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Yaakov Henig, estudante da Universidade Ariel, trabalha na elaboração de vinhos com castas locais | RINA CASTELNUOVO/NYT
Yaakov Henig, estudante da Universidade Ariel, trabalha na elaboração de vinhos com castas locais| Foto: RINA CASTELNUOVO/NYT

O novo branco fresco, ácido e mineral de uma vinícola de qualidade de Israel envelheceu oito meses – ou, dependendo de como você prefere olhar para o fato, pelo menos 1.800 anos.

O vinho, chamado marawi e lançado em outubro pela Recanati Winery, é o primeiro produzido comercialmente pela crescente e moderna indústria israelense com uvas locais. Ele nasceu de um projeto inovador da Universidade Ariel na Cisjordânia ocupada que tem como foco usar testes de DNA para identificar – e recriar – vinhos antigos bebidos por gente como o rei Davi e Jesus Cristo.

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Eliyashiv Drori, enólogo da Ariel que liderou a pesquisa, seguiu o marawi – também chamado de hamdani – e as uvas jandali até o ano 220 a.C., baseado em uma referência no Talmude da Babilônia.

“As nossas escrituras estão cheias de vinhos e uvas – antes dos franceses começarem a pensar em fazer vinhos, estávamos exportando a bebida. Temos uma identidade muito antiga e, para mim, reconstruí-la é importante. É uma questão de orgulho nacional.”

O redesenvolvimento de castas locais, no entanto – como tantas coisas nessa terra contestada – não está livre de fricção política. Ela vem junto com as novas diretrizes de rotulagem polêmicas lançadas pela União Europeia, que exigem que os vinhos da Cisjordânia e das Colinas de Golã tenham uma etiqueta dizendo que foram feitos em assentamentos israelenses.

E os palestinos têm suas próprias reivindicações de propriedade sobre essas uvas.

Identidade própria

Para os produtores de vinho de Israel, a busca por castas novas/velhas é uma oportunidade de distinguir seus produtos em um mercado global competitivo em que eles têm poucas esperanças de ser melhores, por exemplo, do que um chardonnay francês.

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Os arqueólogos e geneticistas estão testando novos métodos para analisar velhas sementes queimadas. Na luta sem fim entre israelenses e palestinos, é uma busca para reafirmar as raízes judaicas na terra santa.

Mas a Recanati não é a primeira a vender vinho dessas uvas. A Cremisan, uma pequena vinícola perto de Belém, onde os palestinos são sócios de monges italianos, vem usando hamdani, jandali e outras frutas locais desde 2008.

“Como sempre acontece com os israelenses, eles declaram que o falafel, o tahini, o tabule, o homus e agora as uvas jandali são produtos de Israel”, reclama Amer Kardosh, diretor de exportação da Cremisan, em um e-mail. “Gostaria de informá-lo que esses tipos de uva são totalmente palestinos e crescem em vinhedos palestinos.”

Sim, mas as fazendas palestinas que venderam as uvas para a Recanati insistiram em continuar anônimas, por medo da reação de trabalhar com os israelenses, ou apenas de ajudar a fazer vinho, que geralmente é proibido no Islamismo.

A Recanati, por seu lado, abraçou a herança, usando a língua árabe no rótulo do marawi e contratando um cantor árabe-israelense para cantar no lançamento, em outubro, para 50 sommeliers selecionados.

O viticultor, Ido Lewinsohn, diz que seu produto é “limpo e puro de qualquer influência política”, e afirma que as uvas: “Não são israelenses; não são palestinas. Pertencem à região – e isso é algo bonito”.

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Reconstrução

Foram descobertos lagares em Israel – e na Cisjordânia – que datam de tempos bíblicos. Mas a produção do vinho se tornou ilegal depois que os muçulmanos conquistaram a terra santa no século VII.

Quando o barão Edmond de Rothschild, sionista de primeira hora e descendente da famosa vinícola de Bordeaux, ajudou a recomeçar a produção local em 1880, trouxe os frutos da França.

Hoje, as 350 vinícolas de Israel produzem 65 milhões de garrafas por ano. Há tempos o viscoso e doce Manischewitz foi ofuscado por chardonnays, cabernets, merlots, syrahs, carignans e outros de alta qualidade. Mas não há muito para onde ir com as uvas importadas.

“Ainda não conseguimos criar um DNA para os vinhos israelenses”, lamenta Haim Gan, dono da Grape Man, uma empresa que defende a cultura vinícola de Israel.

Drori, que é doutor em Agricultura, começou em 2005 uma vinícola boutique, a Gvaot, perto de sua casa na Cisjordânia. Ali, ele percebeu um vinhedo abandonado com uvas brancas pequenas e muito doces que pensou que poderiam resultar em vinhos saborosos.

Com um orçamento de cerca de US$ 750 mil, a maior parte do Fundo Nacional Judeu – uma organização sionista de um século que ajuda a transformar o cenário da agricultura de Israel – Drori e uma dezena de colegas identificaram, desde 2011, 120 variedades únicas de uvas cujos perfis de DNA são distintos de todas as importadas. Cerca de 50 foram domesticadas, conta Drori, e 20 delas são “adequadas para a produção de vinho”.

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Separadamente, pesquisadores identificaram 70 variedades distintas usando DNA e um escaneamento tridimensional, que nunca havia sido utilizado antes dessa forma e com sucesso, de sementes queimadas e secas descobertas em escavações arqueológicas. A ideia é comparar essas sementes antigas com as uvas vivas, ou algum dia talvez recriar a fruta como foi feito no filme “Jurassic Park”.

Dadas as dificuldades de conseguir as uvas de fazendeiros palestinos, a Recanati produziu apenas 2.480 garrafas de marawi 2014, que estão disponíveis em cerca de dez restaurantes de Tel Aviv. A vinícola tem perto de quatro mil garrafas de marawi 2015 envelhecendo e espera em breve plantar seu próprio vinhedo para expandir e refinar a marca.

Itay Gleitman, que escreve sobre vinhos para a Haaretz, chamou o marawi de “o vinho israelense mais importante do ano”, por sua procedência, se não pelo gosto. Ele diz que é “agradável e fácil de beber” e que “abre um pouco no copo com aromas suaves de maçã e pêssego”. E, se a uva for cultivada especialmente para a vinicultura, tem potencial que “estimula a imaginação”.

O próximo é o dabouki, também branco, que o conhecido viticultor israelense Avi Feldstein planeja lançar junto com sua nova vinícola em alguns meses. Dabouki pode ser umas das castas locais mais antigas, um bom candidato para o vinho que encheu o copo de Jesus (que Drori acredita que bebia brancos e tintos).

Feldstein diz que tem cerca de 800 garrafas de cada safra de dabouki 2014 e 2015, uma “com gosto de castanha” e a outra “um pouco tropical”.

“Se você é um viticultor de verdade, quer expressar um lugar. Sem a região e a diversificação que ela traz, o vinho fica reduzido à uma Coca-Cola alcoólica”, diz Feldstein.

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