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 | Sam Washburn/The New York Times
| Foto: Sam Washburn/The New York Times

Vamos chamar de um “sim” de boas intenções – aquele vindo de alguém que aceita um convite embora saiba que não vai poder comparecer.

“Virou coisa comum por causa do Facebook. Vira e mexe eu anuncio um evento lá e o povo marca que vai como sinal de solidariedade – e ai de você se perguntar se a pessoa vai mesmo sair de Massachusetts, por exemplo, para ir a uma festa na Califórnia! Ela se sente afrontada, como a nobreza de seus sentimentos estivesse sendo criticada”, explica a pintora Daisy Rockwell.

E o fenômeno é global.

Empresas prometem cura do vício em celular

Como quase todo mundo, Susan Butler olha demais para seu smartphone. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, ela tomou uma atitude: comprou por US$ 195 o serviço de uma empresa chamada Ringly, que promete “que você deixe seu telefone à distância e fique tranquilo”.A Ringly faz isso conectando seus toques a um filtro, de modo que o usuário

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Um amigo, ex-diplomata na Índia, escreveu em um e-mail: “Aceitar convite sem ter a intenção de comparecer faz parte da rotina na Índia. Ninguém acredita que, simplesmente por ter confirmado, a pessoa tenha a intenção de ir. Na manhã do dia do jantar que seria oferecido ao primeiro-ministro, por exemplo, o pessoal da organização estava feito louco, ligando para os convidados, para saber se eles iam estar lá, mas, mesmo assim, não funcionou”.

“Com isso, o que se viu foi um troca-troca de nomes nas mesas de última hora”, prosseguiu ele.

E confessou: “Estaria mentindo se dissesse que não adotei o costume local”.

Com certeza o contexto é importante na hora de avaliar esse tipo de mancada: é muito pior dar um perdido em um jantar íntimo que em uma exposição em uma galeria, sem nem direito a salgadinhos.

Que forças obscuras levam a pessoa a se comprometer com algo que sabe não poder cumprir? Uma celebridade ou VIP pode dizer que vai, principalmente se o evento for beneficente, para o anfitrião/organizador alardear sua presença. Outros o fazem na (desvairada) esperança de que um cataclisma altere os paradigmas, permitindo, assim, que compareçam ao compromisso.

Tanael Joachim, comediante de Manhattan, diz que pelo menos 75 por cento dos amigos do Facebook que dizem que vão, não aparecem. “Ninguém se compromete de verdade nas redes sociais. Se ninguém tiver que encarar as pessoas e ver como ficam irritadas, cria-se então uma cultura onde é muito fácil dar o cano.”

Quando se fica olhando para as cadeiras vazias e os salgadinhos intactos, é muito fácil culpar os hábitos da nova geração.

Para aqueles que raramente organizam eventos, é claro que a decepção é muito maior; tem gente, por exemplo, que vê escrito “répondez” e, pensando em restaurantes, acaba achando que significa “reservar lugar” e não “confirmar presença”.

A verdade, porém, é que o “sim” bem-intencionado não é um fenômeno recente, como afirma Jonathan Walsh, professor de Estudos Franceses do Wheaton College, que está traduzindo “Les Malheurs de l’amour”, romance escrito por Madame de Tencin em 1747, que se passa no início do século XVII.

“Quando a heroína entra para o ‘mundo em sociedade’, depois de ter sido educada em um convento, é cortejada por vários aristocratas, mas sua grande futura paixão, Barbasan, a princípio hesita porque os pais da moça são novos-ricos e ela claramente não está à altura de sua estirpe.”

“Ele titubeia porque não quer ser visto na casa dos pais da moça; o que fazer?”

“Põe o nome na lista, mas acaba não aparecendo.”

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