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A fábrica Changzhi Cement Group, que paralisou sua produção há dois anos, mas nunca foi oficialmente fechada | Adam Dean /The New York Times
A fábrica Changzhi Cement Group, que paralisou sua produção há dois anos, mas nunca foi oficialmente fechada| Foto: Adam Dean /The New York Times

Miao Leijie perde dinheiro a cada tonelada de cimento que a sua empresa produz. Mas ele não pode parar de produzir.

Em 2011, quando a fábrica foi inaugurada para abastecer os setores da construção civil e infraestrutura na cidade de Changzhi, no norte da China, a empresa recorreu a bancos para obter a maior parte do seu capital inicial. Agora, Miao, diretor-geral da fábrica, precisa continuar produzindo cimento apenas para que a empresa consiga pagar os juros dos empréstimos.

Dificilmente a empresa, chamada Lucheng Zhuoyue Cement Plant, vai conseguir se safar. Os clientes e os investimentos estão minguando, e a companhia precisou pedir mais empréstimos para se manter. “Se interrompêssemos a produção, os prejuízos seriam esmagadores”, disse Miao. “Estamos trabalhando para o banco.”

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Changzhi e arredores estão cheios de fábricas de cimento semimortas e silenciosas, cuja hibernação constitui um lúgubre pano de fundo para a claudicante economia chinesa.

Como muitas cidades industriais de toda a China, Changzhi, que cresceu durante a prolongada bonança de investimentos na China, tem fábricas demais e demanda de menos. Esse excesso de capacidade, segundo muitos economistas, precisará ser eliminado para que a economia chinesa volte a ter um crescimento saudável.

Porém, em vez de fecharem, a Lucheng Zhuoyue e outras empresas se arrastam numa espécie de marcha dos mortos-vivos.

Para proteger fábricas e empregos, o governo e seus bancos às vezes reestruturam as dívidas, fornecem mais crédito e apresentam outras formas de ajuda para manter em funcionamento as empresas deficitárias. É uma tática empresarial estranha, mas que é parte da estratégia de manutenção da estabilidade social, uma meta da liderança política da China.

Estratégias semelhantes já foram tentadas anteriormente. No Japão, essas companhias, conhecidas como “empresas-zumbi”, são acusadas ​​de terem contribuido para as duas décadas de estagnação econômica do país.

Changzhi, cidade de 3 milhões de habitantes, depende da siderurgia e de outras indústrias pesadas. Na época em que o mercado imobiliário crescia e o governo despejava dinheiro em infraestrutura, fábricas de cimento brotaram na periferia da cidade, gerando centenas de empregos bem remunerados.

Mas a economia do país está perdendo fôlego. O produto interno bruto cresceu 7% no segundo trimestre de 2015 em comparação ao ano anterior. É o ritmo mais lento para a China em um quarto de século, o que ajudou a alimentar um dramático movimento de venda nos mercados acionários do mundo todo.

Alguns setores estão desmoronando, e apartamentos vazios construídos durante o boom agora representam uma ameaça para o setor imobiliário. Empresários em Changzhi se queixam de que os projetos de construção civil bancados pelo governo local também foram reduzidos.

Por causa disso, as fábricas de cimento de Changzhi sofrem com o excesso de capacidade. A Huatai Cement Clinker Company, também de Changzhi, produziu apenas 200 mil toneladas de cimento neste ano, 20% da sua capacidade.

Sendo uma empresa pública, a Huatai sobrevive com a ajuda de uma assistência especial. A empresa tem crédito para adquirir carvão e pode contrair empréstimos a juros baixos da empresa provincial da qual é subsidiária. Isso permitiu à direção manter todos os seus 300 empregados, o que é a maior prioridade da companhia. “Nossos funcionários precisam comer, precisam viver”, disse um gerente.

Do ponto de vista econômico, seria melhor para essas empresas encolher ou mesmo fechar, liberando sua equipe de funcionários qualificados para trabalhos em empresas ou setores com melhores perspectivas.

A situação também é complicada para os trabalhadores que não tiveram a sorte de manter seus empregos. No Changzhi Cement Group, onde o único som que se escuta é o latido de um cachorro, Zhao Liwei, 43, ex-eletricista da empresa, vê TV dentro de uma decrépita sala reservada aos zeladores.

Dois anos atrás, quando a produção parou, ela deixou de receber salário. Como a fábrica nunca foi oficialmente desativada, a maioria dos funcionários não recebeu as indenizações relativas à demissão, segundo Zhao. “Nos prometeram uma tigela de arroz de ferro”, disse, usando uma expressão chinesa que alude a empregos vitalícios. Agora, “é como se estivéssemos em férias eternas e não remuneradas”.

Ao longo dos anos, o empresário Wang Xiaohu, 40, investiu 20 milhões de yuans (R$ 12 milhões) na fábrica Changzhi Ruili Building Materials Ltd, com capacidade para produzir até 300 mil toneladas de cimento por ano. Atualmente, o local é vigiado por um guarda solitário. Wang precisou interromper a produção no começo de 2014, quando demitiu quase todos os seus cem funcionários.

No entanto, ele mantém o maquinário, à espera de dias melhores. “Muitas das pequenas e médias fábricas de cimento daqui estão assim”, disse Wang. “Há poucas chances de que elas venham a reabrir.”

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