• Carregando...
Algumas empresas estão comprando e vendendo leite materno para ajudar bebês prematuros, enquanto outras trabalham para encontrar novos usos terapêuticos para o produto. Leite congelado na Califórnia | Monica Almeida/The New York Times
Algumas empresas estão comprando e vendendo leite materno para ajudar bebês prematuros, enquanto outras trabalham para encontrar novos usos terapêuticos para o produto. Leite congelado na Califórnia| Foto: Monica Almeida/The New York Times

Quando Gretty Amaya tirou licença maternidade não remunerada há cinco meses, começou com um “bico” para ajudar a pagar as contas. Gretty, que vive em Miami, ganhou mais de US$2 mil até agora bombeando leite materno e vendendo o que sobrou após a alimentação de sua filha.

Seu leite congelado e o de centenas de outras mulheres vêm para este lugar que se assemelha a uma indústria farmacêutica. Lá dentro, ele será concentrado em um produto com alto nível de proteína destinado a bebês extremamente prematuros em UTIs neonatais, a um custo de milhares de dólares por bebê.

O leite materno está se tornando uma commodity e uma das fronteiras mais recentes da indústria de biotecnologia — mesmo havendo inúmeras preocupações com essa atividade de rápido crescimento. A empresa proprietária da fábrica, a Prolacta Bioscience, recebeu US$46 milhões de investidores.

Prolacta Bioscience está entre as empresas pioneiras na utilização de leite materno como medicamentoMonica Almeida /The New York Times

“Isto é plasma branco”, disse Scott A. Elster, que lidera a empresa. Ele estava comparando o leite ao plasma sanguíneo, que há muito tempo é coletado de doadores e transformado em produtos médicos como imunoglobulina, que ajuda a combater infecções, e fatores de coagulação para hemofílicos.

O leite concentrado pode ser só o começo. Pesquisadores dizem que o leite materno, que fornece uma nutrição perfeita aos bebês e os protege de infecções, está repleto de terapêutica potencial, não só para os pequenos, mas possivelmente para adultos, para tratar doenças intestinais ou infecciosas, como a doença de Crohn, por exemplo.

“Estamos apenas começando a descobrir o leite materno”, disse Bruce German, presidente da Evolve Biosystems. A Evolve e outras empresas como Glycosyn, Jennewein Biotechnologie e Glycom estão tentando desenvolver produtos com base em açúcares complexos do leite materno que parecem nutrir as bactérias do trato digestivo que são importantes para a saúde.

Porém, a comercialização desse leite vem gerando inquietação. Muitos se preocupam com o fato de que as empresas possam captar a maior parte do leite materno excedente e fazer produtos que seriam caros para muitos bebês, deixando deficitários os bancos de leite sem fins lucrativos.

“O problema é quanto leite materno excedente existe no país e quem ficará com ele”, disse Kim Updegrove do Mothers’ Milk Bank, grupo sem fins lucrativos em Austin, no Texas.

Há também um debate intenso sobre se as mulheres devem receber dinheiro por seu leite. Alguns estão preocupados que elas possam tentar aumentar sua produção de leite de forma insegura, esconder problemas de saúde que poderiam fazer com que o leite não fosse saudável, misturar leite de vaca ou privar seus próprios bebês.

Quando a Medolac Laboratories disse no ano passado que queria comprar leite de mulheres em Detroit, foi acusada de lucrar à custa das mulheres negras.

“Estamos profundamente preocupados que as mulheres se sintam coagidas a desviar o leite destinado a alimentar seu próprio bebê”, disse a Associação de Aleitamento das Mães Negras. A Medolac abandonou o projeto.

Defensores dos pagamentos dizem que se as empresas forem lucrar, nada mais justo que pagar as fornecedoras, e que a comercialização do leite materno poderia aumentar a oferta disponível.

Elster disse que a Prolacta processou cerca de 70 mil litros de leite no ano passado e tem planos para chegar a mais de 91 mil litros este ano, mesmo número distribuído em 2013 por todos os 18 bancos de leite sem fins lucrativos que pertencem à Associação de Bancos de Leite Humano da América do Norte.

Enquanto algumas mulheres doam leite para aqueles que precisam, algumas o vendem a outras mães (ou aos fisiculturistas que acreditam que ele aumente a massa muscular), na esperança de receber mais que US$1 por 30 mililitros pagos pela Prolacta e a Medolac. Algumas autoridades de saúde dizem que vendas diretas ou o compartilhamento envolvem riscos, porque o leite normalmente não é pasteurizado.

Os produtos da Prolacta destinam-se a bebês extremamente prematuros, que necessitam de uma nutrição maior do que a que o leite materno sozinho pode oferecer. A empresa faz um fortificante que contém altos níveis de proteínas, gorduras e minerais, que é usado para complementar o aleitamento. Ele custa cerca de US$180 para 30 mililitros, e um bebê normalmente consumiria o equivalente a US$10 mil durante várias semanas.

Cada lote de leite que chega à fábrica de US$ 18 milhões nos arredores de Los Angeles é testado para infecções virais, nicotina, drogas, diluição e leite de vaca. As mulheres que fornecem o leite fazem exames de sangue e fornecem amostras de DNA.

“Mesmo as vitaminas que você toma precisam ser informadas”, disse Gretty.

A Medolac vende leite esterilizado ao invés do pasteurizado, portanto ele não precisa ser congelado ou refrigerado.

Glycosyn, Jennewein e Glycom então tentando sintetizar o açúcar do leite materno para fazer produtos que auxiliem na formação de um “microbioma” intestinal saudável. Prolacta e Medolac dizem que sua capacidade de coletar leite nacionalmente permitirá que extraiam os açúcares do leite.

Até agora, disse a fundadora da Medolac, Elena Medo, “nunca conseguimos leite suficiente em um só lugar para conseguirmos fazê-lo”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]