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Caso de abuso de força contra morador de rua é investigado nos Estados Unidos | Pixabay
Caso de abuso de força contra morador de rua é investigado nos Estados Unidos| Foto: Pixabay

Era por volta das 3 da manhã de um sábado de agosto. Gerald Melton estava tentando dormir – como ele frequentemente fazia – em uma calçada próxima à área da Music Row, em Nashville, no Tennessee, conhecida como o coração da indústria do entretenimento na cidade. Mas o morador de rua de 54 anos estava “perturbado” com o cheiro da fumaça vinda do escapamento e o som da música alta que vinha de um Porsche SUV branco, disse a polícia metropolitana de Nashville em um anúncio à imprensa. Ele pediu que a motorista movesse o Porsche, o que gerou uma gritaria entre os dois. Em um dado momento, Melton voltou para a área onde tentava dormir, ele disse à polícia. 

Então, a motorista, uma mulher de 26 anos chamada Katie Quackenbush, teria descido do Porsche e disparado dois tiros em Melton, atingindo-o na barriga, disse a polícia. A mulher então voltou para sua SUV e fugiu do local. 

Na segunda-feira (11), Quackenbush, uma aspirante à cantora e compositora, foi acusada de tentativa de assassinato por conta dos tiros disparados no dia 26 de agosto. Ela foi admitida na prisão e solta após pagar 25 mil dólares de fiança. Melton foi ferido severamente e permanece hospitalizado no Centro Médico da Universidade Vanderbilt, disse a polícia. 

As notícias da detenção de Quackenbush causaram revolta nas redes sociais e entre os defensores dos moradores de rua. Aquela também não era a primeira vez que ela havia sido presa por conta de um incidente violento. Em dezembro, Quackenbush foi acusada de agressão após atingir uma mulher na cabeça com um copo de vidro, de acordo com os registros citados pelo jornal Tennessean. O caso ainda está em aberto. 

Quase quatro anos atrás, ela foi presa por uma acusação de agressão doméstica após bater em outra mulher. As acusações foram retiradas mais tarde. 

‘Legítima defesa’

O pai de Katie, Jesse Quackenbush, um advogado de defesa conhecido em Amarillo, no estado do Texas, se pronunciou contra as alegações e forneceu um relato muito diferente de como os fatos de 26 de agosto ocorreram. Em uma declaração à WTVF, ele disse que sua filha estava “na verdade agindo em legítima defesa”. 

Jesse Quackenbush disse na declaração que sua filha estava em seu veículo com outra mulher quando Melton começou a “se dirigir de forma verbalmente agressiva a elas”. 

“O homem estava sempre em pé e acordado” como a polícia havia dito, afirmou o pai. 

Ele disse ao canal NewsChannel 5 que o morador de rua bateu nas janelas no carro gritando palavras obscenas e ameaçando matar elas a menos que ela baixasse a música. 

A filha de Jesse disse a Melton: “Eu tenho uma arma, fique longe de mim”, afirmou Jesse Quackenbush. 

Ela então disparou um “tiro de aviso”, que pretendia assustar o homem e afastá-lo, disse o pai em sua declaração por escrito à WTVF. Quando ele “continuou vindo em direção ao carro”, ela disparou novamente. 

Após o segundo disparo, “ele continuava vindo na direção delas, então ela pulou para o banco do motorista e dirigiu para longe porque temia por sua vida”, disse Quackenbush ao NewsChannel5. 

“Ela é uma vítima nisso muito mais do que o Sr. Melton”, ele disse. “Pelo contrário, ele deveria ter ficado deitado no chão e permanecido longe de jovens moças naquela noite”. 

Falando com o jornal Tennessean, Quackenbush disse que sua filha “fechou os olhos quando atirou nas duas vezes”. Ela disse que não sabia que o homem havia sido atingido pelos disparos. 

“Ela não tentou matar esse homem”, disse Quackenbush ao Tennessean. 

