• Carregando...
Pesquisador em uma vala comum, provavelmente medieval, que foi descoberta no centro de Paris. | Denis Gliksman/Inrap
Pesquisador em uma vala comum, provavelmente medieval, que foi descoberta no centro de Paris.| Foto: Denis Gliksman/Inrap

Passando as gôndolas de acessórios para o cabelo no térreo do supermercado Monoprix, na esquina da Rue Réaumur e o Boulevard de Sébastopol há uma porta em que se lê: “Entrada permitida somente para funcionários”.

Entrando por ali e virando à esquerda, há que se descer uma escada de metal até o porão. Deixe os estrados empilhados de garrafas de suco e refrigerante para trás, desça mais um lance de escada e você encontrará um lembrete sombrio da história de Paris: uma vala comum, com filas e mais filas de esqueletos medievais. No total, são 316. Arqueólogos acreditam que a descoberta, feita em janeiro, seja parte do Hôpital de la Trinité que, na Idade Média, funcionava ali perto.

Paris ainda está repleta de tesouros arqueológicos não descobertos. “Cada escavação é um verdadeiro evento, mas um cemitério é ainda melhor porque se trata de amostras reais da população; quase sempre a gente se depara só com construções”, diz Boris Bove, um dos autores de um livro sobre a capital francesa nos tempos medievais.

Diplomas falsos vendidos em escala global

Empresa paquistanesa aplica golpes criando falsas universidades de ensino à distância

Leia a matéria completa

Os esqueletos foram escavados por uma equipe do Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva, ou Inrap, liderada por Isabelle Abadie.

“Há bebês, crianças novinhas, adolescentes, adultos, homens e mulheres, pessoas de idade. São vítimas de uma crise de mortalidade, isso é fato”, explica ela.

Os restos mortais foram encontrados em oito valas distribuídas em mais de 90 metros quadrados, algumas com pilhas de até cinco cadáveres. Na cova maior, 175 corpos estavam alinhados ordeiramente, um ao lado do outro, dos pés à cabeça. Já os que foram encontrados nas outras, menores, estavam simplesmente amontoados – sinal, talvez, da pressa para enterrá-los durante uma epidemia que se agravou.

Isabelle Abadie ainda não sabe dizer quando ou como os corpos foram enterrados.

“Pode ter sido a peste, pode ter sido a fome, podem ser várias coisas – mas não há sinais de trauma, ou seja, as mortes não estão ligadas a um ato de violência ou guerra”, esclarece.

Gueixas se abrem a estrangeiros

Algumas das tradicionais casas de chás japonesas passaram a aceitar visitantes de fora do país e desacompanhados

Leia a matéria completa

Paris foi atingida pela peste por volta de 1340. “Não podemos falar em números absolutos, mas pode ser muito provável que a cidade tenha perdido quase trinta por cento da população”, conta Bove.

Pierre Vallat, vice-diretor regional do Inrap, conta que o Hôpital de la Trinité foi construído fora dos limites da cidade, no início do século 13. O conteúdo de muitos cemitérios medievais foi transferido para as catacumbas de Paris, no final do século 18, embora alguns restos mortais nesse local tenham sido ignorados quando a instituição fechou as portas, durante a Revolução Francesa, e em 1812, quando foi desativado.

A oportunidade de estudar os cadáveres de quem viveu na capital resultará em informações valiosas sobre as decisões dos que tinham o poder e como elas afetaram a população. “Esse hospital testemunhou a história da França; não só dos ricos e famosos, mas de todo mundo. Isto aqui não é Versalhes”, conclui Vallat.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]