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Após a morte dos pais, Marin Alsop, da Sinfônica de Baltimore, emprestou à orquestra os violinos e o violoncelo que tocavam | Gabriella Demczuk /The New York Times
Após a morte dos pais, Marin Alsop, da Sinfônica de Baltimore, emprestou à orquestra os violinos e o violoncelo que tocavam| Foto: Gabriella Demczuk /The New York Times

Faz um ano que Marin Alsop, diretora musical da Sinfônica de Baltimore perdeu os pais, ambos músicos respeitados, em um espaço de onze dias – mas toda vez que sobe ao pódio para conduzir a orquestra, se vê cercada por lembranças dos dois.

À sua direita, o principal celista agora toca o violoncelo de trezentos anos feito pelo lutier italiano Carlo Antonio Testore que pertencia à sua mãe, Ruth Alsop, que foi membro de grupos de câmara e da Orquestra do Balé da Cidade de Nova York; à sua frente, o segundo violonista principal toca o Nicolas Lupot 1810 que foi de seu pai, K. Lamar Alsop, que durante muito tempo foi o concertino da orquestra do Balé da Cidade. À sua esquerda está o Guadagnini de 1763 que Ruth tocava com os pais quando era jovem. A decisão de Marin de emprestar os instrumentos aos músicos que dirige, além de ajudá-los, melhorou o som da primeira fileira e permite que continue ouvindo o som familiar dos instrumentos.

“De certa forma o som é como se fosse a voz deles. Durante a minha infância lembro de vê-los praticando horas a fio. Acho que ouvi mais seus instrumentos que suas vozes propriamente ditas”, conta ela depois de um ensaio dos trabalhos de Rachmaninoff e Respighi. E acrescenta: “Voltar a ouvi-los é muito reconfortante”.

Sua decisão acontece em um momento em que colecionadores e especuladores — e a lei da oferta e demanda — tornaram os preços dos grandes instrumentos inalcançáveis para a maioria dos músicos. Algumas orquestras emprestam para seus membros ou conseguem financiamento para que possam comprá-los, mas como estão cada vez mais caros e as instituições têm que manter o orçamento enxuto, o exercício pode ser um desafio e tanto.

Como diz Madeline Adkins, que toca o velho Guadagnini: “São poucas as áreas em que os melhores não têm condições de adquirir os melhores equipamentos”.

A solução do financiamento indica também que, uma vez que tantas orquestras norte-americanas passaram a enfrentar dificuldades, os próprios diretores intervieram pessoalmente. No ano passado, quando a turnê da Sinfônica de Atlanta no Carnegie Hall de Nova York ficou ameaçada por causa de dificuldades financeiras, seu diretor musical, Robert Spano, ajudou fazendo uma doação pessoal. Marin também auxilia não só sua orquestra, mas a comunidade, usando parte do dinheiro que ganhou com a bolsa da MacArthur, em 2005 — também conhecida como “subvenção de gênios” — para ajudar a fundar o OrchKids, programa que ensina música a centenas de crianças nos bairros mais pobres da cidade. Além disso, recentemente doou US$100 mil, em nome dos pais, para marcar o centenário da orquestra, que será no ano que vem.

“Eu aposto em investir naquilo em que se acredita e fazer as coisas acontecerem”, diz ela.

Ao contrário de outras peças preciosas herdadas, os instrumentos musicais não podem ficar guardados. Segundo o celista principal, Dariusz Skoraczewski, para quem o violoncelo de Ruth Alsop é “o melhor instrumento” que já tocou na vida, eles precisam ser usados para se manterem em forma.

“Tem alguma coisa na madeira que precisa ser exercitada, como os músculos. Ou como um carro que, se ficar parado dois anos, por exemplo, não terá a mesma partida. Os instrumentos também são assim.”

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