O advogado de defesa de Katie Quackenbush, Peter Strianse, disse ao jornal que “ela estava lidando com alguém que veio até ela em uma rua muito escura nas primeiras horas da madrugada, que saiu do nada e começou a bater violentamente na janela do carro”. 

“Alguém que parecia estar desequilibrado, alguém que poderia estar sob os efeitos de alguma droga, que parecia completamente fora de si, e é por isso que ela reagiu daquela forma”, acrescentou. 

Investigação

Tanto Katie Quackenbush quanto a outra mulher no Porsche contataram o escritório da Promotoria “pouco tempo” depois do acontecido, e ambas “concordaram sempre em cooperar completamente com as investigações”, disse Jesse Quackenbush em sua declaração por escrito ao WTVF. 

No entanto, o porta-voz da polícia de Nashville Don Aaron disse ao Tennessean que nem Quackenbush nem a mulher com ela reportaram inicialmente o incidente à polícia. Outra pessoa encontrou Melton ferido e chamou as autoridades por ajuda. O departamento de polícia não soube de Quackenbush até que o advogado dela procurou o escritório de acusação no início da semana seguinte. 

“Não há dúvidas de que houve uma discussão e gritos entre ambas as partes”, disse Aaron. Mas a polícia não possui informações de que Quackenbush foi bloqueada ou impedida de sair de seu carro. 

Jesse Quackenbush era no passado um roteirista, diretor e produtor de filmes e televisão, de acordo com seu site. Ele agora é especializado em acidentes automobilísticos litigantes, negligência médica e casos de defesa criminal. 

Em uma citação no topo de seu site se lê: “O objetivo de toda a minha carreira tem sido tratar cada cliente como se eles fossem membros de minha própria família”. 

Katie Quackenbush parece ter lançado várias músicas no YouTube e no iTunes sob o nome Katie Layne. 

“Katie Layne Music” no YouTube a descreve como uma “vocalista americana de blues e rock and roll”. 

Em um clipe musical, intitulado “Outlaw love” (“Amor fora-da-lei”), ela aparece pulando uma cerca e fugindo de um policial enquanto ele mira sua arma nela. 

“Eu certamente sou uma pecadora, eu nunca fui uma santa”, ela canta em uma parte da música. 

Abuso de força

Lindsey Krinks, que trabalha com doações aos moradores de rua e ajudou a fundar uma organização sem fins lucrativos chamada Open Table Nashville (Mesa Aberta Nashville), falou sobre as alegações com o NewsChannel 5. “Há um grande desiquilíbrio de poder entre os envolvidos nessa situação”, disse Krinks. “Há um uso excessivo de força em violência com a arma, e toda a vez que há um uso excessivo de força, as pessoas que abusam de seu poder precisam ser responsabilizadas”. 

Pouco se sabe sobre Gerald Melton. Mas de acordo com a estação de rádio local WSMV, ele é um guitarrista e cantor habilidoso. 

Sharon Corbitt-House, que agencia um número de artistas de renome em Music Row, disse à estação que Melton viveu no estacionamento atrás de seu prédio por cerca de um ano. “Eu não tinha nem ideia de que ele era tão talentoso”, ela disse. 

Após tê-lo ouvido tocar, ela lançou uma página de crowdfunding para ajudar Melton a se mudar para uma habitação temporária. No entanto, não muito tempo depois ele estava de volta vivendo nas ruas de Music Row, ela disse à WSMV. Embora tenha declarado que nunca o viu como uma pessoa instável, Sharon diz ter ouvido algumas pessoas descrevendo ocasiões em que ele levantou a voz ou ficou bravo. 

A WSMV exibiu um vídeo de dezembro de 2016 que registrava Melton cantando e tocando guitarra. Ele aparentemente também atende pelo nome “Doug”. 

O vídeo parece ainda estar disponível no YouTube. Nele, o homem careca e de barba branca é visto dedilhando um violão e cantando a música “Does he love you enough” (“Ele te ama o suficiente?”).

Tradução de Maíra Santos
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