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Abrahim al-Awawda, 15, cruzou a cerca para Israel, foi capturado e logo devolvido à faixa de Gaza | Wissam Nassar/The New York Times
Abrahim al-Awawda, 15, cruzou a cerca para Israel, foi capturado e logo devolvido à faixa de Gaza| Foto: Wissam Nassar/The New York Times

Momentos depois que Ibrahim al-Awawda subiu na cerca de quase três metros que separa o campo de refugiados de Bureij, no limite leste de Gaza com Israel, foi cercado por seis soldados israelenses. Eles o detiveram, interrogaram e, depois de Ibrahim passar seis meses em duas prisões israelenses, o mandaram de volta para a pobreza, a morte e a destruição em Gaza, que o haviam motivado a fugir.

“Eu sabia que eles iam me capturar”, disse Ibrahim, 15, cujo pai foi morto em um ataque israelense em 2002 e que, desde então, viveu três guerras entre Israel e militantes de Gaza, incluindo a sangrenta batalha de 50 dias no último ano. “A guerra me abalou”, acrescentou ele. “Eu disse a mim mesmo que poderia encontrar uma vida melhor. Eles me deram boa comida, mas depois me atiraram de volta em Gaza.”

Ibrahim faz parte de um número crescente de jovens palestinos de Gaza que foram apanhados tentando cruzar para Israel nos quase seis meses desde que a última conflagração arrefeceu. Ele não levava nada consigo, mas outros estavam armados com facas ou granadas.

As travessias têm abalado os moradores do lado israelense da cerca, que ainda estão psicologicamente marcados pelas diversas invasões por túneis de militantes palestinos que pontuaram o conflito no último verão. Mas autoridades militares e outras veem o fenômeno crescente menos como um ato de terrorismo e mais como um de desespero.

Várias pessoas que saltaram a cerca compararam seu desânimo ao dos cerca de 300 habitantes de Gaza que morreram em um naufrágio em setembro quando eram transportados ilegalmente pelo Mediterrâneo: eles apenas queriam sair dali, fosse qual fosse o risco.

Alguns são mortos a tiros nesse processo. Alguns são assediados, ao retornar, pelo Hamas, a facção islamista que domina Gaza, como suspeitos de colaborar com Israel. Mas muitos sonham em encontrar trabalho em Israel e consideram até o inevitável tempo atrás das grades como válido, já que a Autoridade Palestina paga um benefício mensal a todos os prisioneiros.

Comparada com Gaza, “a prisão em Israel parece um hotel cinco estrelas”, disse Youssef Abbas, 21, que cruzou a fronteira em 2010 e 2008. Ele disse que correu para a cerca mais duas vezes em setembro, mas foi repelido, uma vez por forças de segurança de Gaza e outra por um telefonema de sua namorada. “Eu pensava em duas opções: a morte ou a prisão”, disse Abbas. “Porque eu tinha tantos problemas na minha vida, estava tão cansado, que tive essa ideia.”

Os militares israelenses disseram que 84 palestinos foram presos subindo na cerca de setembro a janeiro. Nos nove primeiros dias de fevereiro, outros nove foram presos.

O porta-voz militar israelense, tenente-coronel Peter Lerner, disse: “Cada infiltração é encarada por nós como um potencial ataque terrorista. Basta que um deles venha com uma arma, uma granada, uma bomba e assim por diante. Essa é nossa preocupação”.

Para os israelenses que vivem nas pequenas comunidades perto da barreira, os relatos de travessias ilegais trazem lembranças assustadoras do último verão.

No kibutz Sufa, perto do qual 13 atiradores de Gaza saíram de um túnel em 17 de julho —episódio que levou Israel a invadir Gaza por terra—, “as pessoas estão revivendo o medo”, disse Eyal Brandeis, antigo membro da equipe de emergência do kibutz de 300 pessoas.

Em Gaza, homens que cruzaram para Israel disseram que as autoridades de segurança israelenses os interrogaram, às vezes durante horas, sobre se o Hamas ou algum outro grupo os tinha enviado, como haviam planejado sua fuga, o que pretendiam fazer em Israel e, de modo geral, o que estava acontecendo em sua terra depois da guerra. Quando eles voltaram a Gaza, disseram que as autoridades de segurança do Hamas os questionaram, às vezes durante horas, sobre o que haviam contado aos israelenses.

Iyad al-Buzom, porta-voz do Ministério do Interior de Gaza, disse que o governo tomou “sérias medidas para evitar a travessia ilegal da fronteira” e considera “procedimentos e punições mais duros para deter os que pensam em cruzar a cerca”. Ele disse que as autoridades temem que os que atravessam sejam pressionados a revelar informações à inteligência israelense ao ser presos ou sejam feridos ao tentar atravessar para o outro lado.

Dados da Agência de Coordenação de Assuntos Humanos da ONU mostram que soldados israelenses mataram seis palestinos perto da cerca em 2014, todos menos um antes da guerra.

Ateya al-Nabahin, 15, levou um tiro no pescoço quando tentava atravessar para Israel em novembro. Ele voltou para casa em janeiro, depois de ser tratado em dois hospitais israelenses. “Agora ele fica deitado na cama como um morto”, disse o irmão de Ateya, Fadi, em uma entrevista recente. “Ele não consegue andar nem falar como uma pessoa normal.”

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