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Sofia Mechetner, 14, à frente do desfile da Dior em julho. | Caroline Blumberg/Eropean Pressphoto Agency
Sofia Mechetner, 14, à frente do desfile da Dior em julho.| Foto: Caroline Blumberg/Eropean Pressphoto Agency

É a “história da Gata Borralheira”. Um “conto de fadas”. Um “momento totalmente Cinderela”.

Será mesmo?

“Não é um conto de fadas, é um clichê”, disse Sara Ziff, criadora do grupo Model Alliance, sobre a história da israelense de 14 anos que foi a Paris em busca de uma carreira como modelo, conheceu o designer Raf Simons numa loja da Dior e acabou abrindo o desfile da grife em julho. “É novamente o uso de meninas para vender roupas para mulheres.”

Depois de uma temporada em que modelos maduras foram celebradas nas campanhas publicitárias de marcas como Céline’s (Joan Didion) e Saint Laurent’s (Joni Mitchell), o pêndulo da moda, ao que parece, oscilou dramaticamente na direção oposta.

Além da nova descoberta da Dior, Sofia Mechetner, a Chanel anunciou que o rosto da sua campanha de óculos será Lily-Rose Depp, 16, filha de Johnny Depp. Também Kaia Gerber, 13, filha de Cindy Crawford, emplacou um ensaio fotográfico na edição de setembro da “CR Fashion Book”.

Sem dúvida há hoje mais conscientização por parte do setor —e da lei— quanto à necessidade de proteger menores de idade.

Há três anos, todas as 21 edições mundiais da “Vogue” assinaram e publicaram um pacto comprometendo-se a não usarem modelos menores de 16 anos (embora isso tenha sido eventualmente contornado, como no caso de Kaia Gerber, que apareceu na “Vogue” italiana como parte de uma edição especial sobre o tema “idade”).

Em 2007, o Conselho de Estilistas de Moda dos EUA e o Conselho Britânico de Moda divulgaram orientações de saúde recomendando fortemente (no caso dos EUA) ou exigindo (no caso britânico) que os estilistas só usassem modelos com pelo menos 16 anos nos seus desfiles.

Por mais que se citem histórias exemplares e a presença de tutoras maternais, e por mais que essas meninas sejam casos raros, nada soluciona a percepção do problema por parte da opinião pública. Como diz Ziff, “quando você coloca maquiagem e salto alto em crianças, fica subentendido que elas são objetos sexuais e, na maioria das vezes, é assim que as imagens são lidas pelo público”.

A moda é basicamente uma atividade baseada na ilusão. Mas a suposição de que essas meninas são mais velhas, mais experientes e mais sedutoras do que poderiam ser na sua idade— e que qualquer pessoa que comprar as roupas apresentadas por elas poderá ser igual— é o lado negativo disso.

Essas crianças são celebradas porque não lembram em nada a idade que realmente têm. Por mais cuidado que se tome com elas, esse descompasso entre a realidade e a imagem é chocante.

É revelador que até mesmo as modelos de sucesso já tenham falado disso publicamente. As modelos jovens são colocadas numa situação que “as trata como adultas, e elas não sabem lidar com isso”, comentou Coco Rocha em 2011.

Então, qual é o fascínio? O imperativo do novo, supostamente, embora também se seja nova aos 21 anos de idade. E a pressão, talvez por parte das próprias meninas. “As adolescentes são ambiciosas hoje em dia”, disse Michelle Tan, editora da “Seventeen”.

A moda adora refletir o momento. E também adora a transgressão; só que essa história da “jovenzinha vestida como mulher” já é bastante familiar e, portanto, deixou de ser tão transgressora.

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