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Novo acordo para dívida da Grécia pede o fim das proteções para pequenas empresas como padarias e farmácias | Spyros Tsakiris/Associated Press
Novo acordo para dívida da Grécia pede o fim das proteções para pequenas empresas como padarias e farmácias| Foto: Spyros Tsakiris/Associated Press

Há quinze anos, Spyros Kyriakopoulos e seu parceiro assumiram uma pequena doçaria em Atenas e começaram a vender pães doces trançados chamados “tsourekia” e tradicionais biscoitos gregos.

Na época, Atenas crescia, o nível de vida na Grécia havia aumentado muito em apenas uma geração e os clientes de Kyriakopoulos estavam prestes a se tornar ainda mais prósperos com a adoção do euro pelo país.

No entanto, quando o governo grego aceitou neste mês outro acordo para resolver a sua crise da dívida e se manter na zona euro, pessoas como Kyriakopoulos aguardavam uma ampla gama de mudanças econômicas que certamente afetariam todos os aspectos da vida grega.

As alterações foram além de medidas de austeridade do governo, como reduzir aposentadorias ou elevar o imposto sobre valor agregado, e incluíram a desregulamentação de mercados fechados e profissões.

Para Kyriakopoulos, 49, isso significa que ele não estará mais protegido da concorrência graças à licença especial que possui para vender pão — uma das muitas mudanças que ele vê como prejudiciais não apenas para sua profissão, mas para um modo de vida.

“Não como profissional, mas como uma pessoa, acho que é melhor a padaria vender pão, nós vendermos doces e o supermercado vender outros produtos”, disse.

A Grécia é uma terra de pequenas empresas. Em quase todo o quarteirão, há uma farmácia bem cuidada exibindo uma cruz verde, um florista, uma padaria, uma doçaria, uma quitanda e, frequentemente, um açougue.

Mais de um terço dos gregos, de acordo com algumas estimativas, são autônomos, um modo de vida que se adapta à sua natureza antiautoritária e ao desejo por independência. Além disso, para alguns, é também uma maneira de preservar a cultura do bazar otomano, onde negociar o preço é um esporte e burlar impostos é bem-visto.

Para os defensores da austeridade da zona do euro, que querem coletar cada centavo dos impostos e abrir os negócios gregos para o mercado internacional, o legado do bazar otomano é um problema.

O novo pacote de austeridade, com o qual o governo grego concordou, inclui medidas que permitem que lojas abram aos domingo, a desregulamentação do leite e do pão, a abertura de profissões fechadas e a centralização de serviços que hoje forçam os gregos a passar por vários escritórios da burocracia bizantina do governo.

Alguns gregos acreditam que o novo pacote possa trazer melhoras à economia. Ainda assim, eles temem uma mudança na cultura grega, de uma sociedade altamente pessoal, baseada no bairro, para uma dominada por interesses corporativos impessoais.

“Nossos negócios são familiares, de bairro. Sei que posso dizer ao meu cliente o que ele não deve comprar, porque conheço os outros remédios que ele usa e conheço sua história”, disse Marilia Skarlatou no balcão de uma farmácia de esquina.

No entanto, sua colega, Anastasia Goumenou, disse que a concorrência pode reduzir os custos, e pessoas como ela podem conseguir sustentar seu próprio negócio.

“Secretamente esperamos que haja oportunidades para aqueles que não têm tanto capital para abrir o próprio negócio”, disse Anastasia.

Por outro lado, disse ela, os salários quase que certamente diminuiriam sob as novas medidas de austeridade e as pessoas já não teriam acesso a pequenos luxos, como tintura de cabelo orgânica e batons caros, dos quais as farmácias agora dependem.

Uma das mudanças mais radicais propostas pela União Europeia seria a liberação do trabalho no domingo. Hoje, a Grécia para aos domingos. No verão, as pessoas lotam as praias e se sentam em suas varandas. Algumas grandes cadeias, como a Ikea, abrem, mas só em determinados domingos.

Alexandra Yousef, 22, vendedora em uma cadeia internacional de lojas de vestuário, disse que ficaria triste se a Grécia perdesse seu domingo de repouso. “Nos acostumamos que o domingo é um dia em família”, disse Alexandra.

Para ela, o trabalho aos domingos ajudará somente os ricos.

“Essas regras começaram para ajudar as pequenas lojas, mas na realidade não ajudam. As pessoas vão para as grandes lojas de qualquer forma, e abrir no domingo só daria àqueles com dinheiro outro dia para passear por aí. Eu preciso de dinheiro, é por isso que trabalho. Mas não quero que seja assim.”

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