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Africanos, europeus, árabes e até um argentino buscam em Teerã o reconhecimento de melhor recitador do Corão e da pessoa que melhor memoriza o livro sagrado do islã em um popular concurso com o qual a República Islâmica procura recuperar a unidade e irmandade entre os muçulmanos.

Desde o último dia 15 de maio e até esta quinta-feira (21), 120 concorrentes -- todos homens -- procedentes de 75 países participam da 32ª edição do Concurso Internacional do Corão na capital iraniana, um evento muito querido e promovido pelas autoridades do país, que se desenvolve em um ambiente que vai do festivo ao solene e do sagrado à competição.

Um público em sua imensa maioria feminino e coberto com o recatado chador (a peça com a qual as iranianas cobrem-se da cabeça aos pés), mas surpreendentemente jovem e encorajado, se faz presente neste concurso.

A principal atração, além do conteúdo místico-religioso, é presenciar as autênticas façanhas memorizadoras dos participantes e desfrutar da beleza poética da leitura do Corão em árabe clássico, a língua na qual segundo a tradição islâmica Alá se revelou ao profeta Maomé.

Na primeira fila, um júri composto por 12 clérigos iranianos e 10 estrangeiros se encarrega de avaliar estes esforços e distinguir os mais destacados participantes.

“É uma concorrência. Na leitura, o que os juízes avaliam são as pausas, quando elas são feitas; a voz do recitador e as melodias que usa, que têm que ser bem aplicadas. Além disso, prestam atenção na respiração e na postura”, explica um clérigo xiita argentino.

Cerrilla ressaltou que na leitura do Corão o que mais interessa é “a beleza”, e que para isso é preciso empregar bem as “melodias”, que vão “das tristes, quando são lidos os temas de castigo”, às “alegres, quando se fala do paraíso”.

Quanto à memorização, na qual o favoritismo dos egípcios é evidente, já que são especialistas neste campo, o concurso exige completar com 10 ou 15 versículos que seguem no Corão um que o júri elege por acaso.

“As pessoas estudam três ou quatro anos para memorizar tudo, mas é maravilhoso ver isso, há quem não se equivoque nunca”, ressaltou.

Para o governo iraniano, este concurso, no qual não se faz distinção alguma entre participantes xiitas, sunitas ou de qualquer dos outros ramos menores do islã, constitui uma vitrine para exibir sua postura a favor da “unidade” de todos os muçulmanos frente às tentativas de seus “inimigos” para dividi-los.

De fato, a universalidade do concurso e os convites enviados a participantes de países com os quais Irã tem más relações, como a Arábia Saudita e o Catar, ganhou publicidade em Teerã diante da proibição que os recitadores iranianos têm para comparecer a concursos similares em outros países islâmicos.

A unidade do islã foi o valor defendido peko presidente iraniano, Hassan Rohani, na inauguração do eevento, ressaltando o papel do Corão e sua leitura em língua árabe como o maior elemento de união entre os crentes.

“O islã é uma religião de irmandade, e o Corão assinala isso. Hoje em dia o mundo islâmico necessita do Corão e de atuar sob suas instruções”, acrescentou.

Menos simbólico, Cerrilla também destacou a “união” que como participante sente com outros muçulmanos ao ler o livro sagrado e lamentou “as questões externas e políticas” que levam alguns de seus correligionários “ao terreno do ódio”.

Maryam Hoseizade, uma jovem menina afegã que foi ao concurso acompanhada por suas amigas adolescentes maquiadas sob o rigoroso chador, explicou à Efe que sente como “se estivesse voando” quando escuta o Corão.

De forma paralela, o evento também promove oficinas e conversas vinculadas aos estudos corânicos e seus últimos avanços, assim como pavilhões dedicados a resolver dúvidas dos crentes ou exibir produtos corânicos.

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