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Sindicatos da França já convocaram paralisações em forma de protesto contra as reformas de Macron | GUILLAUME SOUVANT/AFP
Sindicatos da França já convocaram paralisações em forma de protesto contra as reformas de Macron| Foto: GUILLAUME SOUVANT/AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, se prepara para um dos mais difíceis processos de seu governo: uma reforma no sistema de trens, remodelando a icônica e endividada estatal SNCF. Além disso, pretende reformar a legislação previdenciária do país.

Sindicatos ferroviários, que em 1995 paralisaram Paris, convocaram uma greve para 22 de março e paralisações a partir de 3 de abril.  

Eleito em 2017 e com a maioria parlamentar, o centrista Macron tem tocado em áreas consideradas sagradas aos franceses, como as leis trabalhistas, a aposentadoria e a educação. Parte de suas reformas foi feita com decretos executivos e acelerada por legisladores, enfurecendo líderes sindicais. É o caso desta.  

"Constatamos que o governo não tem nenhuma vontade de negociar", disse Laurent Brun, do sindicato CGT Cheminots. A convocação é para paralisações de dois dias de duração a cada cinco, a partir de abril.  

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O histórico de 1995, quando greves forçaram a renúncia do então premiê conservador Alain Juppé, desanimou outros presidentes a reformar o setor ferroviário. Mas Macron aposta que os sindicatos estão mais divididos do que no passado.  

O centrista tem outra vantagem: o apoio da população, que lhe deu 66% dos votos em maio do ano passado, quando ele derrotou a nacionalista de direita Marine Le Pen.  

O presidente propõe revisar os contratos que hoje garantem a ferroviários benefícios como emprego vitalício e aposentadoria antecipada (uma década mais cedo do que em outros setores públicos). Uma pesquisa recente mostrou que dois terços da população apoiam essa reforma.  

Ele pode também se espelhar no conservador Nicolas Sarkozy, que em 2010 enfrentou manifestações contra sua reforma previdenciária e não cedeu.  

Outro paralelo é aquele traçado entre Macron e a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que nos anos 1980 desafiou os sindicatos dos mineradores. A justificativa do francês, como a de Thatcher, é a ideia de que essas reformas são necessárias para que o país cresça. O PIB da França avançou 1,8% em 2017.  

Subsídios  

O serviço ferroviário foi privatizado no Reino Unido nos anos 1990 e, na Alemanha, reformas semelhantes às propostas por Macron levaram à redução de 3% nos custos das operações.  

O governo francês avalia que a gestão da SNCF não é eficiente, em uma operadora que recebe subsídios anuais de R$ 40 bilhões e tem dívidas de R$ 185 bilhões.  

Mas o presidente não vai implementar parte das reformas sugeridas pelos relatórios que encomendou -ele desistiu, por exemplo, de encerrar as linhas de trem que são pouco utilizadas, o que poderia ter revoltado os setores rurais. Essas linhas regionais custam R$ 8 bilhões ao ano e atendem só 2% dos passageiros.  

"Usando ou não o trem, os franceses estão pagando mais e mais por um serviço público que funciona de maneira cada vez pior", disse o primeiro-ministro Édouard Philippe.  

Macron já tem, no entanto, outras batalhas em andamento. Em paralelo à reforma ferroviária, ele enfrenta nesta semana forte resistência às mudanças previdenciárias. Há diversos protestos convocados.  

Em Tours, no centro do país, ele conversou com a população nas ruas e mais tarde publicou na internet um vídeo explicando aos aposentados as suas propostas.  

"Peço que vocês façam um pequeno esforço para me ajudar a relançar a economia", ele disse a uma senhora. "Se eu não fizer isso pelos que trabalham, não vai haver quem pague suas pensões", afirmou sobre o aumento na contribuição social generalizada, uma espécie de imposto à aposentadoria.

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