• Carregando...
Felton Davis sai às ruas com um telescópio na esperança de unir as pessoas com a ajuda de sua “astronomia de calçada” | Christian Hansen/The New York Times
Felton Davis sai às ruas com um telescópio na esperança de unir as pessoas com a ajuda de sua “astronomia de calçada”| Foto: Christian Hansen/The New York Times

Felton Davis sente profundamente o problema que descreve como o isolamento das pessoas. Ele o enxerga no café do quarteirão em Manhattan onde vive: os frequentadores se sentam sozinhos, isolados por seus fones de ouvido e encerrados no casulo formado pelo brilho das telas de seus laptops. Ele vê esse isolamento nas ruas, onde os pedestres caminham como zumbis, com a atenção totalmente tomada por seus telefones.

“Os humanos não são naturalmente alienados uns dos outros, mas a tecnologia está promovendo esse alheamento”, disse Davis, ex-funcionário dos correios e participante do Movimento Operário Católico, que promove a justiça social. “Ela embaça a consciência. Separa todo o mundo de todas as outras pessoas.”

Quando o céu está limpo e as estrelas e os planetas estão alinhados de modo xis, Davis, 63, sai para as ruas munido de um telescópio potente, com a esperança de conectar-se com as pessoas por meio da “astronomia de calçada”, em suas próprias palavras.

Leia também: Nasa cria o “Google Earth” de Marte

Houve uma sequência de noites desse tipo neste verão americano. Embora Plutão tenha dominado as conversas sobre astronomia, Saturno vem sendo a atração principal nos encontros promovidos por Davis. O planeta vem transitando no céu meridional depois do anoitecer, e seus anéis inclinados estão visíveis a partir da Terra.

Terra terá apenas 12 horas para se preparar no caso de uma grande tempestade solar

A humanidade terá apenas 12 horas para se preparar se uma tempestade solar de grandes proporções for detectada a caminho da Terra, aponta um documento do governo britânico revelado nesta sexta-feira (31). As tempestades solares, também chamadas de geomagnéticas, não são incomuns, mas geralmente ocorrem com intensidade mais branda.“A atividade solar

Leia a matéria completa

Numa tarde recente, Davis estava de olho na previsão do tempo, antevendo o que suspeitava que será a última possibilidade de ver Saturno neste ano a partir de seu posto de observação de costume, a calçada diante de uma agência bancária na Segunda Avenida. Às 21h, ele saiu do abrigo Maryhouse, onde vive e trabalha como voluntário, levando seu telescópio em um carrinho de supermercado.

Diante do banco, montou o telescópio sobre um tripé e o posicionou voltado a uma área do céu meridional escuro enquadrada por algumas árvores e um prédio de 13 andares. “Preciso me concentrar”, declarou, colocando seu olho contra o visor. Previu que o planeta desapareceria atrás do prédio em uma hora. Enquanto mexia com os botões do telescópio, transeuntes pararam a seu lado, guardando seus celulares.

“Estamos olhando Saturno”, disse Davis.

“Dá para ver Saturno daqui?” perguntou Corey Boone, 24, que parou ao seu lado com sua namorada, Nicole Flynn, 24. “Não acredito!”

Uma pequena multidão se reuniu —um bolsão de calma e atenção nas ruas agitadas da cidade. Davis se afastou do telescópio e convidou as pessoas a olhar no aparelho, uma a uma. “Incrível!”, disse Boone, olhando no visor. “É nítido demais, é inacreditável!”

Uma mulher fotografou Davis diante do telescópio. Davis distribuiu uma folha contendo informações sobre Saturno. Pessoas que não se conheciam começaram a conversar, falando de suas reações ao verem os anéis de Saturno ou trocando histórias sobre outros fenômenos astronômicos que já tinham observado.

Davis vê esses encontros como extensão do trabalho que faz para o Movimento Operário Católico, cofundado pela ativista Dorothy Day, que trabalhava em defesa dos pobres. Ele vive desde 1988 no Maryhouse, um abrigo do Movimento que também serve refeições e distribui roupas a necessitados.

Ele comprou o telescópio em 2011, por curiosidade. Inicialmente, costumava montá-lo sobre o telhado do abrigo, mas, sentindo solidão ali, decidiu levá-lo para a rua.

“Se eu subisse num caixote e pregasse sermões aos transeuntes sobre os males do isolamento, ninguém daria a mínima”, disse. “Mas, com uma oportunidade de ver estrelas de graça, um pouco do isolamento é rompido. As pessoas começam a conversar. Nas noites boas, é uma coisa mágica.”

A artista chinesa Haisi Hu estava andando ao lado com sua amiga Eva Davidova, artista espanhola. “Se alguém lhe falar de Paris mas você nunca tiver ido a Paris, não saberá que Paris existe”, comentou. “Alguém lhe fala que Saturno tem um anel e então você vê o anel”, gargalhou. “E é verdade, ele tem um anel mesmo! Não é uma história inventada!”

Às 22h15, Saturno já tinha desaparecido no brilho da iluminação de obras de conserto na rua.

A conversa acabou, as pessoas se dispersaram e em pouco tempo Davis estava voltando para casa entre as multidões de pedestres e o trânsito, um homem levando um telescópio em um carrinho de supermercado, com esperanças de um universo menos alienado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]