, como afirma o comando da polícia.

Outra investigação interna foi aberta e o presidente sul-africano, Jacob Zuma, também anunciou a criação de uma comissão de investigação para esclarecer os eventos.

A alguns metros do local do massacre, centenas de mineiros se reuniram mais uma vez para protestar.

Um helicóptero da polícia sobrevoava a região.

Julius Malema, líder populista excluído recentemente do Congresso Nacional Africano (ANC), se juntará aos manifestantes durante a tarde. Malema fazia parte da ala radical do partido no poder que luta contra a pobreza e a desigualdade.

Muitas famílias estiveram na mina em busca de familiares, sem saber se estavam mortos, feridos ou presos. As necropsias, segundo fontes médicas, ainda não foram realizadas, e nenhuma informação sobre a data para a devolução dos corpos às famílias foi anunciada.

Para a maioria dos analistas, a responsabilidade pela tragédia é da polícia, mal equipada e mal preparada, e dos grevistas, violentos e armados.

"A polícia não foi treinada para lidar com manifestantes de forma pacífica", denuncia o cientista político Dirk Kotze, da Universidade da África do Sul (Pretoria).

De fato, os policiais não tinham escudos, apenas fuzis automáticos.

A incapacidade dos sindicatos de prever e prevenir tais acontecimentos também é questionada. "Os líderes sindicais agiram de forma irresponsável, em uma cultura de greve onde a violência é elemento permanente", considera o especialista Ebrahim Fakir.

Mais profundamente está a incapacidade do governo de gerenciar este tipo de crise e, sobretudo, de melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, 18 anos após a queda do apartheid.

"Eles não percebem o quanto a nossa sociedade é volátil", disse à AFP Adam Habib, da Universidade de Johannesburgo, "cem anos após o início da exploração das minas na África do Sul, as pessoas ainda vivem nas mesmas condições do início do século 20".

Pessimista, Fakir prevê que tais desastres podem se tornar recorrentes no país: "vai explodir outra vez em três anos, porque o governo não faz nada para reduzir a desigualdade, as diferenças de salários e melhorar as condições de trabalho, saúde e segurança, que são os aspectos básicos do problema".

Mais otimista, seu colega Adam Habib espera que o drama de Marikana provoque "uma crise existencial na África do Sul: quem somos nós, e quem vamos nos tornar?".

"Se isso acontecer, acredito que será algo bom para o país", acrescentou.

Nos Estados Unidos, um porta-voz da Casa Branca declarou que os americanos estavam "entristecidos por essas mortes trágicas (...) mas que confiam no fato de o governo sul-africano realizar uma investigação sobre as circunstâncias deste caso".

Em Londres, o governo disse estar "chocado", mas elogiou "o anúncio da criação de uma comissão de investigação do presidente (Jacob) Zuma".

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