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A linha de chegada da Maratona de Boston simboliza a capacidade de resistência da cidade desde o atentado cometido por Dzhokhar Tsarnaev e seu irmão Tamerlan, que morreu em confronto com a polícia; mulher deposita flores no local da primeira explosão. | Sean Proctor/The New York Times
A linha de chegada da Maratona de Boston simboliza a capacidade de resistência da cidade desde o atentado cometido por Dzhokhar Tsarnaev e seu irmão Tamerlan, que morreu em confronto com a polícia; mulher deposita flores no local da primeira explosão.| Foto: Sean Proctor/The New York Times

A linha de chegada da Maratona de Boston significa orgulho e realização para aqueles que a cruzam trôpegos numa das grandes corridas do atletismo.

Desde a explosão de duas bombas nessa prova, em 2013, Boston enxerga essa linha também como um símbolo de como esta cidade se uniu depois do atentado para cuidar dos mortos e feridos. Ela passou a representar a capacidade de resistência desta cidade.

Mas desde que um júri federal sentenciou à morte um dos autores do ataque, em 15 de maio, a linha de chegada parece ter se tornado um local ambíguo. Os moradores dirigem seu olhar para a linha e logo começam a falar sobre morte —e decepção.

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“Fiquei chocado”, disse Scott Larson, 47, que trabalha perto da linha de chegada. “A pena de morte —para Boston...”

Para muitos, a sentença de morte é como uma mancha na consciência coletiva da cidade. Os bostonianos se opuseram esmagadoramente à imposição da pena capital ao autor sobrevivente do atentado, Dzhokhar Tsarnaev.

Uma pesquisa do “Boston Globe” mostrou que apenas 15% dos moradores da cidade desejam que ele seja executado. No Estado de Massachusetts, o percentual sobe para 19%. Em nível nacional, 60% dos americanos são favoráveis à pena de morte, de acordo com uma pesquisa da CBS News.

Três pessoas morreram no atentado e mais de 250 ficaram feridas. Os promotores disseram que Tsarnaev, que imigrou do Cáucaso russo com sua família em 2002, e seu irmão mais velho, Tamerlan, queriam matar americanos como vingança pela morte de islâmicos nas guerras do Iraque e Afeganistão. Tamerlan morreu em confronto com a polícia.

Ninguém aqui simpatiza com ele. Muitos acham que a prisão perpétua seria um destino pior que a morte, especialmente em se tratando de alguém tão jovem como Tsarnaev, 21. Outros temem que a execução faça dele um mártir. Outros ainda refletem sobre a histórica aversão à pena de morte.

Neil Maher, que voltou a Boston para uma reunião com ex-colegas de classe, disse que o veredicto o surpreendeu e decepcionou.

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“Deveriam demonstrar um pouco de humanidade”, disse Maher, 66. “Matar um adolescente não vai resolver nada. Acho que é só uma espécie de vingança visceral. Acho que daqui a três anos o povo de Boston e os jurados vão se sentir mal por essa decisão.”

Ele acha que a pena capital não combina com a excepcionalidade que Massachusetts se atribui, algo que permeia Boston desde 1630, quando o puritano John Winthrop disse que este ponto no Novo Mundo seria “como uma cidade sobre uma colina —os olhos de todos estão sobre nós”.

“Os chineses matam um monte de gente, nós [EUA] matamos um monte de gente, e quase ninguém mais no mundo faz isso”, disse.

A editora Jessica Brown, que trabalha numa empresa de tecnologia, olhava para a linha de chegada enquanto uma colega tirava uma foto. Também ela ficou surpresa com a sentença. “Realmente achei que lhe dariam a prisão perpétua”, disse ela. “Isso gera a questão de se devemos reagir a um homicídio com outro homicídio.”

Ela foi atingida de perto pela tragédia, pois mora no mesmo bairro que Bill e Denise Richard, cujo filho Martin, 8, foi morto por uma das bombas. Os pais do menino pediram ao governo que desistisse da pena de morte a Tsarnaev.

Alguns dos sobreviventes e seus familiares discordam. “Sinto que foi feita justiça para a minha família”, afirmou Liz Norden, que foi ao tribunal quase diariamente durante o julgamento. Seus filhos Paul e J.P. tiveram pernas mutiladas pelas explosões.

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“Tenho que ver meus dois filhos colocarem uma perna mecânica todos os dias, então, não sei... Assunto superado? Mas vou lhe dizer, parece que tiraram um peso das minhas costas.”

Os jurados foram inflexíveis. Decidiram-se pela pena de morte após deliberarem por 14 horas. Todos os jurados deveriam ser abertos à execução. Opositores da prática não podiam participar do júri.

Nesse sentido, o júri federal não refletia o sentimento da população da região. Massachusetts aboliu a pena de morte em 1984 e não realiza uma execução desde 1947.

Algumas pessoas, no entanto, foram favoráveis à pena capital. Peggy Fahey, nascida e criada em Boston, disse considerar que Tsarnaev está sendo bem tratado demais desde que foi preso e que ele merece morrer.

“Ah, por favor, que morra. Já chega”, disse Fahey, 78. “Por que mandá-lo para uma prisão chique lá no Colorado e deixar que ele seja mimado outra vez e que seja entrevistado pela Diane Sawyer – está me entendendo, né? Acabem logo com isso.”

Milton Pouncy, 47, disse se perguntar até que ponto a pena de morte pode reconfortar os sobreviventes. “As famílias que perderam pessoas continuarão atônitas. Talvez sintam que um pouco de justiça foi feita, mas, apesar de tudo, isso não vai trazer seus seres queridos de volta.”

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