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José Alvarrado poupou durante mais de dez anos para comprar o 3 Brothers Mini Market, mas apenas oito meses depois de inaugurá-lo, as prateleiras, antes lotadas de sacos de arroz e feijão, já estavam vazias. As garrafas de leite, deitadas de lado em uma geladeirinha, estavam sendo vendidas pela metade do preço.

Alvarrado, que está fechando as portas, diz que mesmo com um contrato de locação de cinco anos, os aumentos de aluguel e outras condições tornam impossível a continuação do negócio. Sua situação é semelhante a de muitos donos de mercearias em Upper Manhattan: apesar do lucro, elas estão sendo forçadas a saírem dos bairros onde se situam. Já foram postos de abastecimento solitários em uma cidade perigosa e seus toldos coloridos faziam parte da paisagem urbana, mas agora estão perdendo clientes para as grandes franquias.

As bodegas — há doze mil espalhadas por Nova York – não podem ser definidas de uma única forma. Você reconhece quando vê. Elas estão espalhadas pela cidade e reúnem tudo de que um nova-iorquino possa precisar: frutas, produtos para o cabelo, cerveja, cigarros, bilhetes de loteria, queijo. Nas lojas, amontoadas, há gatos; elas guardam os pacotes dos vizinhos e até oferecem alívio espiritual aos clientes, vendendo velas de Nossa Senhora de Guadalupe e incenso.

Setenta e cinco fecharam as portas este ano, a maioria em Upper Manhattan, segundo Ramon Murphy, presidente da Associação de Bodegas dos EUA. O aluguel é a maior despesa para os proprietários e, em Manhattan, onde o espaço comercial limitado gera uma disputa acirrada, o valor do limite máximo não para de subir. De acordo com a Agência Imobiliária de Nova York, o aluguel comercial médio na região subiu 34 por cento de 2004 a 2014.

O problema se agrava com o grande número de cadeias nacionais. Em 2014, a cidade viu o maior aumento desse tipo de estabelecimento em quatro anos — e o sexto ano seguido de crescimento, elevando para 7.473 as unidades na cidade, informa o Centro para um Futuro Urbano. “Vejo Duane Reades e Rite Aids abrindo em todo lugar e a única diferença entre eles e nós é que eles têm farmácia”, Murphy diz das duas cadeias de drugstores.

William Marte é dono da KSY Mini Market Deli há quinze anos. “O bairro mudou; o que as pessoas querem também. Muita gente que morava aqui hoje não teria condições de ficar”, lamenta.

Hector Hernandez diz que frequenta a bodega de Marte há anos e que, se a loja fechar, será uma grande perda para o bairro. “Às vezes venho sem dinheiro e ele sempre me deixa pagar depois”, explica. Muita gente por ali pensa da mesma forma.

Randol Lara, que toca a Lara’s Deli & Grocery há quinze anos, explica que, embora sua família ache um risco, ele quer reformar a bodega. “Agora que ‘ser saudável’ está na moda, vamos mudar”, diz.

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