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Durante as comemorações da vitória de Macri  em Buenos Aires, homem segura cartaz pedindo apoio do novo presidente à Venezuela | MARTIN ACOSTA/REUTERS
Durante as comemorações da vitória de Macri em Buenos Aires, homem segura cartaz pedindo apoio do novo presidente à Venezuela| Foto: MARTIN ACOSTA/REUTERS

Mauricio Macri deu um recado claro a Venezuela já na comemoração da vitória: levou Lilian Tintori, ativista e esposa do principal opositor ao governo de Nicolás Maduro, Leopoldo López, ao palanque onde celebrou o triunfo nas eleições presidenciais argentinas. No dia seguinte, reafirmou o que havia anunciado na campanha: vai pedir que o Mercosul aplique a cláusula democrática para suspender a Venezuela do bloco.

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O partido chavista divulgou na noite desta segunda-feira (23) um comunicado oficial para condenar o recém-eleito presidente argentino, Maurício Macri, por criticar o governo da Venezuela e tentar expulsá-lo do Mercosul por abusos de direitos humanos.

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Seu pretexto são supostas violações dos direitos humanos e perseguições a políticos da oposição.

A determinação do recém-eleito presidente argentino, porém, pode não sair do campo das ameaças. Isso porque, para ser levada adiante, a medida precisa de consenso no bloco (que inclui ainda Uruguai, Paraguai e Brasil) . E a principal resistência poderá vir justamente de Brasília.

Nesta terça-feira (24), quando questionado sobre o posicionamento brasileiro a respeito da exclusão de Caracas, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desconversou. “Ele [Macri] fez declarações muito mais importantes do que essa, da necessidade de integração, de aproximação cada vez mais com o Brasil”, completando em seguida que a decisão “tem que ser discutida pelos países”.

Ironicamente, o primeiro round desta batalha ocorrerá em Assunção, na próxima cúpula do Mercosul, em 21 de dezembro. Há três anos, o Paraguai foi suspenso do bloco quando o então presidente Fernando Lugo foi destituído em 30 horas em uma atitude que Brasil e Argentina encararam como golpe branco. Na época, a Venezuela foi a principal articuladora desta punição, que abriu espaço para que o país se tornasse membro pleno do bloco.

Mas agora, os analistas definem como pouco provável haver um posicionamento tão contundente. O professor do departamento de História da Universidade de Brasília Carlos Eduardo Vidigal aponta que tudo depende do timing. “A questão da punição do organismo passa pela conjuntura e pode variar de acordo com a época. O Brasil, em termos comerciais, ganhou com a aproximação da Venezuela do bloco”, avalia -- ponto que faz Dilma pender para o lado de Maduro.

Vidigal classifica o anúncio de Macri como um “equívoco”, já que o Brasil não parece disposto a mudar de postura e apoiá-lo. “Será um desgaste desnecessário”, avalia. Nesta conta, ele indica, pesa inclusive o fato de o Brasil estar passando por uma crise com ameaça de impeachment -- algo nas entrelinhas da intenção do governante argentino para a Venezuela.

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O professor da FAE, mestre em Desenvolvimento Econômico e doutor em Engenharia de Negócios Antoninho Caron é crítico em relação ao governo de Caracas. “O acordo [do Mercosul] prevê que os países tenham cooperem com a preservação da democracia e das liberdades. O que ocorre na América Latina hoje é que se tem caminhado para uma ‘pseudo-ditadura popular demagógica’. A entrada da Venezuela no Mercosul foi conflitante com esta cláusula democrática, pois Chaves e Maduro vêm desrespeitando os direitos nas eleições. Portanto, é justa a reivindicação [de exclusão do país]”, define.

Apesar disso, ele admite que a exclusão, de fato, não é certa. “Pode não se consolidar, mas propõe o debate. Chama para a consciência de se respeitar os direitos. Com Macri, essa discussão volta para a agenda, algo que não vinha acontecendo. E por si só já é positivo”, define.

Assim como o Uruguai, o Brasil mudaria de postura apenas em um cenário mais crítico. “Economicamente, o que representa a Argentina e o que representa a Venezuela para o Brasil? Embora ambos sejam parceiros, os argentinos têm uma importância maior”, concluiu Caron.

Ao que parece, pelo menos por enquanto Macri só encontrará apoio incondicional em sua cruzada contra a Venezuela no Paraguai, que quer o gostinho de revanche pela exclusão de 2012.

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