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Homens trabalham no que seria a nova casa de Mark Zuckerberg; contrato garante privacidade ao proprietário | Jason Henry /The New York Times
Homens trabalham no que seria a nova casa de Mark Zuckerberg; contrato garante privacidade ao proprietário| Foto: Jason Henry /The New York Times

Muitas qualificações são exigidas das pessoas que reformam as casas dos magnatas da tecnologia no Vale do Silício, como saber assentar pisos de madeira reciclada, aplicar azulejos cada vez menores nos banheiros e instalar redes de computação.

Agora, há uma nova exigência: assinar um acordo de confidencialidade doméstica.

Esses documentos, que exigem o mais completo sigilo, estão sendo solicitados a todas as pessoas que trabalham nas casas de um pequeno, mas crescente, número de executivos da tecnologia, segundo agentes imobiliários, arquitetos e empreiteiras.

As celebridades com frequência buscam confidencialidade sobre suas residências. Mas agora o sigilo passou a ser exigido por pessoas não necessariamente famosas, mas que trabalham para companhias de tecnologia conhecidas —Facebook, Twitter, Google etc.

“São pessoas de quem você nunca ouviu falar”, disse um empreiteiro que pediu para não ser citado pelo nome porque assinou dez contratos de confidencialidade nos últimos três anos, quando fez trabalhos de reforma.

Os trabalhadores que são obrigados a assinar, disse ele, são “muito variados: pintores, assentadores de pisos, faxineiros, jardineiros, paisagistas, qualquer coisa ligada à casa”. “Às vezes você nem sabe quem é o cliente”, diz o empreiteiro. “Ou fica sabendo durante o serviço.”

Descobrir quem e quantas pessoas insistem nesses contratos é quase impossível. Mas um processo judicial envolvendo Mark Zuckerberg projetou luz sobre o assunto. Em um e-mail revelado sobre o caso, um advogado de Zuckerberg escreveu para o advogado do outro: “Como seu cliente sabe, o senhor Zuckerberg faz absoluta questão de proteger a privacidade de sua vida pessoal”.

O que causa uma ruga de estranheza: algumas das pessoas que exigem confidencialidade são as mesmas que construíram uma indústria sobre seu oposto, a revelação de informações pessoais.

Neil Richards, professor e especialista em privacidade na escola de direito da Universidade Washington em St. Louis, Missouri, disse que o contrato de confidencialidade criou uma espécie de “quem é importante ou não em relação à informação”.

Assim, você não saberá muito sobre o que está sendo feito na 21st Street, em San Francisco, pelo pessoal que trabalha lá. Recentemente me aproximei de um homem parado no quarteirão, apresentei-me como repórter e perguntei o que ele fazia ali.

“Trabalho em uma casa.”

“Está falando da casa de Zuckerberg?”, perguntei. Foi amplamente relatado na imprensa que a propriedade é dele, mas o registro público diz que o proprietário é SFRP L.L.C.

“Não posso dizer quem é e não posso dizer quem não é”, disse o trabalhador.

Ele tinha assinado um contrato? “Todos os trabalhadores assinam”, admitiu. Fim de papo.

Apresentei-me para um sujeito sentado junto a uma mesa do outro lado da rua. Parecia ser um capataz ou alguém que distribuía os crachás que os trabalhadores usavam. Ele disse que o lugar era “apenas uma casa” e me entregou um cartão com o e-mail da relações-públicas do Facebook, mas sem nome.

Enviei um e-mail ao contato do Facebook, mas não tive resposta. Uma porta-voz do Facebook disse que a companhia não comenta assuntos pessoais de Zuckerberg.

O processo contra Zuckerberg envolve outra residência, a 55 quilômetros ao sul de Palo Alto. Nele, um empreiteiro chamado Mircea Voskerician alega que tinha um contrato para comprar uma casa de US$ 4,8 milhões vizinha à residência de Zuckerberg e se ofereceu para vender um pedaço da propriedade a ele.

Voskerician diz que, em uma reunião na sede do Facebook, discutiu um acordo para vender toda a propriedade a Zuckerberg. Em troca, disse ele, Zuckerberg o apresentaria a pessoas poderosas no Vale do Silício, potenciais sócios e clientes.

Voskerician rejeitou uma oferta melhor pela casa, afirma o processo, mas Zuckerberg não cumpriu a promessa de fazer as apresentações.

Chris Hoofnagle, especialista em privacidade, disse que um acordo de confidencialidade, que impede que informações íntimas cheguem à rede, onde podem se disseminar, era uma atitude “sensata” dos executivos.

Sharon, vizinha que passava pela 21st Street, estava irritada com a obra. Ela não quis dar seu sobrenome, dizendo temer uma “retribuição”. “É revoltante”, disse sobre o desejo de privacidade de Zuckerberg, assim como a atividade no quarteirão.

“Vejam esta privacidade. Está assim há dois anos. Onde está a preocupação pelos vizinhos?”

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