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No Eatsa, em San Francisco, clientes fazem o pedido, pagam e recebem a comida sem falar com ninguém. | Jason Henry/The New York Times
No Eatsa, em San Francisco, clientes fazem o pedido, pagam e recebem a comida sem falar com ninguém.| Foto: Jason Henry/The New York Times

Há um novo restaurante em San Francisco especializado em quinoa onde a clientela faz o pedido, paga e recebe a comida sem fazer nenhuma interação humana. O Eatsa, primeira unidade de uma empresa com ambições de criar uma rede nacional nos Estados Unidos, está quase totalmente automatizado.

Não há garçons nem um simples funcionário tirando pedidos atrás de um balcão.

Aliás, não há nem balcão.

O que há são pessoas invisíveis que ajudam a preparar a comida, embora esse processo também possa ser inteiramente automatizado no futuro, se isso representar custos menores.

Para os otimistas, trata-se de tornar a ida ao restaurante mais eficiente e mais barata. Para os pessimistas, é o mais recente exemplo de como as máquinas estão roubando os empregos humanos. De qualquer maneira, não deixa de ser um paraíso para misantropos ou para quem está com pressa demais para conversar com um atendente.

“Eu chamaria de outra coisa que não um restaurante”, disse o dono do Eatsa, David Friedberg, empresário do setor de software. “É mais como um sistema de entrega de comida.”

Num dia recente, entrei numa fila que andava com rapidez e consultei numa tela o menu composto por oito pratos de quinoa servidos em tigelas, ao preço de US$ 6,95 cada um (entre as especialidades: burrito, combinado japonês e beterraba balsâmica). Aí me aproximei de um iPad onde anotei meu pedido, fiz observações sobre o preparo desejado e paguei.

Meu nome, copiado do cartão de crédito, apareceu em outra tela. Quando a minha comida ficou pronta, um número apareceu ao lado dela. Ele correspondia a um cubículo onde a minha refeição logo se materializou.

Se é bom para a economia que um restaurante empregue tão pouca gente é outra questão.

Os restaurantes, especialmente os fast-foods, são tradicionalmente lugares onde trabalhadores menos qualificados podem encontrar emprego.

A maioria dos funcionários não ganha bem, embora em San Francisco as empresas de determinado porte precisem pagar plano de saúde e, a partir de 2018, um salário mínimo de US$ 15 por hora.

Friedberg disse que não foi por isso que sua empresa automatizou tantas funções. “A tecnologia nos permite repensar completamente a forma como as pessoas obtêm seus alimentos”, disse ele.

A automação, em formas rudimentares, já faz parte de muitos restaurantes. Reservas são feitas on-line, pedidos chegam à cozinha eletronicamente e contas são pagas com um toque num iPad.

Restaurantes com garçons de verdade podem vir a se tornar algo diferenciado, para ocasiões em que o cliente busca ambiente e atendimento mais refinados.

“Qual percentual das nossas interações humanas atuais irá permanecer como interações humanas à medida que a tecnologia realmente avançar?”, questionou Andrew McAfee, um dos fundadores da Iniciativa de Economia Digital do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e coautor do livro “A Segunda Era das Máquinas”.

“Acho que, no caso de muitas das refeições que eu desejarei fazer nos próximos cinco anos, se eu não precisar lidar com uma pessoa, isso não terá um saldo negativo para mim.”

Friedberg, vegetariano a vida toda e um apaixonado difusor da quinoa, disse que o importante para ele não era abrir um restaurante sem funcionários. Seu objetivo, disse, era inaugurar um lugar de fast-food que fosse mais rápido, mais saboroso e mais barato que os concorrentes. Ele e sua equipe concluíram que a automação permitiria isso.

A quinoa “é uma forma muito mais eficiente de fornecer proteína às pessoas do que a proteína animal”, afirmou o empresário. Ele acredita que a mudança de gosto do consumidor permitirá alterar a economia agrícola moderna, voltada em grande parte para a criação animal.

“O objetivo é que, com o passar do tempo, queiramos automatizar cada vez mais, a fim de aumentar a velocidade e reduzir custos, de modo a criarmos um produto alimentício que seja muito mais barato e que por acaso também seja saudável”, afirmou.

Ao não contratar funcionários para o salão do restaurante, disse ele, a empresa reduz custos imobiliários e trabalhistas —embora sempre haja pelo menos uma pessoa para ajudar a clientela a usar os iPads e para limpar as mesas. A cozinha também é automatizada, mas ele se recusou a revelar como.

O Eatsa traz à mente os “autômatos”, restaurantes sem garçom que são uma mistura de lanchonete e máquina de vendas, ainda encontrados no Japão e em algumas partes da Europa. Friedberg diz que o Eatsa vai muito além disso, pois usa softwares e inovações na cadeia de suprimentos para alterar fundamentalmente a forma de gestão do restaurante.

Ele se posiciona firmemente no lado dos otimistas que consideram a automação benéfica para o conjunto da sociedade, mesmo que isso doa a alguns.

“Raramente houve uma mudança tecnológica em que as pessoas não se queixassem de que a tecnologia estaria substituindo os empregos das pessoas”, disse ele. “A verdade é que o crescimento econômico decorrente das novas tecnologias sempre resulta em novas atividades econômicas e novos empregos.”

“Podemos sentar e debater o dia todo sobre quais seriam as implicações disso para trabalhadores mal remunerados de restaurantes, mas não acho que seja justo. Se o aumento da produtividade significar uma economia de custos repassada aos consumidores, estes terão muito mais para gastar em várias coisas.”

O Eatsa também poderia gerar novos postos de trabalho, disse ele, como a fabricação de máquinas para a automação e sistemas de software —ou então o cultivo de quinoa.

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