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Foto de satélite de 17 de março mostra trabalho de dragagem no aterro norte do recife da Travessura, no mar do Sul da China | Center for Strategic International Studies/Digital Globe
Foto de satélite de 17 de março mostra trabalho de dragagem no aterro norte do recife da Travessura, no mar do Sul da China| Foto: Center for Strategic International Studies/Digital Globe

Em grupos, barcos chineses laboriosamente dragam a areia branca e a bombeiam sobre um coral parcialmente submerso, adequadamente batizado de recife da Travessura, transformando-o numa ilha.

Em questão de semanas, fotos de satélite mostraram o local crescendo. Alguns poucos barracos sobre palafitas foram substituídos por edifícios. O que parece ser um navio de guerra anfíbio, capaz de acolher 500 a 800 militares, patrulha a abertura sul do recife.

A China há muito tempo declarou sua soberania sobre o arquipélago conhecido em inglês como ilhas Spratly, no mar do Sul da China, também reivindicado por pelo menos três outros países, incluindo as Filipinas. Mas as fotos do recife mostram a velocidade, a dimensão e a ambição dos chineses de ganhar terreno na disputa.

Desde janeiro, a China vem dragando areia de todo o recife para usá-la no aterramento de áreas marítimas muito distantes do território continental chinês.

Os chineses claramente concluíram que dificilmente alguém os desafiará numa área supostamente rica em petróleo e gás e, o que talvez seja o mais importante, estrategicamente vital. O almirante Harry Harris, comandante da frota americana do Pacífico, acusou a China de realizar uma operação enorme e sem precedentes para criar território artificialmente. “A China está criando uma grande muralha de areia com dragas e escavadeiras.”

O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, expôs as mesmas preocupações em um tom mais diplomático. Em entrevista ao “Yomiuri Shimbun”, um dos principais jornais do Japão, Carter disse que as ações da China “aumentam as tensões e reduzem as perspectivas de soluções diplomáticas” no território reivindicado pelas Filipinas, pelo Vietnã e, indiretamente, por Taiwan. Ele exortou Pequim a “limitar suas atividades e a exercer moderação para melhorar a confiança regional”.

Embora outros países do Sudeste Asiático, como Malásia e Vietnã, já tenham usado técnicas semelhantes para estender ou ampliar seu território, nenhum tem os mesmos recursos que a China para essas tarefas de dragagem e construção. “As atividades chinesas no recife da Travessura são a mais recente prova de que Pequim aterra áreas de forma sistemática”, disse Mira Rapp-Hooper, do site Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia, projeto do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais voltado para o monitoramento da região disputada.

O recife seria um dos sete pequenos postos avançados que os chineses se empenham em estabelecer no mar do Sul da China.

“Isso permitirá que Pequim promova patrulhas regulares e contínuas do espaço aéreo e marítimo e que busque impor suas reivindicações marítimas a até mil milhas da costa”, disse Mira.

Embora esses postos avançados sejam muito vulneráveis ​​para serem usados pela China em tempos de guerra, observou Rapp-Hooper, “eles certamente podem permitir que a China exerça uma pressão significativa sobre outros pretendentes no mar do Sul da China, como Filipinas e Vietnã”.

A China trabalha tão rapidamente que a sua declaração de soberania pode se tornar um fato consumado antes que seja possível fazer algo para impedi-la.

Os EUA há muito tempo insistem para que as disputas territoriais sejam resolvidas de forma pacífica e que nenhuma parte interfira na navegação internacional ou tome medidas que impeçam uma solução diplomática. Mas, para os chineses, não se trata de algo aberto à negociação.

A China, sem fazer segredo das suas intenções territoriais nas ilhas Spratly, já criou pelo menos três novas ilhas que poderiam servir como bases de vigilância e estações de reabastecimento de navios da Marinha chinesa, segundo a consultoria IHS Jane’s.

As imagens de satélite das Spratly divulgados em novembro pela empresa mostraram como os chineses criaram uma ilha com cerca de 3 km de comprimento e 300 metros de largura sobre o recife da Cruz Feroz, cerca de 320 km a oeste do recife da Travessura, com um porto capaz de receber navios de guerra.

Os EUA estão prestes a realizar um exercício militar conjunto com as Filipinas, parte de uma nova estratégia do governo Obama de manter navios militares americanos regularmente atravessando a área, o que por sua vez poderá obrigar os chineses a recuar das suas reivindicações de direitos exclusivos.

Os chineses dizem considerar que a maior parte do mar do Sul da China lhes pertence por direito.

Em 2014, a China e o Vietnã se envolveram em uma agressiva polêmica depois de a China rebocar uma plataforma de perfuração petrolífera, avaliada em US$ 1 bilhão, até uma área a apenas 241 km da costa vietnamita.

A Xinhua, agência estatal de notícias da China, informou no início deste mês que os líderes dos dois países desejam atenuar suas diferenças e “controlar suas disputas para garantir que a relação bilateral se desenvolva”.

Colaborou Helene Cooper

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