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Programa com veículos submersíveis tripulados comandado por Terry Kerby sofre cortes orçamentários. | Kent Nishimura/The New York Times
Programa com veículos submersíveis tripulados comandado por Terry Kerby sofre cortes orçamentários.| Foto: Kent Nishimura/The New York Times

Entrar no hangar do Laboratório de Pesquisas Submarinas do Havaí é como pisar num set de filmagem. A estrutura metálica não tem nada de especial, mas é ali que ficam dois submarinos “Pisces”, com seis metros de comprimento cada um, que parecem naves alienígenas.

O laboratório, conhecido pela sigla HURL e parte da Universidade do Havaí, é desde a década de 1980 o único posto avançado dos EUA no Pacífico para pesquisas em mares profundos com uso de aparelhos submersíveis. Quem está à frente dele é Terry Kerby. Com uma tripulação de cinco pessoas, ele e os submarinos “Pisces” já descobriram mais de 140 naufrágios e artefatos, recuperaram dezenas de milhões de dólares em equipamentos perdidos e examinaram atóis e montes submarinos.

No entanto, hoje Kerby enfrenta a possibilidade de ver sua frota ser aposentada, reflexo tanto da escassez de verbas quanto do uso de robôs. Os submarinos robóticos podem permanecer durante vários dias embaixo d’água, atingindo profundidades extraordinárias e transmitindo imediatamente suas conclusões aos cientistas.

Muitos cientistas argumentam, no entanto, que estudar as profundezas sem a observação humana direta é um problema. “Não dá para substituir um Terry Kerby por um robô”, disse Andy Bowen, do Instituto Oceanográfico Woods Hole (Massachusetts).

Hawaii Undersea Research Lab

Kerby, 65, pilota veículos submersíveis em Makai há cerca de quatro décadas. Ele começou sua carreira em meados dos anos 1970, recolhendo corais. Depois, foi para a Universidade do Havaí e para a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), que havia adquirido a instalação de Makai para expandir as capacidades dos EUA em mares profundos.

Em 1985, Kerby descobriu o submersível “Pisces 5” ocioso em Edimburgo e convenceu a universidade a pagar US$ 500 mil por ele. A junção do “Pisces” ao navio de pesquisas “Ka’imikai-O-Kanaloa”, da Universidade do Havaí, e a uma plataforma submersível de pesquisas de construção própria permitiu que Kerby realizasse missões que seriam duras demais para outros veículos. Em 2000, ele adquiriu do Canadá um submarino-irmão, o “Pisces 4”, por US$ 80 mil.

Kent Nishimura/The New York Times

“O que o programa ‘Pisces’ faz, apesar da pouca verba e do pouco reconhecimento, é incomparável”, disse Sylvia Earle, ex-cientista-chefe da NOAA. “É desconcertante que não recebam mais verbas.”

Em 2013, a NOAA anunciou que deixaria de financiar o programa “Pisces”. O HURL só tem dinheiro para mantê-lo até o começo de 2016. Depois disso, a universidade poderá ser obrigada a vender os submersíveis. “Restam em operação no mundo apenas oito submarinos para mergulhos profundos”, ou seja, capazes de descer 2.000 metros ou mais, disse John Wiltshire, diretor do HURL. “Por isso, estamos prestes a perder um quarto da frota mundial.”

O que mudou? Para o oceanógrafo Robert Ballard, esse processo começou num mergulho que ele fez em 1977 a bordo do submersível “Alvin”, na costa das ilhas Galápagos. Ballard observou que um colega seu prestava mais atenção ao monitor de vídeo do que às escotilhas. Ballard disse que posteriormente percebeu que os veículos robóticos poderiam fazer o mesmo trabalho por menos dinheiro. Ele convenceu a Marinha a financiar dois veículos de exploração por controle remoto, o “Argo” e o “Jason”, para serem usados no Woods Hole. Desde então, houve uma proliferação dos veículos por controle remoto para atividades profundas de exploração, mineração e perfuração.

A atividade da NOAA em mares profundos está concentrada em duas embarcações: a “Okeanos Explorer” e a “E/V Nautilus”. O “Nautilus” tem um veículo submarino autônomo que segue uma rota programada e dois submersíveis atrelados e guiados por controle remoto.

Ballard descreveu uma recente expedição do “Nautilus” que enviou seus veículos submersíveis a quatro quilômetros de profundidade, dentro da Fossa Cayman. Num mergulho com piloto, a descida e a subida levariam seis horas cada uma, deixando poucos minutos para a exploração no fundo do mar. “Agora estamos indo a 20 mil pés [seis quilômetros] e passando dias lá embaixo”, afirmou ele.

Para a maioria dos oceanógrafos, incluindo Kerby, os robôs claramente venceram a guerra em alto-mar. Agora, a questão é saber se os fatores que ainda pesam a favor da exploração com pilotos humanos serão descartados.

Bowen, que supervisiona os programas robóticos e tripulados de Woods Hole, diz que a exploração com pilotos ainda traz muitos benefícios. Levando-se em conta todos os fatores no mar —correntes, sons, formações geológicas, interações entre animais e seu ambiente—, os seres humanos ainda estão em condições melhores de sintetizar o que está ocorrendo, segundo ele. “Ouvimos isso o tempo todo dos pesquisadores que analisaram os vídeos e as telas de dados do ‘Jason’, mas depois também desceram com o ‘Alvin’. É impressionante como é diferente a sua percepção do ambiente.”

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